Por Rafael Soares e fotos de Nelson Malfacini
A escola foi a primeira a se apresentar na Marquês de Sapucaí neste sábado de carnaval da Série Ouro. A azul e branco levou o enredo “4 de Dezembro” para a avenida. O desfile da agremiação ficou marcado pelos inúmeros problemas de evolução, com muitos buracos abertos em vários pontos da pista, inclusive em frente às cabines de jurados, por conta da dificuldade de locomoção das alegorias. Os carros eram simples ao extremo, em sua maioria, mas não tinham grandes defeitos aparentes. As fantasias também eram simples, e na parte mais bonita da escola, elas se repetiam em formatos e soluções, gerando dificuldade na leitura do enredo. Outro ponto negativo foi a apresentação de comissão de frente, com um número cheio de elementos, se tornando bem confusa, além de um tripé mal acabado, com ferros aparentes. O casal de mestre-sala e porta-bandeira teve uma atuação segura e suave, em uma dança bem tradicional. A parte musical da agremiação foi bem defendida, com canto satisfatório dos componentes, e desempenho de qualidade dos cantores e da bateria.
Comissão de Frente
Com o nome de “A Santa e o Pagador de Promessas”, a comissão de frente assinada pelo coreógrafo Carlos Bolacha trouxe um grupo de componentes homens e mulheres, além de um tripé em que ocorria boa parte do número. Esse elemento chamava a atenção pelo acabamento precário, que deixava ferragens aparentes. Quando a igreja girava, os integrantes também apareciam, tirando o elemento surpresa. Alguns estavam com pintura corporal vermelha e chifres. Outros representavam retirantes, com um deles carregando uma cruz. A pivô da comissão era a bailarina que representava Oyá. A dança não foi tão forte quanto deveria e também não mostrou muita sincronia, com integrantes esbarrando. Ao final da apresentação, uma componente aparecia no topo do tripé, sendo Santa Bárbara. Uma comissão que muito fez, mas não conseguiu passar uma mensagem clara.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Yago Silva e Lohane Lemos, veio com uma fantasia de nome “O Segredo do Fogo”, representando Oyá e Xangô, unidos pelo domínio sobre os segredos e magias do fogo. A indumentária era brilhante, nas cores vermelho e branco. A apresentação foi bem segura, com giros firmes de Lohane e muita graça e expressividade de Yago. A dança foi tradicional, com poucos elementos coreografados com base no samba. Um dos poucos pontos de real destaque da agremiação.
Samba-Enredo
O samba do Sereno tem uma letra que descreve bem o enredo, explicando a relação entre Oyá e Santa Bárbara na manifestação de 4 de dezembro em Salvador. A melodia é pesada e valante, com algumas variações para impulsionar o canto. Composto por Claudio Russo, Jaci Campo Grande, Sérgio Alan, André Baiacu, Beto BR L&L, Fabinho Rodrigues, Marcelinho do Cavaco, Reinaldo Chevett, Aurélio Brito e Fábio Bueno, a obra musical teve bem satisfatório rendimento na avenida. Os intérpretes Igor Pitta e Antônio Carlos mostraram um ótimo desempenho ao cantar o samba, embalados pela bateria de mestre Vinícius.
Harmonia
A comunidade do Sereno teve um canto de bom nível em seu desfile, apesar de não ter sido explosivo. O principal trecho entoado pelos componentes foi o refrão principal. Algumas alas do segundo setor do cortejo tinham seu canto prejudicado pelos adornos da fantasia na frente do rosto. Na primeira parte, as alas “A Paixão de Xangô” e “A Senhora dos Eguns” tiveram uma harmonia bem satisfatória, que se perpetuou por boa parte do desfile da escola.
Evolução
A evolução da agremiação foi bastante problemática durante a passagem pela Sapucaí. Por conta da dificuldade de locomoção de todas as alegorias, vários buracos foram sendo abertos no cortejo. Muitos deles foram vistos bem na frente das cabines de jurados, o que deve resultar em grandes penalizações na apuração. Além disso, por causa desse ritmo atrapalhado, a agremiação teve que acelerar o passo no final do desfile para não estourar o tempo máximo regulamentar. A escola encerrou o desfile em 55 minutos.
Enredo
O Sereno de Campo Grande apresentou o enredo “4 de Dezembro”, celebrando a religiosidade católica e afro-brasileira em contato com a cultura popular na tradicional manifestação em Salvador. As alegorias foram de boa leitura, por conta de seus elementos bem reconhecíveis, com acabamento simples, mas sem grandes defeitos. Já as fantasias não proporcionaram a mesma facilidade na tradução do enredo. Apesar de algumas serem bonitas em suas cores, elas se repetiam nos elementos e soluções estéticas, causando a sensação de mesmice, já que a história parecia não evoluir.
Fantasias
O conjunto de fantasias do Sereno de Campo Grande foi marcada pela simplicidade, mas também por beleza em várias soluções e no uso de cores, bem diversificada durante toda a escola. Os materiais não tinham luxo, mas ajudaram a traduzir o enredo em boa parte. Exceto no segundo setor do cortejo, a parte mais bonita, mas repetitiva, dificultando a leitura. As alas “Oyá Transforma-se em Coral”, “O Princípio e o Fim no Barro de Nanã”, e “Ela é a Menina dos Olhos de Oxum” eram bem bonitas e foram destaque positivo da estética da agremiação.
Alegorias
O conjunto alegórico da escola foi marcado pela simplicidade em soluções e acabamentos, poucos erros aparentes e boas esculturas. O carro abre-alas, intitulado “Odo Oyá”, retratava o rio Niger, que teve sua origem associada a diversos itans de Oyá, pela criação a partir de um pano preto e por sua transfiguração após sofrer grande tristeza. Também foram vistos animais, como a borboleta, o búfalo e o elefante, em que Oyá se transformou, além de elementos de seu domínio, como o bambuzal. A saia e o corpo do carro era bem simples, mas os animais tinham beleza em sua execução.
Na sequência do desfile, a segunda alegoria do Sereno, de nome “Festa no Terreiro”, representava o lugar sagrado para o festejo de Oyá, simbolizado pelos atabaques e pelos orixás do candomblé. Também estavam presentes embarcações e o mar, já que o rito de Iansã assentou em solo brasileiro através da diáspora Atlântica. Outra que tinha saia e corpo bem simplórios, além de panos nos queijos.
Por fim, o terceiro e último carro da agremiação, intitulado “Altar para Santa Bárbara”, retratava a festa de 4 de dezembro, que acontece no Pelourinho, em Salvador. Estavam presentes o andor para a santa, além de igrejas barrocas da capital baiana. A alegoria mais bonita do desfile, com boas esculturas e trabalho de cores, mas que tinha defeitos de acabamento em sua saia.
Outros destaques
A bateria do Sereno, comandada pelo mestre Vinícius, mostrou uma boa sustentação de ritmo, que se mostrou bem adequado para a execução do samba pela parte musical da escola, propiciando um canto regular durante todo o cortejo. Algumas bossas de qualidade musical foram executadas, impulsionando a harmonia geral.