O CARNAVALESCO conversou com a equipe criativa das escolas da Série Prata e Bronze, em parceria com a Superliga, na Academia Brasileira de Artes Carnavalescas (ABAC), no Centro do Rio, sobre os preparativos para os desfiles de 2026. Leandro Mourão e Vitor Mourão, carnavalescos da Vizinha Faladeira, da Série Prata, apresentaram a narrativa do enredo “A voz que vem do mar é ancestral” que pretendem levar para a avenida. Eles também comentaram sobre o malabarismo criativo que o trabalho na Intendente Magalhães exige das escolas.

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Vitor Mourão e Leandro Mourão, carnavalescos da Vizinha Faladeira. Foto: Gabriel Radicetti/CARNAVALESCO

“A gente fala da desconexão do homem com a natureza usando o mar como referência. O mar, que sempre foi altar, deixa de ser sagrado e o homem passa a destruir, deteriorar, poluir”, explicou Leandro.

Constatando esse abandono, o símbolo da escola, a sereia, transformado por eles na personagem Sereia Faladeira, parte em uma aventura para conscientizar o homem sobre a importância das águas.

De início, ela percebe o caos urbano da atual Zona Portuária, onde a escola, que reivindica o título de precursora de todas as outras, está instalada desde 1932. A sereia tenta se reunir com outras irmãs da cultura brasileira, como Iara, a Sereia das Furnas, a Sereia de Itapuã, a Mãe d’Água e a Sereia da Praia Formosa, mas percebe que todas também enfrentam suas próprias dificuldades, de naturezas diversas.

Fortalecida, no entanto, por esses encontros, a Sereia Faladeira, como filha da Pequena África, recorre às sereias originárias da Mãe África. Ao cruzar o Oceano Atlântico, ela se depara com Iemanjá e, especialmente, com a sereia angolana Kianda. Esta última revela que o que ela procurava sempre esteve ao seu lado: a Baía de Guanabara continua a alimentar o imaginário cultural e religioso da população que vive às suas margens, com manifestações como a coleta da primeira água, as procissões de barcos, a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes e a umbanda de praia.

Ao retornar ao seu território natal, a Sereia Faladeira entende que, mesmo diante da negligência de alguns, o seu papel, enquanto guardiã e porta-voz daquela região, é incentivar e preservar o potencial do sagrado marítimo do carioca.

“Nosso desfile vai ser claro, vai ser transparente. Você vai conseguir escutar a nossa história e vê-la acontecendo, com todos os seus elementos, diante dos seus olhos. A história, como um todo, nos dá a possibilidade de trabalhar cada setor, cada elementozinho de forma muito nítida”, garantiu Vitor.

“O desfile é dividido em cinco setores. O primeiro representa a desconexão do homem com a natureza, esse caos urbano que a sereia encontra frente à modernização da Zona Portuária. Depois, ela convoca as irmãs, como uma seita. Quando chega ao Oceano Atlântico, no terceiro setor, vê que o mar está completamente poluído, destruído, deteriorado e se revolta. No quarto, encontra Iemanjá, as sereias africanas e Kianda. No quinto e último, retorna à Baía de Guanabara com todos os ensinamentos aprendidos nessa jornada”, detalhou Leandro.

Para além da inteligibilidade de uma narrativa tão complexa, a verba limitada, se comparada às coirmãs do Grupo Especial ou mesmo da Série Ouro, configura, na avaliação da dupla, um dos grandes desafios do trabalho na Intendente.

“A parte financeira impacta muito no desenvolvimento do projeto. É um trabalho difícil. Intendente não é para qualquer um. Tem que ter muita criatividade, porque senão fica bem complicado”, pontuou Vitor.

Nesse sentido, Leandro destacou que a Mangueira e a União da Ilha foram grandes parceiras da histórica agremiação na cessão de fantasias e outros materiais a serem transformados a partir de reciclagem e reaproveitamento. Houve também a utilização de materiais alternativos, como tecidos mais baratos, penas no lugar de plumas e recicláveis, como garrafinhas e elos de latinhas.

“Isso não significa que a escola vai fazer um carnaval pobre, de forma alguma. Com todos esses materiais que angariamos, fazemos fantasias ricas, fantasias luxuosas”, esclareceu o criador.

“Mantemos a qualidade, o luxo, o brilho e tudo que o carnaval pede”, finalizou o parceiro, Vitor.