Musa da Vila Isabel, Dandara Oliveira se tornou uma grande figura dos desfiles de carnaval. Cria da agremiação, ela estreou na folia com apenas seis anos de idade. Neste tempo, tornou-se passista, princesa da bateria e atualmente é musa da comunidade. Em entrevista ao CARNAVALESCO, Dandara falou sobre sua trajetória e relação com a Vila, além da importância do surgimento de meninas como a ‘Dandara’ no mundo do samba.
O que a Vila Isabel representa na sua vida?
“A Vila é a porta do samba do carnaval na minha vida. Minha família inteira é da Vila, eu sou nascida e criada na Vila, meus filhos também estão na Vila. São 26 anos dedicados a esse amor.”
Qual caminho você teve que percorrer para chegar em uma posição de destaque como musa?
“Eu comecei cedo. Comecei na ala das crianças, depois fui para a frente da bateria como princesinha da bateria. Ganhei o estandarte de ouro como melhor passista, vim na ala de passista; destaque de carro, princesa da bateria até chegar a musa da comunidade. São dez anos como musa da comunidade.”
Você acha que o processo está mudando e agora novas “Dandaras” estão surgindo? Tanto como rainha como musas?
“Sim, Graças a Deus. O samba está voltando a sua origem, porque no início o samba era, majoritariamente, comunidade. E agora com a ascensão da Mayara, com a Bianca que já está há um tempo, a Evelyn, estamos vendo que está voltando essa cultura. Na vila teve concurso de musas – para que além de mim, tenha mais uma musa da comunidade. É importante para o samba, até porque é a gente que faz isso. De onde vem a raiz do samba é a comunidade. É bom as pessoas se sentirem representadas.”
Você já participou de novelas e programas de TV. Até onde o carnaval te levou e como ele mudou a sua vida?
“Eu digo que o carnaval me abriu portas que eu jamais esperei. Eu conheço vários lugares, vários estados através do carnaval. Fiz a última participação em ‘Travessia’ por conta do bairro, por eu morar em Vila Isabel e da minha história com a Vila. A Gloria (Perez) me procurou por isso, pela minha história com a escola de samba. Eu acredito que se não fosse o carnaval, eu não conheceria metade dos lugares que conheço e nem teria a expansão que eu tenho, não só no carnaval do Rio mas em São Paulo. Eu sou conhecida através do carnaval. Com certeza a minha vida seria diferente se não fosse o carnaval.”
Qual o segredo para ter samba no pé?
“Graças a Deus o meu é de sangue (risos). Mas eu acho que todo mundo pode fazer parte do carnaval. Acredito que o carnaval é muito agregador, você não precisa nascer no samba para estar no samba. Eu acho que esse é o diferencial do carnaval para as outras festas. Acho que se você gosta e curte, vem e se ‘joga’ (risos).”
Você ensinou samba no pé para Sabrina. Como foi esse processo?
“Eu e a Sabrina já temos muito tempo juntas. No início, era um trabalho, hoje a gente já faz outro tipo de trabalho. Antigamente foi a questão dela desfilar no Rio e em São Paulo, já que as baterias são diferentes. Então a gente começou adequando esse ritmo dela com o daqui. Hoje em dia a gente não faz mais isso. É mais para recordar um pouco, já que fica muito tempo parada. As coreografias, bossas da bateria e a apresentação para os jurados. Cada ano a gente faz uma diferente.”
Se um dia a Sabrina Parar, você indicaria uma menina da comunidade?
“Acho que sim. Acredito que a Vila e outras escolas merecem. Acho que não só a Sabrina, mas outras rainhas também. Acho que tinha que valorizar mais gente de casa. Graças a Deus, a Vila, além de mim, agora tem outra musa da comunidade. Só de lembrar que tem gente aqui já é importante.”
Você acredita que a Vila está se reaproximando da sua comunidade?
“Com certeza. Nesse último carnaval, nos acostumamos a ver componentes, que a gente não via mais na quadra, estarem presentes na quadra. A comunidade está muito feliz com a apresentação da escola. A gente voltou a fazer ensaio no morro, coisa que não fazíamos há algum tempo.”
Ser esposa do mestre de bateria ajuda no dia a dia ou vocês evitam falar sobre a Vila dentro de casa?
“Não ajuda e nem atrapalha (risos). Ele me mostra muita coisa que ele cria para ver se eu gosto ou saber o que acho. Acho que esse trabalho é importante: ele me ajuda no meu e eu ajudo no dele (risos).”
O pequeno já está seguindo no caminho do carnaval?
“O Gael gosta muito. Ele tem dois anos. A gente até brinca dizendo que não sabe de onde vem esse amor, mas ele é apaixonado no Tinga. Ele não pode escutar o samba da Vila que ele ama o Tinga. Eu não sei se ele vai ser ritmista ou puxador, mas no samba ele vai vir (risos).”
O que sua fantasia vai representar esse ano? Qual a diferença da fantasia dessa para a fantasia da última passagem dele pela Vila?
“Eu disse para o Paulo que ele realizou um sonho meu. Eu acompanho muito essa festa, sou apaixonada por ela e o Paulo me deu esse presente para eu poder me apresentar na Avenida com a minha escola. É linda. A minha, no último ano dele, eu vim na frente da bateria como princesa, em 2018. Foi mais tecnológica, tinha muito led, muita coisa. Eu posso dizer que essa é mais tradicional, mas tão linda quanto.”