A maior festa popular do planeta esteve presente no “Show do Século”, do DJ Alok, que conseguiu reunir o samba e a música eletrônica durante a apresentação que ocorreu na noite do último sábado, na praia de Copacabana. Com a parceria de Pretinho da Serrinha e das baterias das 12 escolas do Grupo Especial do carnaval carioca, o artista levou para o palco cerca de 120 ritmistas, além dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. O evento celebrou o centenário do Hotel Copacabana Palace. Com um palco 360° em formato de pirâmide, o show teve cerca de um milhão de pessoas presentes – segundo os organizadores.

A música “Drum Machine”, que uniu a música eletrônica com a percussão, abriu a apresentação dos 120 ritmistas do Grupo Especial. Em seguida, uma adaptação de “É Hoje”, samba-enredo da União da Ilha do Governador em 1982, caiu nas graças do público. Nela, os 12 casais de mestre-sala e porta-bandeira do Grupo Especial, além do casal da Ilha – Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete – se apresentaram por cerca de dois minutos. Mesmo com a chuva intensa durante a apresentação, o samba no pé e a alegria típica dos carnavalescos ganharam destaque.

“Quando eu fui convidado para fazer esse show, queria de alguma forma encontrar um caminho para me conectar culturalmente com o Rio de Janeiro. E a melhor forma de fazer isso é através da música. Me uni ao Pretinho da Serrinha e as 12 escolas de samba do Grupo Especial. Hoje a gente tem aqui 120 ritmistas na base da pirâmide e fizemos duas colaborações juntos”, disse Alok no início da apresentação dos sambistas.

Um dos mestres de bateria presentes no evento, Fafá, da Acadêmicos do Grande Rio, contou como foi a preparação do grupo para o show e disse que Alok soube entender o papel de representatividade do samba. Ele também destacou a importância de ter o carnaval presente no show de um dos artistas mais ouvidos do mundo.

“A gente trabalhou em conjunto no estúdio, gravamos – até para poder ficar mais fácil para a aprendizagem da galera. A gente teve contato com ele (Alok) no estúdio. É uma pessoa extremamente simples e que soube entender o que é o samba e sua representatividade. Buscou trabalhar em conjunto com a gente. Estar e dividir palco com um artista do quilate dele só engrandece, cada vez mais, o nosso carnaval. Mostra que nós somos resistência e que a nossa cultura é algo que vai abrilhantar o ritmo que for – eletrônica, pop, reggae. Foi uma experiência incrível. Acredito que só engrandece o currículo do carnaval carioca e o currículo das escolas de samba e baterias – quem imaginou poder ter 12 mestres trabalhando juntos para um cara só. Foi gratificante”, disse mestre Fafá.

O mestre de bateria comentou o que achou da apresentação e enfatizou a importância de Pretinho da Serrinha no projeto e do diretor do evento, o produtor Abel Gomes.

“Acredito que antes de falar do Alok, temos que falar do Abel, que foi o responsável por montar toda essa estrutura. Não podemos esquecer do Pretinho da Serrinha, que trabalhou, junto com os mestres de bateria, as duas músicas. É uma honra poder estar em um espetáculo tão gigante como esse. A apresentação foi algo incrível e teve uma energia surreal. Estar ali com 11 companheiros de trabalho e de luta foi uma emoção muito grande. Poder ajudar a produzir um espetáculo dessa magnitude, para milhares de pessoas, foi muito gratificante”, disse o mestre de bateria da Acadêmicos do Grande Rio.

Público aprova o carnaval na festa em Copacabana

Junção aprovada até mesmo pelos turistas. Lucas Bortolazzi, DJ e estudante de 23 anos, percorreu de ônibus, com nove familiares, quase 500 km para chegar ao Rio. Eles vieram de Simonésia, em Minas Gerais, somente para acompanhar o show. Para ele, a parceria entre o samba e a música eletrônica deu muito certo.

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Lucas Bortolazzi, DJ e estudante de 23 anos, percorreu de ônibus, com nove familiares, quase 500 km para chegar ao Rio. Eles vieram de Simonésia, em Minas Gerais, somente para acompanhar o show. Para ele, a parceria entre o samba e a música eletrônica deu muito certo

“Por ser especialmente no Rio de Janeiro achei que combinou demais. É difícil achar um DJ que combine as duas, mas o Alok conseguiu – ainda mais porque se juntou com mais de 120 integrantes das escolas de samba. Ele conseguiu fazer a junção muito bem. O palco me surpreendeu, não achei que seria isso tudo. É o primeiro show do Alok que venho. Saí de Minas só para assistir”, afirmou Lucas.

Lucas contou que a cidade de Simonésia também tem desfiles de carnaval. Tradição local há 30 anos, o evento arrasta multidões todos os anos. O mineiro comentou a importância de valorizar a cultura regional em um show tão grande como o do Alok.

“Lá na minha cidade tem carnaval e, apesar de ser menor, é referência na região inteira. Acredito que é 100% importante (valorização), porque o Brasil vem do samba – principalmente em uma cidade como o Rio, que já foi capital do país”, comentou.

Nascido em São Paulo, mas morador do Rio de Janeiro desde 2009, Lucas Chacon, 34 anos, professor de educação física, disse que a parceria feita pelos sambistas e Alok une a cultura brasileira com a música eletrônica. Segundo ele, a proposta apresentada pelo artista vai deixar as pessoas com sede de conhecimento.

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Nascido em São Paulo, mas morador do Rio de Janeiro desde 2009, Lucas Chacon, 34 anos, professor de educação física, disse que a parceria feita pelos sambistas e Alok une a cultura brasileira com a música eletrônica

“O show foi fantástico, ainda mais com ele trazendo o carnaval e o samba, que são a cara do Rio de Janeiro. Isso tudo gera uma empatia do público. Foi fantástico, ainda mais por esse momento com chuva que ninguém esperava. A junção com o samba foi muito boa, porque só aproximou ainda mais o lado brasileiro e carioca com a música eletrônica. Dá uma proximidade e desmistifica o que é o eletrônico e o samba – que são muita coisa. O palco foi fantástico, a pirâmide é algo genial. O que ele trouxe vai deixar muita gente curiosa e com sede de conhecimento. Isso que ele está fazendo é trazer cultura através da música”, declarou Chacon.

Corinthiano desde pequeno, Chacon acompanhava os desfiles da Gaviões da Fiel em São Paulo. Quando chegou ao Rio, se identificou com a Beija-Flor de Nilópolis e virou torcedor. Para ele, não há uma identidade mais forte para o Rio de Janeiro que não seja o carnaval.

“Já vi em São Paulo e no Rio de Janeiro, acompanhei alguns ensaios da Vila Isabel e Grande Rio e fui em algumas escolas. Nunca desfilei, mas é uma meta. Eu achei muito legal, principalmente porque ele vem falando que o futuro é ancestral. Ele havia falado que estava tentando encontrar uma forma de se aproximar do público carioca. E não teve nada melhor do que isso. O samba é a cara do Rio”, afirmou.

Quem é sambista raiz também aproveitou o show. Eli Candido, 46 anos, professora e portelense, disse que colocar o carnaval em um evento como o show do Alok é importante para levar a cultura do samba às novas gerações.

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Eli Candido, 46 anos, professora e portelense, disse que colocar o carnaval em um evento como o show do Alok é importante para levar a cultura do samba às novas gerações

“A apresentação foi muito legal. Nota mil para o Alok e para a organização. É muito importante. No último dia 22, por exemplo, comemoramos o Dia do Folclore. A gente vê que cada vez mais essas culturas de músicas, das danças e festas estão ficando esquecidas. Acho que as novas gerações não estão acompanhando tanto. É bom trazer para as novas gerações. A iniciativa foi muito boa”, comentou Eli.