A Imperatriz Leopoldinense realizou mais um grande ensaio na Rua Professor Lacê. Como tem sido a tônica dos domingos em Ramos, a Rainha de Ramos mostrou muita força no canto da comunidade, mostrou eficiência nos demais quesitos, com destaque também para mais um grande show da dupla mestre Lolo e Pitty de Menezes. Apenas o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Philipe Lemos e Rafaela Theodoro, não participaram do treino, sendo poupados devido a maratona de preparação ao qual a dupla tem se submetido. No lugar em que desfila o primeiro casal, logo após a comissão de frente, neste treino, desfilou o segundo casal Marcos Ferreira e Alcione Carvalho. O samba, já em um passado distante apelidado de “Frankenstein”, está na boca e no coração do gresiliense, está fluindo muito bem e tem levado uma multidão para acompanhar os ensaios aos domingos da Verde e Branca. No final, um ensaio que começou com os últimos raios de sol do fim de semana, terminou com uma chuva que não afastou o componente que continuou cantando mesmo depois do carro de som parar, neste momento, Pitty de Menezes já havia ido para a galera regendo a comunidade. O intérprete falou sobre este momento de grande emoção para o artista e sobre o desempenho da escola no canto.
“Eu não tenho nem palavras. Estou com a voz ofegante, com a voz embargada, um pouco emocionada, debaixo de uma chuva dessas, a nossa escola acabou o nosso ensaio, mas a comunidade não foi embora, continuou cantando aqui muito, delirando, pulando, pulsando. Eu digo que isso é cantar com a emoção, cantar com o coração, não precisa de som. A comunidade cantando debaixo de chuva, emocionada, é muita felicidade. A Imperatriz faz um trabalho sério, a Imperatriz está trabalhando muito para buscar esse bicampeonato e esse bicampeonato será possível porque a gente tem não só uma equipe maravilhosa, mas a gente tem essa comunidade toda, que também acredita nesse bicampeonato e está cantando muito. Por isso eu digo que a Imperatriz está pronta, porque tem uma comunidade nota mil”, elogia o intérprete.
O diretor André Bonatte, que divide a direção de carnaval com Mauro Amorim, explicou o grande contingente da escola neste ensaio de rua, penúltimo antes do ensaio técnico e desfile, e disse ver a Imperatriz pronta para o desfile que vai acontecer daqui há três semanas.
“A escola está fechada em termos de quem vai desfilar acho que desde novembro. É o sentimento mesmo de as pessoas estarem chegando, porque a gente insiste em ensaio. Além do ensaio de domingo e do ensaio de sexta, a gente tem ensaio durante a semana por setores, e quando a gente faz um ensaio com algumas determinadas alas na quarta, a gente tira essas alas da sexta ou do domingo para poder dar uma compensada. Hoje não, hoje a gente estava com todo mundo aqui. Por isso essa sensação.A Imperatriz está pronta. Isso eu não tenho dúvidas. É óbvio que a gente fica sempre com expectativa de melhorar e isso tudo que fizemos hoje é motivo de reflexão amanhã. A gente vai sentar e vamos analisar todos os pontos. Mas o feedback que eu estou tendo dos componentes e da própria harmonia é que foi tudo maravilhoso”, avalia o diretor.
Em 2024, a Imperatriz vai levar para a Sapucaí o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, do carnavalesco Leandro Vieira. Buscando o bicampeonato, a Verde e Branca de Ramos irá encerrar a primeira noite dos desfiles do Grupo Especial.
Comissão de frente
Mais uma vez, os bailarinos de Marcelo Misailidis trouxeram para a comissão toda a beleza das danças ciganas, com as bailarinas trazendo saias que apresentavam um bonito efeito durante os giros e rodadas. Havia muito contato entre “as ciganas” e seus pares, de uma forma até bem sensual. Um dos pontos altos era quando as mulheres eram erguidas no ar em um momento de maior intensidade da coreografia. Alguns pontos do samba eram pontuados pelos movimentos dos bailarinos como o “Vai Clarear” em que os componentes erguiam os braços ao céu. No trecho ” a caravana está em festa” todos os integrantes estão mais juntos como que formando este grande grupo de ciganos dançando. No “encontrei minha rainha”, os homens de forma muito cortês pegavam seus pares pela mão e mostravam para a platéia.
Harmonia
Mesmo com um trabalho tão eficiente que a escola fez nos últimos anos, reforçando os diversos quadros da escola, a Imperatriz segue tendo como grande destaque o canto da comunidade. Os ensaios em Ramos tem mostrado um trabalho, neste sentido, com os componentes, que tem se mostrado mais do que eficiente, tem dado alma ao desfile da agremiação e se constituído em uma grande atração e um dos grandes responsáveis por hoje o ensaio da Rua Professor Lacê ser um dos melhores deste pré-carnaval, se não for o melhor. Neste domingo, era notório perceber que todas as alas cantavam com muita força, empenho e espontaneidade o samba, comissão de frente, baianas, velha-guarda e bateria, inclusive. E, com um incentivo dos “harmonias”, mínimo, o que se constitui em uma comunidade que sabe da sua responsabilidade e mais do que isso, está muito conectada com a escola e com o samba escolhido.
O carro de som tem sido um show a parte. O entrosamento entre Pitty e Lolo já é intrínseco, está na veia e no olhar. A arrancada do samba está muito boa, com Pitty cantando melodicamente só acompanhado pelas cordas o final da segunda do samba no “Prenúncio da sina da minha escola…”, até a bossa do “o que é meu é da cigana…” em que toda a escola acompanha nas palmas até a explosão do “Vai clarear…” do refrão principal e refrão que mais mexeu com a comunidade nas eliminatórias. Uma menção honrosa para o excelente time de vozes montado pela Imperatriz e comandado por Pitty.
Evolução
Com um contingente ainda maior de foliões e mais próximo do que terá no desfile, a Imperatriz teve uma evolução bastante eficiente e fluída. Cadenciada a escola procurou passar pela rua Professor Lacê sem correria, fazendo com que o componente pudesse aproveitar cada momento, observando de forma bem criteriosa o tempo de apresentação da comissão de frente, da bateria e até mesmo do segundo casal que veio na posição que virá o primeiro, exibindo sua coreografia durante uma passada inteira do samba. Não se observou a formação de buracos e nem alas se embolando.
Havia algumas alas que exibiam coreografias como uma ala que vinha antes do segundo carro com componentes dançando um bailado bastante charmoso, lembrando um pouco de gafieira. Outra ala que chamou bastante atenção foi a primeira ala da agremiação que continham mulheres no alto em pernas de pau, no meio dos componentes que traziam saias de cigana, mas se movimentando com desenvoltura. Outros setores tinham componentes com leques na mão e alguns com bastões. No geral, a escola também fez um bom tempo de ensaio, em torno de uma hora e 10 minutos.
Samba-enredo
A obra da Imperatriz é sem dúvida uma das que mais cresceu no processo. Do sentimento de desconfiança após a decisão de união entre dois sambas, em que um tinha a preferência da comunidade, a diretoria fez uma grande gravação e trabalhou muito bem a música impulsionando-a com a força do carro de som de Pitty de Menezes e a excelência do trabalho de mestre Lolo. Hoje, o samba tem embalado os ensaios, caindo na boca não só do componente e de quem torce pela Imperatriz,mas do mundo do samba que adora cantar “Vai clarear…”, e isso se confirma quando é possível perceber a presença de torcedores de outras escolas nos ensaios na Rua Professor Lacê em Ramos.
Os dois refrãos tem funcionado muito bem, o do meio, mais meloso “O destino é traçado na palma da mão” e a força do “Vai clarear, olho o povo cantando no meio da rua”, que promete ter um charme todo especial quando a escola desfilar com o dia amanhecendo. Outros pontos altos tem sido o “o que é meu é da cigana…” que conta inclusive com uma boss de palmas em que todos os componentes participam, além da entrada na primeira do samba com o “Ê cigana”, que tem dado potência e fluidez, e por fim, o finalzinho da segunda do samba “prenúncio da sina da minha escola” que se destaca pela melodia riquíssima e que, como citado acima, tem sido usado pelo carro de som para iniciar a obra de uma forma mais tocante.
Outros destaques
Quem roubou a cena e causou um grande frisson da comunidade e de quem estava nas calçadas assistindo, foi a nova musa da Imperatriz, a celebridade Rafa Kalimann. Com um modelito bastante ousado, a beldade mostrou ter samba no pé e recebeu o carinho da comunidade. A rainha Maria Mariá apostou em um vestido verde em tom esmeralda e mais uma vez evoluiu a frente da bateria rodeada de crianças. No esquenta, Pitty de Menezes cantou algumas músicas do Cacique de Ramos e depois emendou o samba campeão de 2023, antes dos primeiros acordes do samba de 2024, antecipado pelo “Sou Feliz, sou Imperatriz” para exaltação da escola.