Por Rafael Soares, Allan Duffes, Maria Clara, Guibsom Romão e Rhyan de Meira
A Portela, tradicional escola e maior campeã do carnaval carioca, foi a primeira a se apresentar na Marquês de Sapucaí durante a noite de domingo, realizando seu ensaio técnico. A azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira teve um ótimo desempenho, principalmente através do canto de seus componentes, que entoavam o samba com força. Outro ponto muito positivo foi a atuação do carro de som, liderado pelo intérprete Gilsinho, que cantou a obra com muita segurança e dolência necessária. A bateria do mestre Nilo Sérgio também fez uma apresentação muito boa, exibindo um ritmo consistente para embalar o samba-enredo. A evolução portelense se mostrou muito competente, mesmo debaixo de forte chuva e com grande contingente. A comissão de frente levou uma coreografia bem semelhante ao que é apresentado nos ensaios de rua, porém se poupando um pouco nos movimentos e escondendo o jogo. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon e Squel, também teve um belo desempenho, mostrando uma dança de bastante energia, mesmo com chuva e pista bastante molhada. Um ensaio para lavar a alma e lembrar a potência da escola.
A Portela será a segunda escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, levando o enredo “Um Defeito de Cor”, de autoria dos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga, baseado na obra homônima da autora Ana Maria Gonçalves, refazendo os caminhos imaginados da história da mãe preta, Luíza Mahim.
“Eu acho que eu ouvi uma coisa que levei para hoje, quando começou a chover muito. Que não existe alegria amadora. Todo mundo que veio aqui hoje para ser alegre, foi muito profissional. Muito apaixonado por traduzir a Portela em força de canto, em força de evolução, em alma, em samba. Eu, mesmo trabalhando aqui na frente, escutei alto e claro o samba com toda a força de uma comunidade, com toda a força daquilo que é produto dos ensaios. Estou muito feliz hoje. A chuva foi uma bênção e a Portela celebrou o carnaval. A gente sempre identifica margem para melhora. Um ensaio técnico é um treino. Da gente cada vez mais trabalhar, em questão de dar força nesse canto por mais tempo. O que é mais importante em ver cantar dessa maneira é que nos mostra que podemos ainda cantar mais e temos força para isso. E também sempre a questão de você, no ensaio, não ter alegorias, não ter fantasias. E aí a gente tem todo um regramento e um alinhamento de tempo para poder cumprir junto do desfile oficial. A Portela desfilará com cerca de 2.800 componentes distribuídos em cinco alegorias e três tripés”, explicou Junior Schall, diretor de carnaval.
Comissão de frente
O grupo liderado pelos coreógrafos Léo Senna e Kelly Siqueira levou quinze mulheres pretas para a avenida. Todas elas usavam panos azuis na cabeça, tops e saias também azuis, com estilizações africanas, além de palhas amarradas na roupa. As bailarinas exibiram a mesma dança dos ensaios de rua. Com movimentos pulsantes e bem sincronizados, elas interagiram bastante durante o número. Giros faziam as saias darem um belo efeito. Também chamou a atenção o momento em que todas formavam uma fila e exibiam sequências de movimentos com os braços. Talvez pela pista molhada pela chuva, o grupo se preservou um pouco. Ao final da apresentação, duas integrantes pegavam grandes espelhos dourados, e outra pegava um livro também dourado e iluminado, gerando um bonito efeito.
“Foi maravilhoso, a chuva ajudou, a gente testou várias coisas e foi muito forte, foi com muita energia, foi tudo perfeito. Muito bom, muito bom mesmo. Muita força feminina, muito afeto para todo mundo. A gente já está muito feliz se o público sentir esse carinho, sentir tudo mais pacífico e essa coisa que só mãe pode dar para gente, esse colo de mãe”, comentou a coreógrafa.
“Elas cantaram com uma energia assim, impressionante, mais forte do que nos ensaios, é diferente pisar aqui. E a escola veio com muita força também. A gente está com um grito preso na garganta desde o ano passado, tanto no ensaio técnico quanto no oficial, a gente vem com muita força dobrada, com certeza, esse ano”, assegurou o coreógrafo Léo Senna.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Em seu primeiro ano juntos, Marlon e Squel, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela, mostraram um bailado tradicional com muita energia. Os dois pareciam não se incomodar com a chuva e a pista escorregadia. Como de costume, Squel exibiu movimentos firmes e bonitos. Marlon também mostrou bastante confiança e força para cortejar. Usaram um bom espaço da avenida e grande variedade de interações, com poucos momentos mais coreografados na letra do samba. Outra marca importante foi a expressividade do casal, com muitos olhares, sorrisos e vivacidade. Uma atuação excelente, mesmo em condições desfavoráveis.
“Diante da chuva, com a pista molhada, poças de água, que independente de você estar ou não ciente, derrapante, acaba não sendo muito válido, é mais um detalhe. Eu acho que a gente foi muito bem. A Portela é emoção, ela é o amor, é na chuva, é no sol, é no vento, é com trovão, é sem trovão. Eu acho que eu avalio positivamente, não só o casal, mas a escola. Eu estou extremamente feliz e foi muito, muito, muito, muito, muito bom. A gente está muito feliz. Ah, melhorar? A gente sempre acha que tem, não adianta. A gente vai olhar o vídeo, vai ver tanta coisa. Mas a gente está feliz por ter conseguido apresentar o que a gente apresentou diante de tudo esse tempo. Mas melhorar sempre vai ter que melhorar.”, disse o mestre-sala.
“Eu estou feliz da vida. A chuva é sempre muito temida, mas é uma bênção. E aqui: seu filho venceu, mulher. Derrame o seu axé, o seu axé está sendo derramado. Que a gente aproveite, que abençoe a Portela, que limpe a escola para que no dia 12, seja o desfile arrebatador das nossas vidas. Vai ser lindo”, completou a porta-bandeira.
Samba-enredo
A obra musical portelense é considerada uma das melhores do carnaval de 2024, muito em função de sua letra muito inspirada, altamente poética e retratando o enredo com perfeição. A melodia também é muito bonita em suas variações, que deixam a canção com a doçura e dolência que pede. O que se viu foi um grande rendimento do samba, embalado pelo canto forte da comunidade. O desempenho da bateria e do time de cantores da escola também foi fundamental para impulsionar ainda mais a fluência da obra.
Harmonia
O canto da comunidade portelense foi um grande destaque no ensaio técnico deste domingo. Desde o começo, a harmonia se mostrou bem forte, com todas as alas entoando o samba de ponta a ponta. O volume foi constante ao longo do treino. O desempenho de Gilsinho e seus cantores de apoio foi excelente, levando o samba com a exata dolência que é necessária, evidenciando ainda mais a bela melodia. Talvez no final do ensaio se percebeu uma leve queda de canto nas últimas alas, mas nada que preocupe a agremiação. Só mostra que, mesmo já em ótimo nível, ainda há margem para melhora. O quesito foi muito bem defendido.
“Até onde a gente pode ver a escola cantou muito bem. A gente está super feliz com o resultado. Agora, é ver as outras avaliações. Mas, acredito que a escola passou muito bem. A gente fez o que vem ensaiando na temporada. Estava tudo dentro do que foi criado. O nosso entrosamento (bateria e carro de som) é por osmose. A gente só se olha e já sabe o que fazer. É uma dupla que está feliz e trabalha bem”, afirmou o intérprete.
Evolução
Outro ponto que se mostrou muito consistente no treino da escola. Mesmo com um grande número de componentes, a evolução aconteceu de forma muito correta e segura. Não houve nenhum espaçamento anormal, muito menos correria ou lentidão. O ritmo foi constante e muito adequado para permitir que os desfilantes cantassem com tranquilidade e também mostrassem animação. Desempenho exemplar.
Outros destaques
A atuação da bateria do mestre Nilo Sérgio foi muito boa neste domingo de ensaio técnico. Os ritmistas mantiveram uma cadência muito propícia para a levada do samba-enredo no carro de som e para o canto da comunidade. Eles tocaram seus instrumentos com bastante firmeza e segurança, exibindo seu peso característico. As bossas, de ótima execução, foram muito bem integradas com a obra musical, exaltando ainda mais a pegada africana do enredo.
“Hoje eu vi que eu tenho que tocar de plástico mesmo, estourou alguns plásticos ali, os surdos molharam, porque eu não tinha colocado ainda o plástico para o carnaval, que é o acetato a prova d’água em cima do couro, eu só botei o plástico, mas eu vi que não muda. Porém, é um ponto que eu tenho que fazer. Mas o andamento da escola, pela chuva que teve, a escola veio alegre, para a frente, eu gostei muito. Eu acredito que algumas coisas têm que melhorar para poder sair daquele jeito, ensaio técnico é para isso mesmo, para a gente ajustar algumas coisas, como o lance da afinação. Eu acredito que, para escola, eu até conversei com o Escafura e com Schal, sobre o lance ali da cabine, que é passar um pouco mais a cabeça do módulo para poder fazer no meio da bateria, para os jurados poderem ouvir as peças pequenas, as peças leves e as peças pesadas quero para perto do carro de som, para eles poderem ver tudo, e é só esperar o carnaval agora e vamos que vamos”, citou mestre Nilo Sérgio.