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Arranco leva o trabalho de Nise da Silveira para a avenida em desfile com visuais criativos e boa participação da comunidade

Locomoção lenta do último comprometeu evolução, mas canto da comunidade foi destaque

Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini

O Arranco do Engenho de Dentro foi a terceira escola a pisar na avenida no segundo dia de desfiles da Série Ouro. A aposta em soluções estéticas diferentes deu certo e a escola demonstrou extremo bom gosto no uso de materiais alternativos para compor seu conjunto visual, com destaque para as fantasias. Foi a estreia do carnavalesco Nícolas Gonçalves na agremiação e a escolha se mostrou um grande acerto, desde a escolha do enredo até a apresentação na noite deste sábado. Além da criatividade, vale destacar também o trabalho harmônico realizado, o entrosamento do carro de som e bateria impulsionou o samba-enredo e fez com que a comunidade passasse de forma leve, espontânea e feliz. Como pontos de atenção fica a evolução na parte final do desfile, o último carro se locomoveu com dificuldades e abriu um buraco em frente ao setor seis. A comissão de frente, apesar de uma boa proposta, teve problemas de execução.

Apresentando o enredo “Nise – reimaginação da loucura”, desenvolvido pelo carnavalesco Nícolas Gonçalves, a escola do Engenho de Dentro levou o trabalho revolucionário da psiquiatra Nise da Silveira sobre a loucura e o tratamento através da cultura e da arte para a avenida. A agremiação terminou sua apresentação com 54 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada pela dupla Karen Ramos e Suellen Gonçalves foi intitulada “Manicômio Nunca Mais!”, no total foram 15 componentes divididos entre oito mulheres e sete homens. A comissão foi uma verdadeira síntese do enredo, os componentes foram divididos em médicos psiquiatras e usuários do sistema de saúde mental em um dos mais cruéis métodos adotados na época: a imobilização por camisa de força. Em um primeiro momento da apresentação, a comissão mostra o sofrimento dos pacientes antes da chegada de Nise da Silveira no antigo Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, a escola utilizou macas como elementos cênicos, a proposta se mostrou um acerto, porém, a execução de alguns movimentos não foi precisa.

A ideia da comissão era mostrar a transformação do tratamento psiquiátrico a partir da arte, no início os componentes estavam com roupas claras, sem apresentar brilho, a mudança ocorre e os pacientes ganham vida e cores. Eles utilizaram panos coloridos e fizeram um efeito interessante. Porém, na apresentação do setor três, ao utilizar as maçãs para mostrar as telas, faltou sincronismo, ao final, a frase “manicômio nunca mais” não ficou clara.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Yuri Souzah e Gislaine Lira, representou de maneira simbólica aquilo que há de mais precioso em cada um: a mente. A fantasia foi um primor e o casal se apresentou de forma solta em todas as cabines de julgamento. Juntos pelo segundo ano, o casal demonstrou uma boa sintonia e confiança nos movimentos, apesar do vento, Gislaine conseguiu manter a bandeira desfraldada em todas as apresentações, no setor três a bandeira quase ficou presa, mas ela conseguiu desvencilhar. No geral, foi uma passagem tranquila do casal.

Enredo

O jovem carnavalesco Nícolas Gonçalves foi o responsável por desenvolver o enredo “Nise – reimaginação da loucura”, uma homenagem merecida à Nise da Silveira, mulher brasileira mundialmente reconhecida pelo papel revolucionário que desempenhou no campo da saúde mental.

Nícolas optou por contar o enredo através de três setores, sendo eles: “Primeiro Quadro – A Batalha de Nise”, “Segundo Quadro – Imagens do Inconsciente” e “Terceiro Quadro – Legado da Reimaginação”.

Alegorias e Adereços

No total foram apresentados um pede passagem e três alegorias, a proposta visual fugiu do óbvio e o carnavalesco levou para a avenida um projeto estético diferente, com muitos materiais alternativos. Apesar de problemas de acabamento, o enredo foi apresentado de forma clara.

O carro abre-alas, intitulado “A Batalha no Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro”, representou a figura mitológica do afeto como símbolo de todos os que lutaram contra o sistema antimanicomial, como decoração foram utilizadas caixas de remédio. A segunda alegoria, “Imagens do Inconsciente”, mostrou o processo de abstração e reorganização da realidade, por meio da pintura e arte. Para finalizar, a escola levou para a avenida o carro “Reimaginar o Insano Universo”, onde reimaginou o mundo e o universo utilizando a figura mitológica do Rei Momo, fitas metalizadas compuseram a alegoria e iluminação foi o grande destaque, nos momentos em que a luz do sambódromo diminua, a alegoria se destacava.

Fantasias

A escola levou para a avenida 17 alas e o apuro estético do carnavalesco ficou evidente, Nícolas abusou da criatividade para fugir do óbvio e entregar um trabalho extremamente autoral. O conjunto visual se destacou desde o início do desfile e o uso de muitas cores permeou toda a escola. As fantasias que antecederam o abre-alas tinham muito volume e matérias diferentes do habitual, como por exemplo a ala um, “Estilhaçar do ego”. Ao longo do desfile outras fantasias se destacaram, como a cinco, “Vazio das telas do manicômio”, em que os componentes pareciam estar dentro de uma tela de pintura. A fantasia que sintetizou toda a criatividade do carnavalesco foi a última, “Bate bolas de novos mundos”, ele fugiu do óbvio e entregou uma fantasia leve, de fácil assimilação.

Harmonia

Um acerto do início ao fim, assim pode ser definido o conjunto harmônico do Arranco no desfile desta noite, o samba funcionou e o entrosamento da bateria de mestre Gilmar com os cantores oficiais Thiago Acácio e Pâmela Falcão foi nítido. Apesar da escola não desfilar com muitos componentes, o canto foi satisfatório, todas as alas passaram pela avenida felizes, brincando e cantando o samba. O verso “O Rei Momo avisou: Que “o meu Arranco é todo amor!” foi um dos destaques, assim como o refrão principal através do verso “Não é delírio não, é felicidade!”

Samba-Enredo

O samba de autoria dos compositores Dilson Marimba, Gegê Fernandes, Nego Viny, Niu Souza, Robson Ramos e Vinícius Xavier passou pela avenida com muita energia, desde os primeiros acordes a obra mostrou suas qualidades e recebeu um ótimo retorno do público presente na Sapucaí. O enredo proposto foi contato de forma clara na letra do samba, os quadros que a escola propôs mostrar na avenida estão presentes em cada parte da obra.

A dupla de intérpretes Thiago Acácio e Pâmela Falcão esbanjaram sintonia, a voz dela inclusive teve um ótimo destaque. A parceria deles com a bateria de mestre Gilmar também foi fundamental para que a obra passasse pela avenida com êxito.

Evolução

O Arranco enfrentou problemas em sua evolução, apesar do início do desfile não apresentar problemas graves, um problema de locomoção no último carro acarretou em buracos extensos em frente à dois módulos de julgamento, no setor seis e 10. Apesar desses problemas, o desfile foi fluido, componentes se divertiram e passaram pela avenida de forma solta, mas organizada. A única ala que destoou foi a penúltima, “Bordando galáxias, costurando universos”, além de espaçada, alguns componentes da frente não conseguiram manter o alinhamento.

Outros Destaques

O enredo apresentado se mostrou um grande acerto, a história de Nise da Silveira e sua contribuição no campo da saúde mental merecem todo o destaque. Assim como a estreia do carnavalesco Nícolas Gonçalves, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, o jovem artista entregou um trabalho autoral e de muita criatividade.

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