O Acadêmicos do Tucuruvi apresentou na noite da última sexta-feira o seu elenco e fez a explanação do enredo para a imprensa, diretores e convidados presentes no barracão da agremiação dentro da Fábrica do Samba. Sobre o tema “Ifá”, a escola irá fazer algo diferente do que é de costume em seus carnavais, pois não é de característica do Tucuruvi adentrar no mundo das religiões. É uma proposta que sai do eixo, mas que está sendo abraçada pela comunidade. Os artistas Dione Leite e Yago Duarte conversaram com o CARNAVALESCO e explicaram um pouco sobre o tema e as situações que levaram a agremiação chegar nesse consenso para 2024.
Perspectiva de enredo com os carnavalescos
“Ifá fala de caráter, do interior e de evolução espiritual. É uma ciência que está relacionada à matemática, tecnologia, arte. São muitos saberes, preceitos e tradições que vem da nossa mãe África para o início de tudo que a gente conhece de matriz africana. Ifá é o começo de tudo”, disse Yago.
“Quando se fala de Ifá e Exú quando não se tem o conhecimento para buscar informação, a gente descobre que não há um sem o outro, porque é primordial. Exú é quem comunica. Ele é a base para que a gente possa ter essa história contada. Como Exú é a comunicação, se torna o prólogo do nosso enredo. É aquele que vem contar para nós sobre Ifá. Ele pede licença para contar sobre o seu melhor amigo. Por isso ele é tão presente aqui, nas nossas casas e nossas vidas. Tucuruvi têm os caminhos abertos e, agora, com Ifá junto de Exú, vem um ano incrível”, completou Dione.
Como dito anteriormente, a escola da Cantareira não é acostumada a entrar no mérito religioso. Ciente disso, os carnavalescos comentaram sobre a proposta para 2024. “O Tucuruvi está em uma mudança de mentalidade e isso não vem só de dentro da própria comunidade, mas sim dentro da escola. O que ela quer falar para o Anhembi e para o público. Afinal, as escolas de samba são veículos de informação muito importantes através das artes. A gente fala de um enredo tão profundo de matriz africana e que não é a identidade da escola, isso na verdade é um caminho que estava se tomando. No desfile de Bezerra da Silva nós abordamos religiosidade no segundo setor”, declarou Yago
“É realmente a primeira vez. O Tucuruvi já falou de uma África geográfica. Tem outra curiosidade também: Eu esperei muitos anos para fazer um enredo africano religioso. Esse carnaval é a primeira oportunidade para isso. Graças a Exú estamos crescendo juntos. Tem sido incrível e é renovador”, finalizou Dione.
Novo reforço na comissão de frente
Tucuruvi também tem um estreante na comissão de frente. Trata-se do coreógrafo Renan Banov, que fez um longo trabalho na Unidos de Vila Maria. Após 10 anos na verde, azul e branco da Zona Norte, o dançarino chega à Cantareira para fazer parte do novo projeto que a escola está desenvolvendo. “Foram 10 anos de Vila Maria e agora estou aqui no Acadêmicos do Tucuruvi. Eu fui recebido de peito aberto pela comunidade e pretendo fazer o melhor trabalho. Temos muitas surpresas, vamos trabalhar com muita humildade que nada supera isso”, declarou Renan Banov.
Uma nova identidade no desfile
O vice-presidente e diretor de carnaval da escola, Rodrigo Delduque, enalteceu o enredo e, segundo ele, era uma vontade da comunidade. “Nós temos um enredo diferente mesmo, porque não será só afro. Será um tema de cunho social, cultural e religioso. Quando nós jogamos para a escola o entendimento, era uma devolutiva positiva que a gente esperava. Foi quase unânime a comunidade pedindo um enredo afro, porque o Tucuruvi não é de entrar em religião e política, mas a gente entendeu que seria uma oportunidade maravilhosa para mostrar uma África que ela tem que ser. A escola entendeu e vai aprender com todo mundo. É um processo de aprendizagem e maturação. Eles vão sair felizes no dia do desfile e quando passar a linha amarela, vão sair mais realizados ainda”, comentou.
No início do discurso, Delduque deu uma provocada nos diretores e falou de acomodação. A agremiação ocupou a parte de baixo da tabela, tendo como resultado a décima primeira colocação. O vice-presidente disse que procura instigar a comunidade para mostrar a insatisfação, mas prevê melhorias. “Eu procuro sempre provocar a escola. Acho que como todas as coirmãs, ninguém trabalha para ficar nessa colocação. A gente não vê isso como algo de errado, até porque as outras escolas também tiveram muito empenho e trabalho, mas nós que estamos aqui dentro, devemos provocar nossa comunidade a todo momento mostrando que o décimo primeiro lugar para um campeonato que tem 14 escolas não é o nosso lugar. A gente não aceita, queremos melhorias e queremos sim o título como todo sambista e dirigente de carnaval trabalha para isso. Precisamos seguir e lutar para conquistar”, disse.
Nos próximos dias o Tucuruvi irá apresentar a sinopse para os compositores, mas já tem uma data de final de samba-enredo marcada, que será no dia 06 de agosto. Rodrigo explicou os próximos passos. “Esse ano nós mudamos a forma por questões técnicas, também pela Liga que mudou a forma e então a gente muda o nosso sistema. Um enredo com um apelo desse, seria muito egoísmo da nossa parte fazer um samba fechado. Tenho certeza que nós temos irmãos de Ifá, compositores e sambistas que podem nos trazer essa essência. Vamos fazer essa disputa no CD com a semifinal e final já com data marcada”, completou.
Intérprete Hudson Luiz é apresentado no Tucuruvi
Na apresentação do elenco para 2024, havia uma grande expectativa para ver quem iria assumir o posto de intérprete oficial da escola, deixado por Carlos Júnior no último carnaval. Em grande suspense, o cantor Hudson Luiz surgiu cantando um dos sambas-exaltação da agremiação. O intérprete desfilou no último carnaval pela Rosas de Ouro, fazendo dupla com Royce do Cavaco.
Hudson conversou com o CARNAVALESCO e comentou como é estar na sua nova casa. “É um sentimento muito gostoso. O Tucuruvi é uma escola que eu admiro há muito tempo. Como eu falei aqui, cantar o hino “vou peito aberto e sem medo, Zona Norte é o aconchego” para mim foi muito gratificante, emocionante e me trouxe uma felicidade muito grande. Hoje me sinto muito feliz e realizado em estar no Tucuruvi, agradecendo o Rodrigo Delduque e toda diretoria que me deu essa oportunidade de fazer parte dessa família que é muito unida e que vai em busca do nosso sonho, que é ser campeã do carnaval”, disse.
Em sua apresentação, o intérprete cantou diversos sambas da história da escola. Perguntado sobre qual seria o sonho dele para entrar na avenida, o cantor disse que 2011 é o preferido. “Certamente seria o ano do Nordeste (2011). Eu gosto muito e é um samba que marcou a escola. Seria um samba que gostaria de ter desfilado na época, mas tenho certeza que 2024 prepara um desfile muito grande”, declarou.