Entre os vários estereótipos utilizados para definir o Rio de Janeiro, talvez, o amor coletivo pelo carnaval seja o mais realista. Muito mais que uma festa, ele já faz parte da essência do estado. Embora sua popularidade tenha ultrapassado barreiras continentais, os últimos anos foram de sofrimento para os mais próximos, que precisaram de força para enfrentar crises políticas e de saúde pública. Antes de tudo, é de extrema importância compreender o carnaval como a maior manifestação cultural brasileira.
O carnaval também é um ato de resistência. Desde a criação dos blocos de rua, há quase 100 anos, surgiu como uma ocasião que abraçaria os marginalizados. A oportunidade de negros, nordestinos e mulheres protagonizarem uma festividade e influenciarem diretamente em seu sucesso. Além disso, o carnaval significava um momento de lazer, em meio às dificuldades do cotidiano. Uma espécie de fuga da realidade, livre de preconceitos e tristezas. No presente, essa é a herança deixada que faz com que os brasileiros anseiem pelo mês de fevereiro e atrai turistas de toda parte. A busca por validação e respeito pode não ter sido fácil, mas o carnaval chegou ao patamar de uma das maiores festas populares do mundo.
Após os desfiles de 2022, realizados em abril, com os desfilantes e os foliões celebrando a vida e a esperança de tempos melhores, o pré-carnaval de 2023 ocorre de um jeito especial. O sentimento de união está ganhando destaque, com as quadras cheias e centenas de pessoas que gritam os sambas-enredo como se mal tivessem suportado a distância. A prova disso pode ser tida já nos ensaios técnicos, que começaram dia 14 de janeiro e lotaram os primeiros setores da Sapucaí. Em 2023, tudo parece estar voltando ao normal: desfiles em fevereiro, no verão, com turistas e sem restrições. O site CARNAVALESCO decidiu buscar testemunhas dessa história de superação nas arquibancadas, os espaços mais populares do Sambódromo.
Regina Lima, de 62 anos, contou que passou parte da vida na Avenida e agora prefere assistir. “Depois de tantas tristezas, como o povo brasileiro se diverte? O que temos para isso? O carnaval. Acho muito bom que o pessoal se extravase. A gente samba e também chora pelas pessoas que se foram. É uma coisa maravilhosa. A felicidade plena não existe, acredito mais em momentos felizes. O carnaval nos proporciona isso”, afirmou.
Gabriela Soares, de 27 anos, se emocionou ao mostrar vídeos de seu filho na concentração com a bateria do Império Serrano. “Para mim, é uma tradição familiar. Desfilo desde 2007 e estou criando o meu filho assim também. É mágico. Esse carnaval vai ficar marcado na minha vida porque o meu filho, que é a minha vida, está desfilando pela primeira vez”, disse.
Josimar Cardoso, de 64 anos, vestia as cores da Mangueira da cabeça aos pés. “Era isso que estava faltando para a gente e demorou muito até chegar. Esses últimos anos foram difíceis. O Rio de Janeiro sem carnaval e sem praia é complicado, né? Com certeza farei desse o carnaval da minha vida”, comentou.
Marcos Cabral, de 57 anos, veio de Minas Gerais para visitar uma prima. “O Rio inspira isso tudo, sabe? Estou feliz demais de ter encontrado amigos que quiseram estar aqui também. Precisamos celebrar a vida depois desse lembrete que ela passa rápido. Estou no Rio agora, mas espero voltar para os desfiles oficiais. Aqui é mesmo uma cidade maravilhosa”, afirmou.