Estreante no cargo de intérprete no carnaval passado, Wic Tavares se prepara para mais um show na Marquês de Sapucaí pela Unidos da Tijuca. Filha de Wantuir Oliveira, também intérprete da agremiação, Wic é uma entre as diversas pratas da casa que vêm ganhando espaço nas escolas de samba.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, a intérprete contou sobre a importância e o papel de representação em estar à frente do carro de som da Tijuca, além de seus planos para a carreira e o que espera do Carnaval deste ano.
Para Wic, o Carnaval deste ano é a sua confirmação no Grupo Especial e na família que é a Unidos da Tijuca. Esse é o segundo ano seguido em que ela será intérprete da escola ao lado de Wantuir.
“De fato (uma confirmação). Fico muito feliz em permanecer por mais um ano, porque a gente vê que não há muitas mulheres se perpetuando nessa posição, logo somem ou mudam de escola. Para mim, é uma extrema felicidade poder dar continuidade nessa história na Unidos da Tijuca junto com meu pai e com a família tijucana. Estou muito feliz, é uma confirmação sim e eu só tenho a agradecer”, disse Wic.
Um processo de valorização no mundo das intérpretes. Wic Tavares diz que ainda falta muito, mas, em pequenos passos, o devido espaço está surgindo.
“Ainda falta um bocado, mas já foram dados vários passos lá atrás. Demora, mas acredito que a gente consiga chegar lá. Espero que apareçam mais, que haja mais oportunidades para as mulheres estarem atuando. Tem muitas com bastante capacidade, tenho grandes amigas no samba, a minha mãe e minha madrinha que cantam no carnaval há anos. Tudo é com o tempo. Estamos dando pequenos passos, falta a gente conseguir ‘andar’ sem dar pausas”, enfatizou a intérprete.
Em meio a um cenário não muito favorável para as mulheres, a intérprete contou que foi abraçada pela escola de samba e por todos do carnaval. A presença de Wic Tavares no carro de som da Unidos da Tijuca é também uma mensagem de incentivo a todos os jovens e meninas que sonham em entrar no mundo do samba. A intérprete também revelou que com a sua chegada ao carro de som, meninas da comunidade começaram a ter o sonho de poder cantar na Tijuca.
“É muita energia boa. Eu não imaginava que poderia acontecer de eu ter a oportunidade de ser intérprete, não porque eu nunca sonhei, mas por conta do cenário que é bem complicado. Mas quando tem essa oportunidade, eu consigo tocar outras pessoas, outras crianças. Tem meninas do Borel que queriam sambar e agora querem ser intérpretes. Considero muito importante estar neste lugar, assim como já estiveram outras mulheres que me inspiraram. Eu fico muito feliz de ter realizado esse trabalho em 2022 com muito sucesso, axé, paz e amor – eu recebi muito amor não só da Unidos da Tijuca, mas do mundo do samba. Foi emocionante e muito importante”, disse a intérprete.
Cantar com o próprio pai já é uma imensa responsabilidade, ainda mais se tratando de Wantuir. Mas, segundo ela, o trabalho em família dá muito certo e não tem pressões dentro de casa.
“Dentro de casa não. A gente consegue se entender bem. É um diálogo muito tranquilo, meu pai é muito tranquilo e eu também. A gente só ajusta. É claro, meu pai é mais velho e eu sempre acato, ele tem muito mais experiência e a gente tem que escutar os mais velhos. Quem escuta os mais velhos vai longe (risos)”, contou.
Muito reconhecimento e prêmios recebidos. Para quem não imaginava um dia ser intérprete, chegou ainda mais alto: Com a visibilidade gerada pelo carnaval, ela contou que passou a fazer eventos e a ter muitas propostas fora do mundo do carnaval. A intérprete revelou que em Março ela participará do “TVZ”, do Multishow.
“Muita coisa. Estão surgindo várias oportunidades. Estou gravando várias coisas, sendo convidada para fazer muita coisa bacana, tendo visibilidade, também estou fazendo eventos; até atuando, coisa que não imaginava que poderia acontecer. A gente vive da arte e a arte é isso. A Tijuca me abriu muitas portas importantes, tanto dentro do samba como fora. Estou vindo em 2023 focada na minha carreira – junto com a Unidos da Tijuca, é claro – porque dá pra fazer de tudo um pouco sim!(risos) Posso adiantar que em março estarei estreando no ‘TVZ’ e a galera pode ficar ligada.”
“A gente se perde quando fugimos da nossa história”. A intérprete da Unidos da Tijuca falou sobre a importância de dar espaço e valorizar o trabalho de musas, passistas e rainhas de bateria que são da comunidade, afinal, elas constroem o carnaval.
“Acho que a gente se perde quando fugimos da nossa história. Perdemos as nossas raízes quando não valorizamos os nossos. Isso porque os nossos verdadeiros artistas são os sambistas que vivem isso. Nada melhor do que dar palco a quem faz o espetáculo acontecer. Acho maravilhoso ter as meninas da comunidade à frente da bateria, sendo reconhecidas como musas e brilhando fora da bolha do carnaval. Isso é importantíssimo, porque elas são as verdadeiras artistas. Vivem, respiram e dão sangue para estarem na escola, sempre dão um jeito para estarem presentes. Isso tem que ser valorizado. Eu fico muito feliz pelas meninas estarem tendo reconhecimento da arte delas”, ressaltou a intérprete da Unidos da Tijuca.
Por fim, questionada se aceitaria seguir carreira solo, caso recebesse o convite de outra escola, Wic disse que os planos é seguir trabalhando em família. Segundo a intérprete, a história entre ela e Wantuir se soma à Unidos da Tijuca.
“Acredito que esse legado ainda podemos manter. Não me imagino fazendo outra coisa, me vejo aqui dentro da Tijuca com o meu pai e continuando esse trabalho em família. Para quem vive o carnaval e acompanha a gente, sabe que essa história minha e do meu pai é muito linda. Acho muito legal esse lema de família, até porque o lema da Tijuca é família tijucana. Está tudo dentro da proposta da escola”, frisou.
Podendo se consolidar de vez neste ano, Wic Tavares entrará com a Unidos da Tijuca na Passarela do Samba durante o domingo de carnaval, quando será a quarta agremiação a entrar na Avenida.