Por Diogo Sampaio
A Beija-Flor de Nilópolis abriu a última noite da temporada de 2023 dos ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí com uma apresentação marcada pela força da sua comunidade. Com um canto muito forte e uma evolução sem erros, a azul e branca de Nilópolis provou estar preparada para ir em busca de mais um campeonato no desfile oficial. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO
- LEIA AQUI: ANÁLISE DA BATERIA NO ENSAIO TÉCNICO
Repleta de expectativas, a participação da cantora Ludmilla no carro de som da agremiação causou frisson no público. Era notória a grande quantidade de celulares a postos e com as lentes voltadas para a cantora, tanto nas frisas quanto nas arquibancadas. Mas o sucesso não ficou restrito aos holofotes, com a artista demostrando bastante desenvoltura e interação com Neguinho da Beija-Flor.
A agremiação será a quinta escola a desfilar no Sambódromo na segunda-feira de Carnaval, dia 19, pelo Grupo Especial. Na ocasião, a Deusa da Passarela apresentará o enredo “Brava Gente! O Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência”, dos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues.
“Para gente foi bom, porque fizemos o que planejamos. É uma escola que ensaia muito, na Mirandela que é o tamanho da avenida, com as marcações das cabines. Chegamos aqui com a intenção de fazer o que gente vem fazendo. É um ensaio. Qualquer coisa que acontecer aqui a gente ainda pode corrigir, porque não é o desfile. Mas tem que ensaiar certinho, está próximo do carnaval. Viemos muito preparados. Estamos saindo daqui com a sensação de que fizemos o que a gente vem apresentando na Mirandela, na quadra, em termos de canto, de evolução, tempo de avenida. Agora é conversar com as pessoas de cada setor e ver o que a gente vai debater do ensaio. Eu parabenizo minha bateria, do mestre Rodney e mestre Plínio. Harmonia maravilhosa. Que trabalho de harmonia, que canto da escola. A gente vem ensaiando, ensaiando, pedindo canto e a gente botou uma passada da escola cantando ‘sem nada’. E a escola cantando certinha, no lugar. Um trabalho maravilhoso da nossa comunidade”, explicou Dudu Azevedo, diretor de carnaval.
Comissão de Frente
A comissão de frente, assinada por Jorge Teixeira e Saulo Finelon, realizou uma apresentação preparada especialmente para este ensaio técnico. Os integrantes tinham como figurino uma calça e luvas azuis, camisa sem manga branca, uma placa prateada no peito, maquiagem verde no rosto e um cap policial estilizado. Eles ainda possuíam um bastão como adereço de mão.
Com passos bem marcados e toques de teatralização, a coreografia fazia grande utilização do bastão, que servia como uma extensão do corpo dos bailarinos, além de simbolizar outros elementos como as armas dos policiais. A comissão trazia um elemento cenográfico todo na cor azul, pouco explorado, que só tinha destaque ao final da apresentação, quando soltava fogos e levantava o público com a surpresa.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Parceiros há mais de 30 anos, Claudinho e Selminha Sorriso mostraram, mais uma vez, neste ensaio técnico, o motivo de serem uns dos casais de mestre-sala e porta-bandeira mais cultuados e celebrados do Carnaval carioca. Apesar da chuva no início do ensaio e da pista molhada, o casal demonstrou segurança, realizou movimentos precisos, sem economizar nos giros e rodopios. Os dois optaram pela dança clássica, dando um show de elegância, com gestos singelos e sutis ao interagirem e ao apresentarem o pavilhão.
Quanto ao figurino, houve o predomínio do branco no vestiário de ambos. No caso dele, um terno clássico. Já no dela, uma saia com detalhes em azul na barra e a parte de cima toda em pedraria, com plumas brancas no ombro esquerdo.
“Para mim, aqui, sempre é jogo. O treino é valendo. Respeito ao público , o prazer e a gratidão de estar aqui neste solo sagrado, no palco sagrado de todos os sambistas. É o primeiro desfile no calendário oficial, tem um gostinho muito especial. Com ou sem chuva. Sempre tem que melhorar. A humildade e o profissionalismo consiste em você entender que pode fazer o melhor. Cada dia vai se aperfeiçoando buscando o seu melhor. Buscar o melhor e entender onde precisa melhorar. Também ver o público que não paga pra estar aqui, vale muito a pena pode receber o carinho e calor humano deles”, disse Selminha.
“Foi maravilhoso. Só tenho que agradecer a Deus e os Orixás que nos abençoou. Hoje a gente pode fazer esse ensaio técnico mais tranquilo e com calma. A gente vai acertando. Ensaio técnico é feito para isso, testar algumas coidas e ver o que foi negativo e o que foi positivo. Você sente como se fosse o dia do desfile, sente sua escola pulsando’, completou Claudinho.
Samba-Enredo
Assinado pelos compositores Léo do Piso, Beto Nega, Manolo, Diego Oliveira, Julio Assis e Diogo Rosa, o samba-enredo da Beija-Flor teve um ótimo rendimento no ensaio técnico. O canto forte da comunidade, aliado ao bom desempenho do carro de som e da bateria, fizeram a diferença para que a obra funcionasse na Avenida.
Encarando pela primeira vez o desafio de defender um samba em plena Marquês de Sapucaí, a cantora Ludmilla não fez feio. A artista demonstrou segurança ao conduzir a obra ao lado de Neguinho da Beija-Flor e ainda arriscou alguns cacos. Neguinho também esbanjou confiança e entrosamento com a nova parceira de carro de som e com a bateria “Soberana”.
Aliás, os ritmistas de mestre Plínio e Rodney estão tão alinhados com o samba-enredo que ousaram ao fazerem uma paradona durante uma passagem inteira da obra. A experiência, que empolgou as arquibancadas, evidenciou ainda mais o canto da comunidade, que sustentou a harmonia sem deixar o ritmo cair.
Harmonia
Falando em harmonia, o quesito foi um dos pontos altos do ensaio técnico da Beija-Flor. A comunidade nilopolitana abraçou a obra escolhida para embalar o desfile deste ano e isso ficou evidente ao se observar a forma como a escola a entuou. Da primeira a última ala, foi possível conferir componentes com o samba na ponta na língua. Houve certas variações, mas no geral o canto foi bem uniforme. Um dos destaques positivos foi a ala das passistas, que além do samba no pé, berraram a plenos pulmões o hino para o Carnaval 2023.
Evolução
A Beija-Flor teve uma evolução correta no ensaio técnico. A azul e branca de Nilópolis apresentou alas compactas, sem embolar ou abrir clarões, e manteve um ritmo cadenciado, não correndo em nenhum momento. O destaque positivo fica para metade final da escola, com componentes mais soltos, pulando e brincando. Já um ponto de preocupação fica para a sequência de alas coreografadas na abertura, as três primeiras, o que tira a espontaneidade logo no início do desfile.
Outros Destaques
Se não bastante a força dos quesitos de chão e a presença de Ludmilla, o ensaio técnico da Beija-Flor contou com outras atrações que o transformam em um verdadeiro show. Em um dos momentos de interação, antes do treino começar, assim como no ano passado, membros da escola jogaram camisas para as arquibancadas e frisas, fazendo a alegria do público. Os canhões que disparavam papel picado também fizeram sucesso entre os presentes no Sambódromo.
A rainha de bateria Lorena Raíssa não aparentou ter se abalado ou se amedrontado com a missão de substituir Raíssa de Oliveira, que ocupava o cargo há duas décadas. A jovem de 15 anos sambou, cantou e se jogou, sempre com um sorriso no rosto.
“Acho que foi um ensaio muito bom. Como os outros, também é um ensaio. Fomos bem. Sabemos que vamos colher os resultados no desfile. Estamos felizes demais. O pontapé foi dado e na próxima segunda-feira estaremos aqui para, se Deus quiser, levar o título para Nilópolis. “É tudo uma crescente. Desfile é diferente de ensaio, até mesmo pelo nível de emoção. Estamos prontos, apenas esperando o momento de colocar as fantasia”, contou mestre Rodney, que vai desfilar com 260 ritmistas e preparou sete convenções.
Outras personalidades que chamaram a atenção ao longo do ensaio técnico foram Pinah e o carnavalesco André Rodrigues. A chamada Cinderela Negra foi ovacionada, com gritos e aplausos, após cumprimentar o público do Setor Um da Sapucaí. Já Rodrigues, parceiro de Alexandre Louzada na confecção do desfile da escola, se acabou na pista durante o final da apresentação nilopolitana.
Colaboraram Eduardo Frois, Luisa Alves e Rhyan de Meira