A Porto da Pedra se apresentou, na madrugada desse domingo, na Marquês de Sapucaí, pela Série Ouro. A escola contou a história da cidade de Fordlândia, criada pelo empresário americano Henry Ford como um mega complexo extrativista, hoje abandonada. A terceira alegoria da escola, nomeada de “A Grande Retomada”, representou a imposição da floresta sobre o projeto industrial.
“Tanto eu quanto o (enredista) Diego Araújo gostamos sempre de terminar os nossos carnavais, principalmente no Grupo de Acesso, com um posicionamento político. A gente usa a Fordlândia como um pano de fundo para o posicionamento político. A riqueza da Amazônia é nossa, portanto somos nós que temos que incentivá-las, guardá-las e nos beneficiar. A figura da bandeira americana simboliza todos aqueles que vêm para prender e levar nossa riqueza. A gente usa a bandeira americana porque carnaval tem que ter entendimento e leitura direta, objetiva, porque é muito dinâmico. Representamos os povos originários carregando a bandeira americana e dizendo: ‘Não, a floresta vence’”, disse o carnavalesco da escola Mauro Quintaes.
“A Fordlândia foi um sonho utópico de Henry Ford. Poder cultivar a sua própria, seu próprio seringal, na intenção de produzir seu próprio pneu. Porque ele descobre que os cinco pneus do carro eram mais caros do que o carro. ‘De onde está vindo a borracha? Brasil. Vou para o Brasil, vou plantar’. Só que ele traz os modelos e os moldes americanos para um país totalmente adverso, diferente. Esse foi o grande erro e foi a partir daí que ele começa a fracassar. Ele planta as seringueiras de maneira errada, sem ouvir a sabedoria local. Ele trata os brasileiros, os nativos, os ribeirinhos, os caiçaras como se fossem americanos, inclusive na dieta do dia a dia. Tudo isso começa a criar um grande embate cultural e a Ford Land vai sucumbindo por 19 anos até ela morrer”, explicou o artista, sobre o enredo da escola de 2025.
O resultado agradou os componentes da escola, sobretudo aqueles que desfilaram na última alegoria.
“Eu desfilei pela Porto da Pedra pela primeira vez há 3 anos e foi amor à primeira vista. Quando soube do enredo desse ano, fiquei surpresa por tocar no assunto da Amazônia, isso me deixou muito feliz, porque realmente a gente precisa cuidar, que a Amazônia é nossa. Esse terceiro e último carro mostra que a natureza é mais forte que tudo, mais forte do que qualquer engrenagem, do que qualquer metal. A mata vive”, expressou a dona de casa e estudante Caroline Ferreira, de 37 anos.
“É muito importante abordar esse tema, porque poucas pessoas conhecem essa história. Se os índios não tivessem ocupado o espaço que é devido deles, a nossa Amazônia se tornaria uma grande indústria. Isso seria muito prejudicial porque ela é o coração do mundo”, afirmou a administradora Cintia Nascimento, de 29 anos, que foi para seu segundo ano na agremiação de São Gonçalo.
“Apesar do enredo ser de uma coisa pesada, é muito válido quando você compartilha um fato histórico que não é bacana. Isso funciona como uma crítica construtiva para o Brasil e para o Estado. A invasão, o desmatamento, nada disso é legal”, finalizou o dono de um salão de beleza Paulo Robert, de 63 anos, que completou, em 2025, 52 carnavais.