Quem passava pela rua Euclides Faria por volta das 16h30 do último domingo, próximo ao Corpo de Bombeiros podia ouvir o barulhinho característico de jóias e bijuterias balançando na mão dos componentes. Isso porque a comunidade de Ramos entrou de corpo e de alma no personagem e está indo a caráter aos ensaios de rua, vestida de cigana e cigano. É a grande influência da cigana Esmeralda. Mais do que a fantasia, o folião está feliz com este momento da escola e em mais um ensaio de rua voltou a cantar muito a obra da Imperatriz, que nem cabe mais lembrar que um dia foi uma junção, está mexendo com a comunidade e com quem acompanha cada evento da Rainha de Ramos ou tem ouvido a faixa oficial da escola lançada junto com as outras doze na semana passada. Em mais um treino onde é um desafio muito duro e improdutivo você procurar alguma coisa errada, além do samba e harmonia, outros quesitos passaram muito bem como evolução, bateria e comissão de frente. Mas, em especial, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, que retomaram esta parceria de uma forma muito positiva para o carnaval passado, como se não houvesse acontecido nenhuma pausa no trabalho dupla, e como se tivessem permanecido dançando juntos. Ao final do ensaio, o casal contou ao site CARNAVALESCO o que para eles é o segredo do trabalho bem sucedido.

“É muita irmandade, cumplicidade, eu e a Rafa, a gente tem um história, gosto muito de ressaltar isso, uma história de vida profissional juntos, muito bonita, desde que a gente voltou a dançar junto há cerca de um ano e não parece que tem um ano, desde a primeira vez parecia que não tínhamos nos separado. É muito desta irmandade que faz com que o nosso trabalho seja bem visto, e agrade a toda comunidade”, definiu o mestre-sala Phelipe Lemos.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

“A parceria vai muito pela cumplicidade, pelo amor, da união, da dedicação, e requer muito estudo, muito ensaio para que a gente possa chegar na perfeição no grande dia. O ensaio é feito para isso, além dos ensaios de sexta, de domingo, a gente tem os nossos ensaios fechados, junto com a Ana (Botafogo, coreógrafa), que tem sido incrível, trabalhar cada olhar, cada movimento, para cada ano a gente tentar trazer o diferencial. Acredito que a parceria esse ano já traga alguma diferença do último carnaval e para melhor, buscando a sintonia, sendo muito parceiro,muito amigo, pois isso que faz dar certo”, acredita a porta-bandeira da Imperatriz Leopoldinense, Rafaela Theodoro.

Sobre este treino, o penúltimo na rua em 2023, a princípio, o diretor Mauro Amorim, que trabalha ao lado de André Bonatte, na direção de carnaval, analisou como de grande excelência de quesitos, e explicou que esse bom aproveitamento dos treinos vem de um trabalho realizado já há alguns anos na escola.

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“É uma Imperatriz que consolida um trabalho da Cátia, do João, de toda família Drumond que começou já há três anos nesta reestruturação da escola , em um momento em que a escola passou por dificuldades, e se fortaleceu internamente, se fortaleceu ali junto com o seu povo, olhando e estruturando os seus segmentos. O resultado do ensaio de rua reflete o processo do todo. É o resultado do todo, a gente faz muito ensaio, faz muita reunião, tem muito papo interno visando realmente corrigir, visando acertar. O nosso trabalho do ano passado foi muito bom, mas a gente espera e tem muita confiança de que o próximo ainda possa ser de mais força e valentia e muita emoção”, projeta o diretor.

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Em 2024, a Imperatriz vai levar para a Sapucaí o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, do carnavalesco Leandro Vieira. Buscando o bicampeonato, a Verde e Branca de Ramos irá encerrar a primeira noite dos desfiles do Grupo Especial. No próximo domingo, 17 de dezembro, a escola vai realizar mais um treino na rua, o último de 2023 dando uma pausa até a primeira semana de janeiro.

Comissão de frente

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Os bailarinos de Marcelo Misailidis, mais uma vez, trouxeram o vigor das danças ciganas, com dez componentes distribuídos em cinco casais. As mulheres vestiam lenços na cabeça e saias que produziam um bonito efeito na coreografia. Interessante destacar também a coreografia de deslocamento que já apresentava ao público que observava na Euclides Faria uma apresentação de bastante intensidade. No ápice da coreografia, os homens erguiam as bailarinas sob os aplausos do público. Ssem entregar muito das surpresas preparadas para o grande dia do desfile, a comissão teve sincronia, beleza e intensidade, alternando entre passos mais de casais e outros mais coletivos.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

A dupla esteve junta na Imperatriz de 2011 a 2015. Depois disso, Phelipe passou por outras escolas enquanto Rafaela seguiu na Rainha de Ramos, dançando com outros parceiros. A volta para o último carnaval foi coroada com o título e de lá pra cá a impressão que tem ficado é que o espaço de tempo, que não foi pouco, cerca de oito anos, não existiu. Estão ainda mais entrosados, dançando com muita sincronia, passeando por um estilo mais clássico explorando o melhor de cada um e contagiando o outro a se explorar mais sem perder as suas próprias características. Neste treino de domingo, uma coreografia que contou com uma postura corporal impecável dos dois, grandes momentos de giros em sincronia e uma proximidade com doçura o que o próprio do quesito. Rafaela com muito domínio da bandeira, com intensidade mas com leveza nos movimentos. Phelipe com muito vigor incorporava o espírito cigano presente no enredo e a todo momento gritava, principalmente nos deslocamentos, o que inflamava os componentes. Excelente apresentação. Importante ressaltar também o trabalho da nova coreógrafa Ana Botafogo que veio para acrescentar bastante ao trabalho da dupla.

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“Esse ano a gente está fazendo um trabalho bem diferente, a gente está estudando muito. A chegada da Ana Botafogo está sendo incrível para a gente e estudar toda a musicalidade, claro que a gente tem alguns movimentos que são em cima do samba, para quem dança, mas a gente tem estudado bastante algo que para mim particularmente eu tinha até um pouco de deficiência que era dançar em cima da contagem de tempo, e hoje já consigo, independente do samba. E quando você vê que consegue alcançar muda muita coisa dentro da sua dança, dentro da sua energia. O que vocês podem esperar é uma dança leve, feliz, tradicional, a gente não vai perder a essência, mas com aquele algo a mais que os jurados e o público tanto desejam, aquele cereja do bolo e temos estudado algumas coisas para o grande dia, que seja o diferencial e em busca da nota máxima para a escola”, explica Rafaela.

“A gente quer levar a energia do povo cigano, a gente vai levar a alegria e movimentos bem desenhados, mas leves também, e vamos ver o que que acontece, mas tomara que seja feita a vontade de Deus e da cigana Esmeralda”, espera o mestre-sala da Imperatriz.

Harmonia

O carro de som da Imperatriz está voando, Pitty de Menezes é sem dúvida uma das melhores contratações que uma escola fez nos últimos anos. Depois do grande desempenho no carnaval passado que ajudou a Imperatriz a conquistar o título, o cantor está melhor ainda, e tem ao seu lado vozes de apoio de muita competência, além de excelentes músicos. Neste domingo, mais uma vez, em cima do enredo, a escola trouxe um violino para compor a parte musical. E a partir desse grande desempenho do carro de som, aliado a um excelente trabalho da direção de harmonia, a escola voltou a cantar muito o samba, com alegria, felicidade e muita vontade. Não se conseguiu identificar alguma ala com componentes que não estejam cantando a obra, a maioria estava berrando inclusive.

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Evolução

Conhecida muitas vezes no passado como a “certinha de Ramos” , a escola tem tentado tirar essa alcunha, muitas vezes citada em redes sociais pelo carnavalesco Leandro Vieira como a “ex-certinha de Ramos” e com justiça, pois está muito mais espontânea, mais quente, mais vibrante, ainda há muita técnica em seus quesitos e principalmente em evolução como foi em um passado mais distante que também forjou uma escola vitoriosa como agora, isso lá nos anos 2000.

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Mais um ensaio em que não se notou nenhum problema de buracos ou fluidez de deslocamento. É uma agremiação que se movimenta de forma fluida, espontânea, cantando, dançando mas sem criar problemas no julgamento mais técnico. Destaque mais uma vez para o grande contingente de componentes que participaram. Logo no início, é preciso ressaltar uma ala de ciganas com saias e leques que faziam uma bonita coreografia. Em outros momentos os desfilantes também mexiam os braços em certos trechos do samba, de forma sincronizada, mas sem ser mecânico e não a todo momento. Aliás, os componentes batendo palmas no “O que é meu é da cigana…” de forma sincronizada, em ritmo de seresta, tem muito de musicalidade e como participa a escola toda é algo que deve mexer com a Sapucaí.

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Samba-enredo

Para quem não acompanhou as finais e ouve o samba da Imperatriz hoje, vai jurar que ele foi feito todo junto, e que em nenhum momento ele se traduziu em duas obras separadas. Para quem acompanhou as finais, e sabe como ele foi gerado, o ouvido já está completamente acostumado com a versão após a junção, e ele só cresce de rendimento cada vez mais. Isto por um trabalho sólido realizado pelo departamento musical da escola, com os músicos, com Pitty de Menezes e com mestre Lolo.

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Aliás, as bossas da “Swing da Leopoldina”, mais uma vez, foram destaque e deram ao samba todo um vigor e charme. Mais uma vez destacar a bossa da cabeça do samba que traz o ritmo de seresta, seca os instrumentos, valoriza o canto e volta a bateria com toda a potência através da chamada de repique. É sensacional e valoriza muito a obra, justifica todas as decisões tomadas na escolha do samba. E já está na boca do povo, até o “se” que existia no refrão do meio e que se transformou em ” o destino é marcado na palma da mão” , hoje não confunde a comunidade, fruto de ótimo trabalho de treino também nos ensaios de canto realizados às sextas-feiras. Conclusão: O samba foi um sacode mais uma vez, inclusive na visão do intérprete Pitty de Menezes, a obra tem rompido as fronteiras de Ramos e atingindo outros públicos.

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“É uma felicidade para mim muito grande primeiramente saber que o samba está dando certo. A Imperatriz é uma escola muito gigante, mas é uma escola também muito pé no chão, a gente trabalha muito para que a gente possa levar o nosso samba com verdade, é com muito trabalho, e acho que o público está recebendo essa mensagem. O samba é muito forte e o público está cantando com a Imperatriz. Ontem nos apresentamos na Mangueira e foi muito bonito ver uma coirmã com a gente acabado o show e essa coirmã cantar o samba da Imperatriz, a gente indo embora, a bateria começou a tocar. Isso é coisa de coirmã, a disputa fica na Avenida, e na quadra a gente pode se confraternizar. E você vê que o samba está funcionando, a gente fica muito feliz. A gente vai em busca desse bicampeonato. Estamos trabalhando muito”, reforça o artista.

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Outros destaques

Antes do início do ensaio, a detentora dos direitos de transmissão do desfile fez uma ação gravando o carro de som, a bateria e alguns componentes. O comentarista de carnaval da emissora Milton Cunha também se fez presente sendo bastante festejado pela comunidade de Ramos. Maria Mariá, a rainha da “Swing da Leopoldina”, mais uma vez mostrou muito samba no pé e trouxe para perto algumas crianças da comunidade desfilando ao seu lado a frente dos ritmistas. Nas bossas já citadas acima, a bateria de mestre Lolo abaixou fazendo uma pequena coreografia e levantando o público.

A escola trouxe mais uma vez um violinista para reforçar a parte musical. No esquenta a escola relembrou um samba que veio do passado para ajudar a escola a ressurgir para o futuro. “Só dá Lala” de 1981, reeditado em 2020 garantindo a volta da escola ao Grupo Especial após ser campeã do Grupo de Acesso O público acompanhou em peso o ensaio. As calçadas da Rua Euclides Faria estavam abarrotadas de gente, principalmente próximas a um posto de gasolina e uma lanchonete de fast food, “point” onde as pessoas param comumente para beber nos ensaios.

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