No carnaval de 2025, Douglinhas Aguiar e Serginho do Porto defenderão juntos o Águia de Ouro pela oitava vez no Anhembi como intérpretes oficiais. A função costumeiramente solitária de garantir o bom andamento do samba e estimular, através da voz, os desfilantes a participarem de um dos maiores corais que existem no mundo, talvez nunca tenha sido exercida tantas vezes por uma mesma dupla. No dia da gravação oficial do Águia de Ouro para o álbum oficial do carnaval de 2025, o CARNAVALESCO conversou com os artistas para conhecer as relações de trabalho com a escola e saber detalhes sobre essa amizade de mais de duas décadas firmada na admiração e confiança entre Douglinhas e Serginho.
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Como é trabalhar em uma escola em que o presidente é também presidente da Liga-SP? Tem alguma pressão em torno disso?
Douglinhas: “Tem um pouco de pressão sim. Como o Sidnei é presidente do Águia e da Liga, nós sempre temos que ser vistos como exemplo de organização, de pontualidade, de fazer todas as coisas na forma correta. A gente não pode errar porque também é o nome do presidente que está em jogo”.
Serginho: “Eu acho que isso já vem lá de trás, de toda essa construção do Águia de Ouro até chegar ao momento em que está. A escola que veio de baixo de um viaduto e que hoje tem uma quadra imensa. Você sabe que é organização, essa organização vem dele e vindo dele a gente tem que seguir o mesmo exemplo porque as pessoas têm que ver. Pelo trabalho que ele faz na Liga e que faz no Águia de Ouro, a gente dá continuidade com o mesmo carinho e com a mesma responsabilidade que ele tem”.
Como é a relação de vocês com a bateria do Águia de Ouro?
Douglinhas: “Eu comecei a tocar no Águia de Ouro em 1984, e eu tocava junto com o Juca. Ele tocava caixa e eu também. Nossa amizade é muito, muito longa. Além disso, o Juca é meu compadre eu sou padrinho da filha dele. É uma amizade já de muito tempo”.
Serginho: “Se eu estou com 25 anos aqui, imagine só. Quando eu cheguei, eles já tinham 10 anos de casa. Ele tem 35 e eu 25 anos de casa. É maravilhoso tocar com a ‘Batucada da Pompéia’, com o mestre Juca e com toda essa rapaziada que está aí. A gente tem uma coisa muito boa porque quando a gente precisa de alguma coisa, a gente desce, conversa, volta e tudo dá certo. Isso é uma coisa que deixa a gente feliz. Você sabe que o ritmo e o canto, eles têm que andar junto para que o desfile seja um desfile harmônico”.
Vocês são uma das duplas de intérpretes que há mais tempo atuam juntos na história do carnaval como intérpretes oficiais. Qual é a diferença do trabalho em dupla no comando do samba?
Serginho: “Nós cantamos no Águia de Ouro, no Império da Tijuca, na Estácio de Sá e na Caprichosos de Pilares, em todas essas aí juntos. Uma coisa muito boa que tem entre nós dois é que não temos vaidade. Cada vez mais as pessoas acham até que nós somos irmãos, chamam a gente de Cosme e Damião”.
Douglinhas: “Acho que de outras vidas podemos até ter sido mesmo”.
Serginho: “A gente se entende, sabe o que um quer, o que o outro não quer, isso é muito bom. Quando você faz alguma coisa com tranquilidade e está do lado de uma pessoa que você sabe que tem a tranquilidade para você fazer o trabalho, isso nos deixa felizes. E a gente não tem vaidade, a única coisa que a gente sempre quer e a gente sempre bota na cabeça é o Águia de Ouro estar em primeiro lugar para poder fazer a caminhada dela”.
Douglinhas: “É isso aí. Fazer um trabalho honesto, com tranquilidade, com alegria e com irmandade”.
Quais são as virtudes que vocês enxergam um no outro?
Douglinhas: “Eu sou suspeito de falar porque quando o Serginho veio para o Águia eu já era fã dele, já era fã de quando ele cantava lá no Rio. Acho que a virtude dele é uma voz extremamente potente, é um canhão cantando. Serginho é um canhão. Eu elenco uns quatro assim: Serginho, Tinga, Dominguinhos do Estácio e Neguinho da Beija-Flor. São os caras que eu tenho de referência de potência de voz e de durabilidade, porque ao cantar samba-enredo você não vai cantar duas vezes, você vai cantar na Avenida umas quarenta vezes, e eles têm essa resistência. É um negocinho invejável, é talento, é dom. Quando nasce, Deus fala: ‘ah, é você’. Eu admiro isso demais nele”.
Serginho: “No meu irmão, no irmão que Deus me deu, o Douglinhas tem uma coisa muito boa: é músico. Uma coisa completa a outra. É músico, tem o ouvido apurado. De parte de melodia, de botar: ‘não é aqui’, ‘não faz isso aí’, ‘esse caminho aqui’. A gente acaba sendo uma pedra que precisa ser lapidada. Ele é o diferente, ele já é o diamante que está lapidado e ele consegue fazer a coisa tomar um outro caminho. Ele tem a suavidade, e a suavidade é que coloca a harmonia. Muitas das vezes a potência não faz isso, mas a suavidade faz as coisas se encaixarem. Por isso que, graças a Deus, as coisas dão super certo entre nós dois”.
Qual é o samba da vida de vocês?
Douglinhas: “Um samba só eu acho que é difícil falar. São tantos carnavais. Quantos anos de carnaval você tem Serginho?”
Serginho: “Eu, trinta”.
Douglinhas: “Eu também, eu acho que trinta, trinta e poucos anos. Seria injusto falar um. Essa pergunta eu vou passar”.
Serginho: “Também, cara. Tem sambas que marcaram a vida da gente. Eu acredito que, para o Douglinhas, o mais especial é o título do Águia de Ouro de 2020, não é?”
Douglinhas: “Mas tem outros também que foram importantes”.
Serginho: “Que marcaram. A gente não tem como pegar um samba aqui e falar assim: ‘ah, é esse aqui’. Tem tanta coisa que a gente já passou na Avenida. Eu já fui para a Avenida com o cara falando assim: ‘pô, o pior samba’, e quando acabou o desfile, era o melhor desfile. É muito complicado você relacionar um só. Agora, se você perguntar para a gente assim: ‘qual é o samba que mais você passou bem na Avenida cantando?’, aí eu vou abrir meu coração e me vestir de preto e branco, botar uma cruz de malta no peito e falar que foi o do Vasco da Gama porque eu sou Vasco. Aí não tem como, eu vou falar isso, que ele é importante. Mas um dos desfiles que eu tenho uma grande lembrança aqui, dois desfiles para mim. Foi em 2001, que foi o ‘Salém’, no primeiro ano em que a gente cantou junto e o de 2002 porque também foi um senhor desfile em homenagem a Mário de Andrade. É muita coisa boa, para mim isso aí foi maravilhoso”.
Dos sambas que vocês já viram passar na Avenida e que vocês não cantaram, se tivessem a oportunidade de cantar, qual seria esse samba?
Douglinhas: “De que escola que é? ‘E eles verão a Deus…’
Serginho: “Unidos da Ponte (1983)”.
Douglinhas: “’… Num sonho que fizeram seu sonhar’. Esse samba é lindo, cara. ‘E eles verão a Deus, a Deus. Razão de todo o seu imaginar. Hoje a natureza canta…’. Esse samba é fantástico”.
Serginho: “E o meu, em 1970, eu era moleque. A Portela tinha sido campeã do Carnaval. A gente morava em Madureira, meu pai me levou para ver o desfile e dali em diante ficou. Para mim é um dos melhores sambas. ‘Nesta Avenida colorida. A Portela faz seu Carnaval. Lendas e mistérios da Amazônia. Cantamos neste samba original. Dizem que os astros se amaram.’ Maravilhoso”.