A Porto da Pedra desfilou na madrugada deste sábado para domingo na Marquês de Sapucaí com o enredo “A História que a Borracha do Tempo Não Apagou”, sobre a cidade de Fordlândia, em busca da ascensão ao Grupo Especial. Os passistas, com a alcunha de “Batalhão Opressor”, encarnaram os trabalhadores seringueiros.
“Os passistas representam os soldados da borracha. São os seringueiros que adentravam a floresta. As seringueiras nascem naturalmente muito distantes, então eles iam para dentro da floresta com a intenção de buscar o látex. Tem essa pressão de você se submeter a condições quase sobre-humanas com o objetivo de trazer a riqueza e, nesse caso, riqueza para o exterior”, explicou o carnavalesco da escola Mauro Quintaes.
“A importância é relembrar esse episódio escravista. Mesmo eles sendo trabalhadores, estavam sendo forçados, e a nossa fantasia, logo na nossa cabeça, está representando uma luz onde ele botava sobre a cabeça deles uma lanterna para que pudessem enxergar. Eles trabalhavam de dia e de noite para gerar lucro para alguém, e esse alguém não se importava com a força, com a importância do ser humano”, disse o decorador Gleison Monteiro, de 29 anos, que completou, em 2025, seu sétimo ano como desfilante.
Fordlândia foi uma cidade planejada às margens do rio Tapajós, no Pará, para receber um complexo de extração seringueira. O intuito era a fabricação de borracha para pneus da empresa automobilística americana Ford. O dono, Henry Ford, no entanto, estabeleceu um regime de exploração agressivo ao meio ambiente e à população local, que entrou em rápido declínio. Hoje, a cidade está abandonada. A floresta se impôs sobre aqueles que, um dia, quiseram submetê-la.
“Hoje a Porto da Pedra tem a oportunidade de denunciar essa situação histórica. Graças a Deus, o nosso carnavalesco trouxe essa visão para nós e, consequentemente, estamos mostrando o que realmente é a história da borracha”, afirmou o administrador Carlos Oliveira, de 36 anos, no quarto ano desfilando pela Porto da Pedra.
“O enredo é sobre a gente tomar posse daquilo que é nosso, mesmo sendo roubado, conquistado. Mesmo com toda a fábrica, mesmo sendo algo lucrativo, graças a Deus, a floresta em si conseguiu tomar posse daquilo que é dela mesma”, resumiu Gleison.
“Eles eram praticamente escravizados, mas, para a gente criticar esse lado, temos que ser uma coisa melhor, porque a escravidão já passou. Nós temos que assinar carteira de trabalho, tudo direitinho, porque assim a cidadania cresce”, defendeu a dona de casa Jéssica da Conceição, de 34 anos, que desfila como passista na Porto da Pedra há cerca de 15 carnavais.
Pouco antes do início do desfile, na concentração, os passistas se mostravam animados e confiantes.
“A escola vem com muita garra, com muita força. Vem com um canto muito forte, uma evolução muito forte. Hoje dá para perceber que os carros vêm bem bonitos, muito bonitos. A nossa vontade, nosso querer, é de retorno ao Grupo Especial. Eu creio que a Porto da Pedra tem tudo para ser vencedora”, opinou Gleison.
“Nós vamos, pelo menos, passar bem na avenida, e eu creio, em nome de Jesus, que nós vamos subir para o Grupo Especial”, finalizou Jéssica.