Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins
Convidando todos a viajar para o futuro e para o espaço sideral, os Gaviões da Fiel encerraram a tarde/noite de ensaios técnicos neste domingo. O primeiro evento do tipo envolvendo a agremiação (o segundo [e último] será na quinta-feira, 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo) teve destaque para a comissão de frente, com elementos que tornam o enredo “Vou te Levar pro Infinito”, desenvolvido pelos carnavalescos Júlio Poloni, Ranyer Pereira e Rodrigo Meiners ainda mais esperado. A “Torcida Que Samba” será a quarta instituição a desfilar na segunda noite do Grupo Especial, 10 de fevereiro.
Comissão de frente
Um imenso tripe, que podia ser visto a metros de distância, chamou atenção de todos. Ao ser colocado para entrar na avenida, componentes vestidos de Super Homem e de Mulher Maravilha subiam na alegoria e executavam parte da coreografia (que não marca o samba, sendo independente) lá e parte no chão. Em dado momento, as Mulheres-Maravilha eram içadas em uma corda e se lançavam para frente, simulando um voo; em outro, eles se movimentavam tal qual robôs. Todas essas situações tornaram a passagem do segmento bastante interessante e cercando o quesito de expectativa. Vale destacar, também, que em momento algum foram notados erros em movimentos e coreografias.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Formado há cerca de quarenta e cinco dias, quando Carolline Barbosa substituiu Gabriela Mondjian, muitos não esperavam um alto rendimento do casal formado por ela e Wagner Lima. Eles, entretanto, superaram todas as expectativas. Enquanto o mestre-sala sambava bastante (mesmo com a pista molhada por conta das chuvas em escolas anteriores e, em alguns momentos, com garoa), Carol fazia giros no mesmo ritmo dos passos do parceiro, mostrando bastante entrosamento e sincronismo. No último módulo de julgamento, o casal fez giros mais longos, com três sequências distintas separadas por algum outro movimento – sem perder na conexão de um com o outro. Por fim, ambos fizeram o movimento sem gravidade, visto pela reportagem ainda nos tempos da antiga dupla, em que ambos se movimentam com muito menos rapidez.
Estreante na função, Carol deixou clara a empolgação com o que fez neste domingo: “Eu adorei o nosso desempenho, para mim foi incrível. Todo o processo está sendo muito incrível, com muitas descobertar dentro da dança e como casal. Tudo foi maravilhoso!”, comemorou. Mais experiente, Wagner tentou colocar os pés da dupla no chão: “Tudo para gente é novo. Sempre temos algumas coisas escondidas e outras que sempre podemos melhorar mais. A dança nunca vai estar perfeita para nós. Se chegarmos em 100%, vamos querer chegar a 110%”, ponderou.
Sobre a nova pista do Anhembi, Wagner fez elogios: “Do jeito que está, senti que essa é a pista mais segura dos últimos anos – e olha que eu saio desde 2015. Antes, eu sempre vinha com medo de cair e vim com sapato antiderrapante no ano passado – e, mesmo assim derrapava. Viemos com os tênis guardados e com o antiderrapante nesse ano, mas senti a pista segura. O tombamente que a pista passou a ter faz com que a água escoasse, não tem mais poças d’água. Mas, sem a torre, perdemos a nossa bússola. Se o apresentador não estiver atento, a gente já está em cima do jurado – antigamente, sabíamos onde eram as torres, agora, não temos mais isso”, alertou. Carol seguiu a mesma linha: “A pista não deixa o acúmulo de água nas laterais, e a questão da torre torna tudo muito diferente para a gente. Estamos nos adaptando e, agora, é só a questão da atenção para dar tudo certo”, finalizou.
Harmonia
Durante algum tempo, os Gaviões da Fiel se aproveitavam do embalo que sempre têm vindo das arquibancadas para cantar forte nos primeiros minutos do desfile; mas, assim que a empolgação passava, o canto da escola caía consideravelmente. Em 2023, tal situação teve uma nítida melhora; e, no ciclo de 2024, os Gaviões seguem melhorando. O canto, se não é fortíssimo, está de bom tamanho para um primeiro ensaio técnico. É importante destacar que, em boa parte das alas, há um integrante ou grupo de pessoas que não colabora com o samba-enredo – e, mesmo assim, os que fazem o próprio papel tornam o quesito forte. É possível destacar a ala 13 e o último setor como um todo como as que mais cantaram ao longo da exibição.
Lucas de Carvalho, um dos integrantes da Comissão de Harmonia da agremiação, destacou que o canto tende a melhorar: “O canto está bem legal, mas vai melhorar. Muitos não conseguiram comparecer porque teve o jogo. Muitos vieram correndo pra cá e muitos vão chegar para o próximo dia 25”, destacou, lembrando da partida do Corinthians válida pela primeira rodada do Campeonato Paulista, contra o Guarani, em jogo iniciado às 18h. Os Gaviões entraram na pista por volta das 21h, e o trajeto entre a Neo Química Arena e o Anhembi é longo – com mais de vinte quilômetros de extensão.
O diretor aproveitou para destacar que o fato da chuva basicamente não ter caído ao longo da apresentação colabotou: “Hoje não pegamos chuva, só no finalzinho. No contexto geral o ensaio foi muito bom. O pessoal cantou e a evolução foi boa. Claro que sempre tem aquela coisa que dá para ajustar. O próximo ensaio já é quinta-feira, a gente vai se reunir com a diretoria geral e analisar os vídeos”, destacou.
Samba-enredo
Longe de ser uma das mais elogiadas canções da safra do carnaval 2024, o samba-enredo dos Gaviões não deixou de ser cantado por boa parte da escola ao longo do ensaio técnico. Bem sustentado pela bateria Ritimão, comandada por Mestre Ciro Castilho, e pelo carro de som, capitaneada pelo histórico Ernesto Teixeira, também é importante pontuar os arranjos feitos por Rafa do Cavaco, diretor musical da agremiação, que deram brilho à obra e o tornaram mais bem aceito por componentes e torcedores. A passagem da escola, por exemplo, revelou a presença de um teclado no carro de som, algo que não é usual nos dias de hoje – e era bem comum entre as décadas de 1990 e 2000.
A explicação para o bom canto, na visão de Ernesto Teixeira, está no futebol: “Os Gaviões já têm tradição de pegar chuva em jogos do Corinthians: estamos acostumados a cantar quanto mais chover. E, hoje, não foi diferente. O pessoal cantou forte e firme. A chuva prejudica quando vem em muita intensidade, já que a cidade de São Paulo, assim como o mundo inteiro, sofre com alagamentos e etc, aí as pessoas não vem. Não foi o caso de hoje. O pessoal veio com muita garra, muita disposição. Estamos no caminho certo”, suspirou.
Das poucas escolas do Grupo Especial a ensaiar “apenas” duas vezes, o intérprete dos Gaviões desabafou: “Essa é uma questão complexa, é o meu ponto vista de anos: tínhamos uma casa própria, vendemos e estamos morando de aluguel. Isso coloca o samba nessa condição de ter menos espaço para ocupar o que é seu de direito. Deram essas duas datas para os Gaviões, que respeitamos, mas queríamos mais. Nessas datas, portanto, tiraremos o máximo”, disse, fazendo menção à privatização do Anhembi.
Evolução
Enquanto o casal de mestre-sala e porta-bandeira se apresentava no segundo módulo de jurados, a ala à frente não ficou parada, abrindo certo espaço da dupla. Mais do que isso: durante a exibição, a ala anterior também não parou, fazendo com que ela ficasse muito próximo de Wagner e Carol. Indicando que os Gaviões virão com muitos componentes, a agremiação buscou uma evolução constante para não ter problemas com o cronômetro, gerando tal ocorrência. Positivamente, vale destacar a boa entrada da bateria no recuo: em cerca de cento e dez segundos, a bateria entrou no box com o abre-alas pouco à frente do espaço e a ala 04, das Passistas Estrelas, chegou até o carro alegórico. Também é importante pontuar um movimento bastante simples e criativo: quando o samba canta “Delirei, sonhei com a grande explosão”, os cantores falam “Bum!” e toda a escola pula, gerando um efeito bastante interessante.
Outros destaques
Ajudando bastante o trabalho da imprensa, os Gaviões sinalizaram carros e alas, com números e nomes. Os carros alegóricos, por sinal, contavam com diversos integrantes: o segundo continha o trio de crianças que aparece no clipe oficial da agremiação; enquanto o terceiro, cheio de componentes, eram abrilhantados pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira mirim e pela Velha Guarda. À frente da bateria, “apenas” a Embaixadora do Samba.
Sem grandes problemas com a água que caiu do céu, mestre Ciro Castilho, comandante da Ritimão, mostrou-se bem tranquilo em relação a eventuais problemas que a agremiação possa enfrentar por conta das condições climáticas: “Não sentimos tanta dificuldade quanto à afinação e o couro, não. Está vindo tudo muito bem preparado, com adesivos e plásticos. Quando íamos entrar, parou de chover; dez minutos depois, voltou. Atrapalha pelo pessoal ficar incomodado, mas, quando à questão sonora, todas as baterias estão preparadas para chuvas como as de hoje – não em relação aos dilúvios que têm dado. Em chuvas assim, dá para ir legal”, pontuou.
Ao contrário do intérprete, o mestre de bateria não liga muito para o número de ensaios técnicos no Anhembi diminutos em relação a outras escolas do Especial: “Não acho que ter dois ensaios prejudica porque temos uma avenida atrás da nossa quadra que fazemos alguns ensaios bem legais. É, praticamente, um Sambódromo fora do Anhembi. Tem espaço para recuo e dá para fazer toda a parte técnica lá”, finalizou ele, que comandará 230 ritmistas na avenida.