A Viradouro prepara para o Carnaval 2024 o enredo “Arroboboi, Dangbé”, do carnavalesco Tarcísio Zanon, com um texto do enredista João Gustavo Melo. Na apresentação da sinopse coube a rainha de bateria, a atriz Érika Januzza, a leitura do texto. Dividido no formato dos setores do desfile, ele traz como fio condutor a serpente, ela que percorrerá por todos os setores, em seu caminho, apresentará a manutenção das crenças dos povos da região da Costa da Mina, movimentando-se pelo culto dela própria, pelo pacto místico das guerreiras Mino, assim como a chegada do culto voduns no Brasil sob o nome de Ludovina Pessoa.
Marcelinho Calil, agora em novo cargo, diretor executivo da escola, pontuou diversas vezes que a sinopse apresentada é a melhor de todos os tempos da escola. A herança de Ludovina será no enredo representada pelos terreiros do Seja Hundé de Cachoeira e Bogum de Salvador. A serpente continuará sua trajetória trazendo o sincretismo religioso entre batuques, rezas, tambores e ladainhas cruzando os ritos às divindades da costa africana e a barroca expressão do catolicismo. Por último, o enredo apresenta o retorno da boca da serpente que em espiral movimentou e chegou em seu próprio rabo, fazendo a conexão dos ensinamentos das herdeiras de Dangbé, com a Viradouro celebrando o culto Jeje. * LEIA AQUI A SIINOPSE DO ENREDO DA VIRADOURO
Logo após a leitura do enredo, Marcelinho Calil pontuou que a escolha do enredo foi baseada no sentimento que eles desejam que a Viradouro tenha em 2024:
“Esse enredo tem uma afinidade muito grande com o espírito que a gente quer para o próximo carnaval, força é uma das palavras que traduz esse enredo, conseguimos juntar uma série de dados e pesquisas para chegarmos nesse texto, principalmente, escutando as vivências e oralidade daqueles que nos receberam (os terreiros Seja Hundé de Cachoeira e Bogum de Salvador). A ideia sempre foi fazer algo com grande alcance e completo, particularmente é a melhor sinopse que tivemos nos últimos anos”, disse Marcelo Calil.
O carnavalesco Tarcísio Zanon apresentou cada parte dos setores que a escola trará, através de uma apresentação em slides, ele didaticamente contou cada ponto específico do enredo.
“Esse enredo nasceu de uma forma muito especial, ele nasce de uma forma intuitiva. Sendo um enredo que trata do sagrado, é significativo que nasça dessa forma, a gente tem tratado com muito respeito, estamos lendo muito, estudando e conversando com quem entende essa religiosidade, aqueles que vivem dela. Quando falamos de voduns e candomblé Jeje é necessário se viver muito para poder entender. Estamos tendo todo respeito para que possamos traduzir essa energia que é de Dangbé, ela que traz fartura, movimento, que conecta o chão com o sagrado. Esse é um enredo autoral, e é importante que se prenda à sinopse, pois juntamos fatos históricos com relatos orais da ancestralidade para que conseguíssemos montar essa narrativa cronológica e coerente”, pontuou o carnavalesco.
E foi dito, mais de uma vez, sobre os compositores se prenderem à sinopse, João Gustavo Melo, acrescentou que o compositor é razão de ser da escola de samba e que ele tem certeza de que dali sairá o melhor samba de enredo de 2024.
“Temos que falar com o compositor, que é razão de ser da escola de samba, porque a escola acontece na avenida por causa dos compositores e por isso inserimos no final do texto uma mensagem a vocês. Cada obra de vocês, escolhida ou não, contribui para escola. Vamos contar também com a ajuda de Bogum e Seja Hundé para que eles tenham um contato com o samba, para termos o samba mais adequado que irá contar a saga e a fé Jeje. Vai sair dessa quadra, dessa ala de compositores, o melhor samba do carnaval de 2024”, finalizou o pesquisador sob aplausos dos compositores.
Da Bahia veio a comitiva dos terreiros pontuados na sinopse, representando Seja Hundé, o Ogam Carlos falou aos compositores sobre a alegria de estar ali, até porque ele é carioca, e que vai lutar com a Viradouro para conquistar a terceira estrela para escola. Já representando Bogum, a mãe Nadogi disse que é um grande prazer estar na vermelha e branca de Niterói, e fez mistério dizendo que muitas surpresas virão. Também do Bogum, Mateus Melo, disse que estava disponível para conversas, principalmente, relacionadas à musicalidade e a própria fé Jejé.
No final, após o carnavalesco ter tirado as dúvidas dos compositores presentes. Alex Fab reforçou a obrigatoriedade que cada parceria tem de pelo menos ir à duas participações nas tiradas de dúvidas que serão posteriormente agendadas. Nessas conversas dos compositores com o Tarcísio, com o João Gustavo Melo e com a direção será adiantado alguns pontos importantes do projeto que será levado à avenida.