Por Rafael Soares, Guibsom Romão, Maria Clara, Matheus Morais e fotos de Allan Duffes
O Paraíso do Tuiuti foi a segunda escola de samba a se apresentar no domingo de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. A agremiação até teve um bom início, mas infelizmente sofreu com problemas em alguns quesitos ao longo do treino. A harmonia, que teve um desempenho satisfatório no primeiro módulo de jurados, caiu de nível nos dois seguintes. A evolução, que se mostrava correta, se complicou a partir da passagem da bateria pela segunda cabine, quando a escola acelerou o passo de forma desnecessária. A atuação do bom casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphael e Dandara, ficou muito prejudicada pela chuva e pelos ventos fortes. Os destaques ficaram para o desempenho de Pixulé, totalmente à vontade na condução do samba, e para a atuação da bateria de mestre Marcão, que deu um show de ritmo para sustentar a obra musical. Outro ponto positivo foi a apresentação da comissão de frente, que exibiu um número forte e bem ensaiado, além de uma bela caracterização. O Tuiuti precisará corrigir o ritmo de evolução e o nível de canto em seus últimos treinos de rua para mostrar uma melhor apresentação no dia de seu desfile oficial. A agremiação será a quinta escola a desfilar na segunda-feira de carnaval. A agremiação levará para a avenida o enredo “Glória ao almirante negro!”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, contando a história de João Cândido, líder da Revolta da Chibata. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO
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Comissão de Frente
Apresentação muito boa dos bailarinos comandados pela dupla de coreógrafos Claudia Mota e Edifranc Alves. O grupo era formado por mulheres, que usavam uma espécie de vestido branco e azul, e também adereços na cabeça com elementos marinhos, além de uma quantidade maior de homens, usando roupas de pescador em azul ou amarelo. A coreografia foi basicamente a mesma que é apresentada nos ensaios de rua da escola. Muita expressividade e força nos movimentos, especialmente dos rapazes, para retratar o período histórico abordado no enredo. Em determinados momentos do samba, algumas meninas foram colocadas em destaque ao serem erguidas por outros integrantes. Principalmente, no ponto em que Iemanjá é citada, quando uma mulher foi levantada e louvada pelos demais. Além disso, os integrantes cantaram com bastante energia o samba.
“Eu acho que a gente foi um pouco prejudicado em relação ao som, teve um retorno muito ruim da Sapucaí, mas eu acho que isso vem acontecendo com outras escolas também. A gente com a força do canto, a gente superou, mas é uma coisa que tem que resolver, porque se não mantém o canto a gente desanda e aí prejudica. E quando a gente atravessa a rua tem um delay. Tive que parar a comissão um tempo de cantar para a gente poder ouvir se estava certo, mas estava certo e a gente seguiu. A gente está tendo todo o suporte da escola para que façamos um grande desfile. Estamos com uma estrutura esse ano fenomenal e é uma responsabilidade, porque temos que fazer valer tudo isso e Vamos fazer”, disse a coreógrafa Claudia Motta.
Mestre-sala e Porta-bandeira
A apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Paraíso do Tuiuti, Raphael e Dandara, foi muito prejudicada pelas condições climáticas. O chão estava molhado pela chuva e ventava muito. A dupla tentou compensar, mostrando sua elegância e energia ao bailar e interagir, em uma dança tradicional com alguns movimentos coreografados com base no samba-enredo, utilizando um bom espaço da pista. Porém, a bandeira de Dandara enrolou algumas vezes nas apresentações do primeiro e segundo módulos de jurados. Raphael também chegou a sofrer um pequeno desequilíbrio na primeira cabine.
“Dentro de todas as adversidades que a gente vem encontrando, que a gente encontrou hoje, tinha muito vento, foi difícil, mas a gente conseguiu cumprir tudo que a gente veio ensaiando. É aquilo, é ensaio. Só que a gente ensaiou, dessa vez a gente ensaiou no campo de jogo. Sempre tem alguma coisa que pode melhorar. Agora é sentar, analisar como foi, analisar tudo que foi, para a gente poder melhorar, para poder dar o nosso melhor no dia do desfile”, afirmou o mestre-sala.
Samba-enredo
O rendimento da obra através do canto da comunidade foi satisfatória apenas no início da apresentação. Mesmo com uma atuação muito boa de Pixulé em conjunto ao seu carro de som e bateria de mestre Marcão, o desempenho do samba foi bastante irregular, caindo de nível enquanto a escola passava na avenida. O cantor estava muito seguro e confortável para brincar com a melodia do samba, utilizando a força e qualidade de sua inconfundível voz.
Harmonia
A comunidade do Tuiuti mostrou um nível de canto bastante aquém do que se esperava. Apesar de um bom início, a escola não conseguiu manter o desempenho. À medida que o cortejo avançava na pista, se afastando do carro de som, o volume de harmonia caía. As primeiras alas da agremiação chegaram a atravessar o canto em relação aos intérpretes, por dificuldade com o carro de som da Avenida. As alas do meio da escola, mais próximas da bateria, apresentaram um canto um pouco melhor, mas ainda assim abaixo da expectativa. Apenas o refrão principal da obra era cantado com alguma potência, enquanto o restante apresentava um volume baixo. Destaque para a atuação muito boa de Pixulé.
“Foi uma passagem maravilhosa do samba. A escola está gritando o samba. A gente tem uma diferença aqui de um que é oba-oba e um verdadeiro samba-enredo, que é o do Paraíso do Tuiuti. A gente veio aqui e mostrou um samba-enredo, o qual o povo cantou e isso é maravilhoso. Aguardem o dia do desfile! Não tem o que melhorar, pois o samba vai sozinho por si só. Não tem como você ir para a galera, tentar levantar o público, com o samba do Tuiuti que o povo canta. O povo não pula, ele canta, abre os braços, bate no peito. Isso é gratificante demais. O entrosamento do carro de som com a bateria é perfeito. Entramos no samba e mestre Marcão e eu nos falamos no olho. É um casamento perfeito”, garantiu o cantor.
Evolução
Outro quesito que apresentou problemas na atuação da escola no ensaio técnico. O ritmo da agremiação era bom e correto até a passagem da bateria pelo segundo módulo de jurados. A partir desse momento, os desfilantes apertaram demais o passo, sem qualquer motivo aparente. Isso acabou gerando um pequeno buraco entre a penúltima ala e a velha guarda, que fechava o cortejo. Os diretores de harmonia foram sensatos ao não exigir velocidade dos senhores para cobrir o espaço. Na reta final do ensaio, a bateria precisou evoluir a passos mínimos, durante cerca de 10 minutos, para que a escola terminasse seu treino no tempo adequado. O diretor de carnaval do Tuiuti, André Gonçalves, admitiu o problema e prometeu trabalhar em cima dos erros para que a escola faça um desfile melhor no dia oficial.
“Eu venho esse tempo todo conversando, falando com vocês, que estávamos lapidando pra que pudéssemos chegar aqui e apresentar um belíssimo trabalho. Esse trabalho foi apresentado, a sensação foi incrível e continuaremos com mais dois ensaios pro nosso desfile. Tudo é nossa lapidação, tudo é um grande trabalho sendo feito pra que possamos alcançar o nosso objetivo lá na frente. Ainda tem toques finais, mas passamos super bem, eu consegui ver um público cantando junto com a gente. Isso aí é muito bom, a gente hoje ver o Paraíso do Tuiuti com as pessoas interagindo. Hoje viemos completos, com 2.900 pessoas no chão”.
Outros destaques
A bateria comandada por mestre Marcão costuma ser sempre um ponto positivo da escola. E não foi diferente no ensaio técnico. O grupo apresentou uma ótima cadência para embalar o samba-enredo, facilitando o trabalho de harmonia e evolução da escola. Pena que esses quesitos não acompanharam o nível da bateria. Bossas com certo grau de dificuldade e muito bem encaixadas na obra musical. Grande atuação dos ritmistas da “SuperSom”.
A rainha de bateria, Mayara Lima, também chamou muita atenção, mais uma vez. Ela usava uma roupa azul brilhante e um apetrecho com uma forte luz vermelha, como se fosse um coração. Muito festejada pelo público, a beldade exibiu muita simpatia ao interagir com eles, além de seu samba no pé, sempre muito afiado.
“É aquilo que a gente vem trabalhando durante esses oito, nove meses, no mesmo andamento, na mesma dicção que a gente está acostumado. Não mudou nada do ano passado para esse ano, do ano passado mudou só o negócio das bossas, duas bossas e o samba, o restante não, é a mesma coisa. E essa rapaziada aí se colocar eles para falar: ‘corre!’, não, não vai correr. É aquilo mesmo, é essa parada aí. Como a gente chama: ‘ó, eu quero subida de Sorriso Maroto’, eles vão lá e colocam Sorriso Maroto. Agora vou sentar com os meus diretores para a gente poder ver o que foi bom, o que não foi, para a gente poder melhorar um pouquinho mais lá na frente. Estamos com um trabalho com cuíca, chocalho e tamborim. A gente está fazendo a parte da marcha que a gente fazia nas caixas, agora a gente está fazendo no tamborim, chocalho, cuíca. Essa dinâmica está legal”, comentou mestre Marcão.