Começou na noite da última sexta-feira a temporada de ensaios técnicos das escolas de samba de São Paulo. O Vai-Vai, que é a agremiação com mais títulos no carnaval paulistano, deu o pontapé inicial. O dia foi marcado por um clima de muita emoção por parte de todos os sambistas envolvidos no Anhembi. O enredo da escola, “Sankofa”, combina muito com o que presenciado na pista. Se trata de voltar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro. Uma verdadeira mensagem de que o carnaval voltou!
Analisando o ensaio do Vai-Vai, claramente houve um nervosismo por parte de alguns componentes ao pisar na avenida. Algo normal para um primeiro momento de reencontro, e, também, por tudo que a escola passou nos últimos anos. Mas, tecnicamente, isso pode impactar diretamente na evolução ou harmonia da escola. São ajustes a serem feitos.
Harmonia
O Vai-Vai é famoso pelo grande “chão” que a escola sempre demonstrou. Seus componentes são bem aguerridos e nitidamente colocam o seu amor ao pavilhão dentro do samba-enredo. Mas, como dito anteriormente, houve uma grande insegurança por parte de alguns e isso comprometeu o canto de algumas alas, principalmente, do primeiro setor. Vale ressaltar a linda apresentação das baianas, que entoaram muito bem o hino de 2022. A partir do segundo do segundo setor, já foi possível ver alas mais animadas e cantando bem, honrando a característica da Saracura. Portanto, não houve equilíbrio nesse quesito. Sentimos algumas alas bem entrosadas e outras não. Componentes mais leves e outros menos.
Para Gabriel Melo, diretor de carnaval da escola, de fato alguns erros devem ser corrigidos, mas a atuação foi dentro do esperado. “A gente fez um ensaio para testar algumas situações e conseguimos fazer o que queria. Agora, nós temos que ajustar alguns segmentos que naturalmente são devagar, como algumas coisas de performances, mas no geral, a escola passou tecnicamente dentro do que a gente queria e dentro do nosso tempo. O rendimento do samba pra canto foi muito bom, nós temos alguns pontos para melhor na questão individual dos componentes que pode ser um pouco mais solta. Sentimos que eles estavam com medo de errar, mas o ensaio é pra isso. Casais foram bem, comissão fez o que precisava fazer hoje, que era só a marcação. O andamento foi bom e fechamos com 1h01”, disse.
Segundo o diretor, o ponto alto da escola no ensaio, foi o canto da escola. “O ponto alto acho que foi o canto da escola. É um novo estilo de samba pra escola, que nunca nesse estilo. A gente está sempre observando como vai ser o comportamento dos componentes, especialmente quando se passa do recuo de bateria, onde o samba dá uma ‘sentada’, mas o carro de som foi bem e acho que o ponto mais forte da escola foi esse”.
Mestre-sala e porta-bandeira
O casal Reginaldo Pereira e Paula Penteado, mais conhecidos como Pingo e Paulinha, protagonizou o melhor quesito da escola no ensaio. Um bailado que encanta, uma sincronia que envolve e o entrosamento dentro do samba é nota 10. A forma em que eles estendem o pavilhão com garra, é algo a se destacar. Foi um verdadeiro espetáculo que o casal deu nesta noite. Um desempenho totalmente satisfatório e, se continuar assim, tem tudo para alcançarem o êxito máximo. Destaque para o figurino da porta-bandeira, que estava com uma maquiagem no rosto totalmente dentro do contexto do enredo. O mestre-sala, Pingo, avaliou o ensaio.
“Nosso rendimento, nossa avaliação é que ocorreu tudo bem, tudo perfeitamente bem. O que nós ensaiamos, conseguimos efetuar aqui na pista. Graças a Deus a energia da nossa comunidade ajudou muito. Os componentes, com muita alegria, cantando o samba, essa energia que faltava para a gente depois de dois anos sem carnaval. Foi ótimo, quero agradecer e felicitar a harmonia da escola”.
A porta-bandeira, Paulinha, falou sobre a performance da escola dentro da avenida. “Como a gente veio na frente da escola, não conseguimos ver muito o final. Os nossos erros, a gente acaba vendo. Por exemplo, internamente, se atrasa no tempo, ou em reuniões. Eu e o Pingo estamos muito na frente da escola. A gente não consegue ver o restante. A gente vê o final, e olha pelo que eu estou vendo, está sendo lindo”.
Sobre o rendimento do casal, a artista foi breve. “A gente até se surpreendeu, pois sempre tem ajustes a serem feitos. E hoje foi impecável. Dia 26 tem mais e agora tem que ser duas vezes melhor”, completou.
Samba-enredo
O hino do Vai-Vai para 2022 é considerado um dos melhores do carnaval paulistano, principalmente, quando é cantado ao vivo. Hoje não foi diferente. Como dito anteriormente, algumas alas se destacaram e outras não. As alas dos setores 2 e 3 tiveram uma performance melhor entoando o hino da escola. Vale destacar o ótimo carro de som da Saracura, comandado pelo intérprete Luiz Felipe. O cantor é cria da escola e vem se destacando cada vez mais. O Vai-Vai é famoso por revelar e trabalhar com personalidades vindas da própria escola, e, com certeza, o intérprete Luiz
Felipe pode trilhar um caminho de sucesso no carro de som da comunidade da Bela Vista.
O samba é destaque e tem uma grande ala musical para liderar tudo isso. Luiz Felipe disse que a crescente pode vir com os erros corrigidos. “O samba vem em uma crescente em cada ensaio, e hoje provou mais uma vez que o Vai-Vai juntamente com sua comunidade faz o samba acontecer naturalmente. Hoje foi bom, temos muitas coisas a melhorar. São erros nossos internos, que a gente corrige em reuniões na semana em ensaios gerais, na quadra e de rua, mas acredito que até dia 23 de abril estaremos prontos, com os erros corrigidos em busca de um grande resultado”, comentou.
O intérprete também exaltou a comunidade e a bateria Pegada de Macaco. “O ponto máximo é a nossa carta na manga, nosso povo, nossa comunidade, nossa bateria que já vem em uma pegada pra frente e o nosso povo que eu não tenho nem palavras, sem comparações”, elogiou.
Bateria
Historicamente, a bateria Pegada de Macaco, tem a característica de apenas dar o andamento para o samba e levantar a comunidade e o público presente no Anhembi. Porém, devido ao regulamento mudado em 2020, todas as baterias devem realizar bossas para conquistar a nota máxima e, o Vai-Vai, construiu duas, sendo uma delas dentro do segundo refrão. Mestre Beto, diretor de bateria do Vai-Vai, falou sobre o rendimento.
“Nosso setor bateria vai passar três breques. Agora não tem como ficar somente na tradição, porque hoje existe um critério dentro do regulamento e, se a gente não cumprir, não vamos nos sair bem. Hoje foi bom, mas eu prefiro ajustar para ser ótimo”, disse.
Beto também revelou uma bossa especial que não foi feita neste ensaio. “A bossa especial que nós não fizemos, é a que fala da Dona Olímpia, Seu Livinho, que é uma bossa que tem 23 compassos. Ela está pronta, mas na dúvida, é melhor não executar. Hoje eu fiz uma bossa e duas passagens e, no dia do desfile, vão ser três bossas e três passagens”, completou.
Evolução
No quesito evolução, a análise fica mais ou menos parecida com a harmonia, pois faltou equilíbrio. Algumas alas, realmente tinham os componentes com o samba no pé e, outras, era algo mais “robótico”. No conjunto, a escola contou com algumas alas coreografadas, o que ajudou bastante no quesito. Destaque para a ala do último setor, que é dos negros acorrentados. Nela, os componentes cantam e coreografam com muita garra.
No balanço geral, o Vai-Vai fez um ensaio bem equilibrado. Os primeiros treinos dentro do Anhembi, servem para corrigir os erros e aperfeiçoar para o grande dia. A comunidade da Bela Vista é forte, cantou bem, mas precisa mostrar isso no desfile inteiro. Componentes e alas que estavam em um ritmo menor, com certeza podem melhorar, pois fazem isso nos ensaios de quadra e de rua.