Depois de três carnavais realizados por Edson Pereira, a Vila Isabel volta a apostar no multicampeão Paulo Barros. A escola e o artista vão se reunir pela terceira vez para tentar finalmente uma parceria de sucesso. Em 2009, com Paulo na comissão de carnaval, dividindo a parte criativa com Alex de Souza, a Vila ficou em quarto lugar. Já em 2018, a Azul e Branca foi a nona colocada. Com o novo presidente, Luiz Guimarães, a Vila deu a Paulo Barros autonomia para escolher e desenvolver o enredo, com a grande condição de que fosse um enredo alegre e que permitisse à escola trazer um astral bastante positivo para a Avenida. Em acordo com estas condições, o artista escolheu falar das festas religiosas espalhadas pelo Brasil e o mundo, inclusive a folia carioca, para comemorar na Sapucaí o retorno de um carnaval que, dessa vez, no pós-pandemia, será na data esperada e sem nenhum tipo de restrição. O enredo vai da cultura festiva da Grécia antiga representada pelo Deus Baco, passando por festas no mundo todo, festas típicas do Brasil, as celebrações do dia dos mortos, até finalmente aportar no carnaval.
Campeã pela última vez em 2013, e com um quarto lugar no carnaval passado, quando homenageou um dos seus maiores baluartes, Martinho, a Vila espera que as ideias de Paulo possam contagiar a Sapucaí e que o artista possa retornar seus dias mais gloriosos. Braço direito do carnavalesco no barracão e no dia-a-dia, o diretor de carnaval, Moisés Carvalho, em entrevista ao site CARNAVALESCO, explicou como se deu a escolha do enredo que foi bastante trabalhado pela diretoria antes de ser divulgado ao público.
“O enredo é do Paulo. E o presidente passou para o Paulo o que ele queria de enredo para a Vila, queria um enredo alegre, para frente, que desse um samba alegre, um carnaval com visual. Depois de alguns meses de bate papo, o Paulo apresentou esse enredo, o presidente comprou a ideia e foi escolhido”, explicou o diretor.
Um dos personagens que a Vila não esconde e que será protagonista deste desfile, é a figura do Rei Momo, tradicional soberano maior do carnaval. Moisés Carvalho revelou mais sobre a função do personagem no enredo da Vila Isabel.
“O rei Momo aparece em dois pontos. É um dos fios condutores. E no enredo a gente fala das festas que tenham um valor cultural, nível mundial, e a gente termina no grande carnaval do Rio de Janeiro em que o Rei Momo faz parte dessa festa. São festas que têm densidade cultural e que têm uma religiosidade. Todas essas festas que são citadas também tem cunho religioso. A gente começa lá com o Deus Baco no início e faz uma viagem e termina no carnaval do Rio de Janeiro passando por vários carnavais de todo o mundo”, esclarece Moisés.
O diretor de carnaval da Vila Isabel tem participado de todos os processos de produção deste carnaval, desde a escolha de enredo, samba, até o desenvolvimento do desfile propriamente dito dentro do barracão. Moisés contou o que em sua opinião é um dos pontos mais fortes deste tema que será apresentado na segunda noite do Grupo Especial.
“Acho que é a parte religiosa, a diversidade cultural, a plástica, o colorido. É um enredo alegre, um enredo para frente. É um conjunto de coisas que dará um belo colorido na Avenida.Eu vejo a Vila com vários trunfos. Acho que a gente tem uma comunidade que abraçou o samba e o enredo. Uma bateria fantástica que está super entrosada com o carro de som. O samba, a gente apostou e acredita que vai ser um samba que vai explodir na Avenida. E temos um carnavalesco que está altamente inspirado e conseguiu plasticamente formar isso em fantasias e alegorias, tudo com a assinatura dele. Cada momento do desfile, cada setor, a gente vai ter uma novidade, uma surpresa”, promete o diretor de carnaval.
Carnaval será grandioso e com assinatura de Paulo Barros
O carnaval da Vila começa na mitologia grega. O “Evoé” é uma saudação ao deus do Vinho, Baco. E neste mesmo espírito de enredo, outras festas milenares de diversas culturas vão estar representadas na primeira parte do desfile. As celebrações de devoção a padroeiros e protetores espirituais regionais de lugares de todo o mundo também farão parte do desfile, assim como os festejos dos dias dos mortos, não de uma forma triste, mas aqueles que cultuam esta data com alegria, valorizando a vida e não a morte em si. Em termos regionais aqui no Brasil, a Vila vai homenagear as festas de São João, a lavagem das escadarias do Bonfim na Bahia, a Festa de Iemanjá, a Cavalhada, o Círio de Nazaré e o Festival de Parintins. Por fim, os carnavais do mundo e os nosso específico daqui, em especial do Rio de Janeiro, vão fechar essa festa com chave de ouro. Todo esse conteúdo estará representado de uma forma e com o olhar específico que o carnavalesco Paulo Barros gosta de apresentar ao público na Sapucaí.
“Acho que o Paulo vai dar a assinatura dele, senão não teria a razão para que ele fosse contratado. Ele vai apresentar a criatividade e vai trazer a plástica do carnaval que todo mundo gosta de ver, a decoração dos carros, as fantasias. Acho que ele foi muito feliz nos desenhos dos figurinos, nos carros, nos movimentos, tudo que ele escolheu estava bastante inspirado”, acredita o diretor de carnaval Moisés Carvalho.
Em termos de tamanho, a Vila veio bastante grande nos últimos anos com os trabalhos de Edson Pereira. Agora com o retorno do carnavalesco Paulo Barros, Moisés Carvalho promete que este gigantismo será ainda maior e a Vila vai seguir em uma linha de grandiosidade para o desfile de 2023.
“É uma Vila que mantém em termos de tamanhos os três últimos carnavais do Edson. Vem com volume, alegorias grandes, a escola mantém a tradição de vir grande, como veio nos últimos anos, não mudou nada nesse sentido. Pelo contrário, tenho certeza que teremos uma Vila até maior que nos últimos três anos. Tanto em componente, quanto em alegoria”, aponta o diretor.
Inovações estarão presentes no desfile a partir da parceria Paulo e Moisés
Na Vila Isabel desde 2018, uma das funções que Moisés Carvalho terá em 2018, será a de tentar realizar e tornar possíveis as ideias em profusão que surgem da cabeça do carnavalesco Paulo Barros. Há sempre a expectativa por um desfile com grandes surpresas, inovações tecnológicas e mistérios guardados a sete chaves. Moisés conta que o segredo para o trabalho é o diálogo que existe entre o artista e a equipe da Vila Isabel.
“Eu me dou bem com todos os carnavalescos que eu já trabalhei. Todos viraram meus amigos. A diferença do Paulo é que ele vive criando 24 horas. Muitas coisas são viáveis. E muitas coisas não são viáveis. Por isso que ele está sempre em contato com a galera de produção, de execução. A gente vive 24 horas, e não só ele. A gente sabe que ele gosta de ideias, a gente acorda com uma ideia e passa para ele também. A gente passa o dia inteiro trocando ideias para saber se aquilo é viável, se aquilo vai dar liga. De repente é uma grande ideia no papel mas a gente não consegue transformar isso em realidade. O Paulo nos tira um pouco da zona de conforto em função da criatividade dele ser acelerada, de ele estar sempre querendo o melhor para o espetáculo, para o público e jurados. Se for viável, se o presidente aprovar, a gente vai trabalhar o tempo todo para executar aquilo da melhor forma”, conta Moisés.
Juntos de novo na Vila Isabel, Paulo Barros e o diretor de carnaval Moisés Carvalho tem um histórico de sucesso. Em 2017 ajudaram a Portela a voltar a ser campeã depois de um jejum de mais três décadas sem o campeonato. Paulo, na época, chegou a elogiar o diretor, colocando ele como um dos melhores profissionais com quem trabalhou. A dupla também esteve junta no último trabalho do carnavalesco na Vila Isabel em 2018.
“Ele falou isso na época da Portela, porque eu tenho uma visão que bate muito com a dele. Eu procuro sempre andar na frente. Sempre pensar o que pode acontecer de positivo e negativo. A gente sempre procura pensar em um possível erro, no que vai ser o plano A, o plano B e o plano C. Isso era uma coisa que eu já adotava na minha vida particular, na minha empresa e no carnaval. Quando eu fui trabalhar com ele e nós não nos conhecíamos, ele começou a inventar algumas coisas e eu comecei a mostrar para ele o plano A, o plano B, como poderíamos fazer, e caiu muito bem, acho que foi daí que ele fez esse elogio. Porque a gente pensa muito parecido. Exemplo, acho que eu e ele, fizemos a primeira escola que passou a usar dois geradores na Avenida. Cada carro tinha dois geradores. Porque os carros dele são de muitos efeitos. A gente precisa do gerador para esses movimentos. E pensar em outras coisas, levar mais de uma bomba, ter gente para substituir as pessoas que fazem movimento se cansarem, por aí “, define o diretor de carnaval da Vila Isabel.
Moisés, aliás, tem boas lembranças do que chama de “loucuras” do carnavalesco. Na Portela em 2016, a comissão de frente tinha um personagem que era erguido do chão a partir de um jato de água que saía do tripé onde ele desfilava.
“Ele vive inventando loucuras. No ano da Portela teve um carro que rodava, aí teve a comissão de frente que tinha um componente que subia no jato de água. Aquilo foi um problema. Era um jet ski que estava ali. Toda noite tinha que subir o jet ski, descer o jet ski, e amarrava o pé. Tinha os jacarés que vinham se arrastando na Avenida também. A gente fazia uma forma específica e modelava o cara todo. Tem várias, mas tudo deu certo”, ressalta o diretor.
Fundamental na escolha do enredo, presidente é muito participativo
Mandatário mais jovem entre os presidentes das escolas filiadas à Liesa, Luiz Guimarães é filho do Capitão Guimarães, ex-presidente da Vila Isabel e da própria Liga. Luiz teve participação direta na definição do enredo ao conversar bastante com Paulo Barros e toda a equipe da Vila Isabel para definir alguns pontos, ainda que tenha dado toda autonomia para o artista desenvolvê-lo, mas primou para que o tema levasse alegria para a Sapucaí. No cotidiano, Luiz é sempre visto nos eventos da quadra, e segundo o diretor de carnaval Moisés Carvalho, o presidente está também presente quase que diariamente no barracão.
“É o presidente mais jovem do Grupo Especial, mas é um presidente que está sempre entrosado com o resto da escola, participativo, sempre presente nas nossas reuniões de produção quando ele está aqui. Nenhuma decisão é tomada sem a participação ou o conhecimento dele, um cara que acompanha a produção de barracão diariamente, está sempre dialogando com a gente de andamento. Ele questiona. Participou diretamente com o carnavalesco do desenvolvimento do enredo, do melhor caminho a ser tomado, ele é bem presente. Ele é novo, mas vive no carnaval desde sempre. Vive isso aqui, é um apaixonado pela Vila Isabel, um cara que respira o carnaval”, conclui Moisés Carvalho.
Conheça o desfile da Vila Isabel
Para o carnaval 2023, a Vila Isabel vai levar para a Sapucaí 2600 componentes divididos em 29 alas, 6 alegorias, uma delas acoplada, além de 2 tripés, e um elemento cenográfico da comissão de frente. O diretor Moisés Carvalho ajudou a definir mais sobre o desfile da Vila “Nessa Festa, Eu Levo Fé”. “São cinco setores e uma abertura”.
Abertura e Primeiro Setor
“Festas no mundo e a gente começa o desfile vindo lá da Grécia, com o Deus Baco”.
Segundo Setor
“É a apresentação de algumas festas pelo mundo, em um contexto mais geral e mais atual”.
Terceiro Setor
“São as festas brasileiras. O Macaco Branco(mestre de bateria) está até preparando uma paradinha na hora do samba e eles vêm fantasiados de festa junina. A gente vai falar das festas juninas, Caprichoso e Garantido, Iemanjá, todas as festas relacionadas ao Brasil”.
Quarto Setor
“Depois falamos das festas relacionadas ao dia dos mortos, que não é celebração da morte, mas celebração da vida. As festas que tem o lado positivo, a Festa do México, a Festa do jazz, que a do caixão que a galera segura”.
Quinto Setor
“A última festa é o carnaval. Aí vem o grande carro do carnaval, a viagem pelos carnavais de Veneza, blocos de rua, casal de mestre-sala e porta-bandeira homenageando todas as escolas da forma Paulo Barros”.