A Portela realizou seu último ensaio técnico na Rua Carolina Machado, no dia 18 de dezembro. Contando com bom público nas imediações, o canto portelense foi embalado pela “Tabajara do Samba”. Mestre Nilo Sérgio pretende levar duas paradinhas para o próximo desfile oficial da Portela. Uma bossa no refrão do meio e outra no final da segunda do samba. Ambas são de complexidade elevada, além de possuírem construção musical elaborada. A justificativa para não realizar bossa na cabeça do samba-enredo é para não prejudicar a fluência da obra, já que a escolha poética dos compositores foi colocar em primeira pessoa, como se Paulo da Portela falasse com sambistas, enquanto apresenta a escola. Colocar uma paradinha ali, segundo Nilo Sérgio, desrespeitaria o fundador da Majestade do Samba exatamente enquanto fala.

A bateria da Portela possui uma afinação de surdo levemente grave, bem como um balanço ritmado dos surdos de terceira, que auxilia no molho acentuado pelo naipe de caixas com batida rufada. Esse toque envolvendo as caixas de guerra portelense foi lapidado ao longo dos tempos com bastante didática e disciplina, exibindo uma musicalidade destacada após bastante ensaio. Tamborins desenhando o samba conforme pede a melodia e agogôs adicionando um tom metálico à bateria da Portela ajudam a complementar a sonoridade entre as peças leves. Mesmo sabendo da rotina exaustiva de treinos, Nilo Sérgio julga fundamental a oportunidade de realizar um número considerável de ensaios. Para o mestre, isso deixa o ritmista praticamente “no automático” visando o dia do desfile.

Nilo acredita ser maravilhoso o reconhecimento dos julgadores somente com notas máximas, nos dois últimos carnavais consecutivos. A sensação é que o trabalho está sendo reconhecido e é importante a continuidade do projeto que permitiu essa avaliação. Nilo aproveitou para exaltar a oficina de percussão da bateria da Portela, pois através dela está sendo possível revelar ritmistas atrelados à cultura musical da agremiação. Afinal, quem busca pertencer a um projeto desse tipo faz por amor à Majestade ou mesmo por carinho e respeito pelo ritmo peculiar produzido pela bateria da escola.

Comandando a bateria da Portela desde o Carnaval 2006, Nilo afirma que não esperava dirigir a “Tabajara” por tantos anos, estando prestes a participar como mestre de bateria do representativo carnaval centenário. O clima mistura emoção com um legado musical respaldado pela diretoria e admirado pela escola com a responsabilidade de representar um segmento tão importante, num desfile pra lá de simbólico.

A relação de parceria musical de longa data com o intérprete Gilsinho foi devidamente exaltada. Segundo o mestre, Gilsinho além da cara da Portela também tem um timbre vocal extremamente diferenciado, que se encontra plenamente ajustado à musicalidade portelense. Seu canto limpo, sem muitos cacos, funciona como trunfo que ainda conta com uma dicção privilegiada, que facilita a compreensão de todo samba-enredo.

No final do ensaio foi possível perceber o clima de emoção do povo com um enredo tão significativo. Tanto as alas da comunidade, quanto o público que foi prestigiar o ensaio da Majestade do Samba permaneceram seguindo a “Tabajara” até sua quadra. A escolta de sambistas em perfeito estado de encantamento com a Portela tem tudo para ser uma verdadeira frequente durante toda a preparação para o desfile da primeira escola de samba a completar cem anos no Carnaval.