O feriado de Nossa Senhora Aparecida de 2025 foi especialíssimo no Carnaval de São Paulo. A Tom Maior apresentou Bruno Ribas e homenageou Gilsinho, que era intérprete da vermelho e amarelo até falecer, em 30 de setembro. Para saber qual foi a lembrança que o intérprete deixou nos sambistas do Sumaré, o CARNAVALESCO perguntou qual foi a maior memória com o cantor que diversos profissionais da folia têm.
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Substituto não: herdeiro de um trabalho
Retornando à escola depois de cinco anos, Bruno Ribas foi o intérprete escolhido para comandar o microfone principal da Tom Maior após o falecimento do antigo cantor. Ele próprio fez questão de falar como encara o desafio: “Não estou substituindo: eu estou levando à frente um trabalho que foi deixado aqui por ele, como ele também pegou um trabalho que foi deixado por mim na Portela. Eu saí da Portela e ele pegou um trabalho que conduziu durante vinte anos com uma maestria fora do comum. Só tenho muita satisfação em relação a isso tudo. Espero que venha o título, porque isso está aqui, a garra dentro de mim é imensa. Eu quero isso concluído”, comentou.
Pouco depois, Bruno mencionou uma fala de Carlos Alves, o Carlão, presidente da escola e mestre da Tom 30 (bateria da escola), no dia em que o palco da agremiação ganhou o apelido do intérprete: “O mestre Carlão disse que o Gilsinho é insubstituível e eu concordo, mas eu acho que todos que passaram pelo carnaval são insubstituíveis. Todos têm o seu próprio DNA, todos têm a sua própria digital, todos têm a sua própria íris ocular, todos têm a sua forma de se entregar a sua arte. Alguém pode até copiar, mas não tem como ser o outro. É isso que eu expresso nesse momento”, divagou.

Competição e segurança
Ao ser perguntado sobre de qual forma o antigo intérprete mais o marcou, Carlão destacou a competitividade: “A maior lembrança dele é um conjunto: todas as vezes que ele pegava o microfone. Uma voz marcante, um cara altamente profissional, altamente positivo, um soldado, um guerreiro – que defendeu as nossas cores com muita garra. Ele é um cara que vai ficar na minha lembrança como meu amigo particular e como intérprete da Tom Maior. Ele deixou um legado de quem quer sempre vencer, quer sempre ser o melhor. Ele só pensava nisso, em ser o melhor sempre. Ele queria a escola dele, a Tom Maior, sempre na melhor posição possível. Foi isso que ficou marcado na minha mente”, eternizou.

Ana Paula Sgarbi, porta-bandeira da agremiação, relembrou uma conversa com o intérprete antes do desfile de “Aysú – uma história de amor“, em 2024: “A minha lembrança dele é muito forte, mesmo. Ele mostrava uma segurança no que ele fazia tão boa! Um dia, a gente falou para ele que a gente ficava muito nervoso, com muita expectativa. Ele respondeu que não ficava nervoso porque já sabia o que tinha que fazer. Ele falava que era assim, inclusive, na noite do desfile. Eu tenho essa lembrança muito forte porque eu queria muito ser o Gilsinho nessa hora. Ele era demais”, lembrou, citando um palavrão cortado pela edição.
Ruhanan Lucas, mestre-sala vermelho e amarelo, foi na mesma linha – e revelou um hobby que o cantor tinha que poucos conhecem: “Eu ia falar a mesma coisa que a Ana Paula falou. Por sinal, ele contou pra gente nesse dia que ele foi lutador por muito tempo, e ele tinha essa segurança aprendida nas lutas. Ele falava que quando era um combate mais físico, para ele era muito pior – e eu, rindo, respondi para ele que o nosso trabalho também era físico, a gente vai para um combate físico e a gente morre fisicamente no final do desfile. Ele falou que entendia, mas que conseguia se controlar emocionalmente, como se o dia do desfile fosse qualquer dia para ele. A gente ficou surpreso, para a gente isso é bem difícil”, refletiu.

Ausência sentida
Antes da ausência eterna e tocante que Gilsinho deixou, um não-momento do intérprete com a Tom Maior marcou Flávio Campello, carnavalesco da escola: “A minha grande lembrança do Gilsinho, curiosamente, é uma ausência. O Carnaval 2025 foi marcado por um título, pelo retorno da nossa escola ao Grupo Especial. Partiu meu coração olhar para o carro de som do Desfile das Campeãs e ele não estar presente. Aquilo doeu um pouco. Essa ausência de hoje nessa quadra é a mesma ausência que a dor que eu tive no Desfile das Campeãs”, afirmou.
Além de intérprete da Tom Maior, Gilsinho também era o intérprete da Portela. Em 2025, as duas escolas que ele defendia no eixo Rio-São Paulo foram para os respectivos Desfile das Campeãs: a paulistana enquanto campeã do Grupo de Acesso I com a reedição de “Uma nova Angola se abre para o mundo! Em nome da paz, Martinho da Vila canta a liberdade!” e a Águia como quinta colocada com “Cantar Será Buscar o Caminho que Vai Dar no Sol – Uma Homenagem a Milton Nascimento”. Ele, então ficou na Cidade Maravilhosa.

Profissionalismo incontestável
Érica Ferreira, diretora de Carnaval e de Harmonia da Tom Maior, relembrou mais uma qualidade do cantor: “Foi o meu primeiro ano trabalhando com o Gilson, estava indo para o segundo com ele. O profissionalismo dele, a disciplina dele é incontestável. Eu nunca precisei falar qual era o horário do ensaio: ele chegava no horário, sempre estava envolvido com toda a nossa comunidade”, afirmou.
Antes de ficar com a voz embargada, a diretora concluiu: “O carisma dele, o ajudar a escola, sobretudo em questões musicais… ele sempre nos ajudava. Além da linda voz, dessa potência vocal que ele sempre teve, eu vou guardar a lembrança de um dos profissionais mais disciplinados com quem eu já trabalhei”, emocionou-se.

Características pouco conhecidas
Gilsinho era conhecido por muitos como uma pessoa extremamente carismática e talentosa, mas um tanto quanto explosivo. Alguns nomes da Tom Maior, porém, recordaram outros traços da personalidade marcantes do intérprete.
Bruno Ribas foi um deles: “Eu tenho muitas lembranças do Gilsinho, mas a melhor lembrança que eu tenho dele é a sinceridade que ele sempre teve, são os bons conselhos que ele sempre deu, as boas conversas. Só quem teve a oportunidade de conviver de perto e de ter esse lado dele, de conhecer esse lado conselheiro, parceiro, do cara que estava pronto para ajudar sempre, sabe como ele era. Ele era o cara que dava esporro, mas também era o cara que te dava carinho. Era meu irmão mesmo, meu parceiro”, destacou.
Érica também destacou o lado brincalhão do intérprete: “A minha maior lembrança com o Gilson é que a gente brigava por causa de roupa! Eu falava com ele que quem iria brigar para escolher a roupa do time de canto e da ala musical era eu, e era muito engraçado. Ele falava que queria ir de branco e eu dizia que tinham outras formas de ir para a Avenida. Isso é uma grande brincadeira, é claro, mas a gente brincava muito”, finalizou.









