As atividades realizadas por uma escola de samba extrapolam, e muito, o senso comum de que elas funcionam somente com a finalidade de realizar o seu desfile visando o campeonato. Na noite da última terça-feira a Unidos do Viradouro mostrou o real papel de uma agremiação cultural, ao realizar o seu último ensaio do ano a escola promoveu uma enorme festa de Natal para sua comunidade com um verdadeiro espetáculo. O objetivo da confraternização foi proporcionar para a comunidade, principalmente as crianças, momentos de alegria. Em um primeiro momento a vermelha e branca realizou o seu tradicional ensaio e logo depois preparou um show grandioso que culminou na chegada do Papai Noel, na iluminação da enorme árvore montada na quadra e na entrega de presentes.
Foi possível ver no rostinho de cada criança o brilho no olhar e o encantamento, em entrevista ao site CARNAVALESCO, o diretor executivo da escola, Marcelinho Calil, disse que esse evento já faz parte do calendário da escola, épocas como Natal e Páscoa fazem com que as pessoas reflitam sobre muitas questões e para Marcelinho, a escola de samba enquanto instituição cultural tem como dever proporcionar momentos felizes para sua comunidade, afinal de contas, nem todos tem condições de viver isso no dia a dia.
“Hoje já virou parte aqui do nosso calendário, como muitas coisas aqui começam pequenas, a gente pensa sempre em melhorar pro ano que vem e no final vira algo grandiosos, está aí na expectativa da comunidade, isso aqui é uma idealização do meu pai, o Márcio Moura toca magistralmente junto com ele e organiza essa festa maravilhosa. Enfim, é aquele momento que que preenche o coração. A gente começa a refletir sobre muitas coisas. Eu sei que isso normalmente é sazonal na vida, a gente deposita essas reflexões, esses pensamentos mais em épocas como o Natal, como Páscoa, como outros eventos, mas de fato o samba diferentemente aí da sociedade de uma maneira geral, tem isso muito vivo. É o exercício aqui da escola de samba como instituição social, cultural, levando alegria para muitas pessoas que até tem momentos de alegria e outros que não tem. É o samba cumprindo o seu papel na sua mais pura e bela essência de uma escola de samba que é trazer alegria e trazer o povo, a esta comunidade feliz.
Antes do início da festa, Marcelinho foi pego de surpresa ao receber das mãos do Vereador Anderson Pipico a honraria concedida pela Câmara de Vereadores como personalidade do samba de Niterói, para ele, receber prêmios e homenagens como essa mostra que o caminho que ele vem construindo é o correto. Muito do ressurgimento da Viradouro passa pelas mãos de Marcelinho, ele se diz grato por todo o reconhecimento não só a ele, mas à escola enquanto orgulho e cartão postal da cidade de Niterói.
“Cara, eu tava ali, meu pai falou, fica aqui, eu tô achando que é por alguma outra razão. A gente não faz nada pra ganhar prêmio. Eu falo isso de coração mesmo. Mas não quer dizer que a gente não goste, teve agora mesmo a premiação do carnavalesco, você vê como todo mundo ali está feliz, mas é isso, assim como um título no Carnaval materializa um trabalho, ganhar algumas homenagens também vai materializando, obviamente que isso não nos preenche, a gente não pode ter isso como objetivo, mas sem dúvida nenhuma muito feliz porque entendo que a cidade, entendo que as pessoas que aqui vivem conseguem reconhecer na Viradouro um cartão de visita de Niterói, conseguem ter aqui carinho, respeito e orgulho do trabalho que vem sendo realizado, obviamente nesse momento fui escolhido pra representar isso, mas é claro que são muitas mãos e pra fazer justiça eu teria que ficar meia hora ali falando o nome de todo mundo. Mas fico feliz e honrado de ter em mim, tá na minha pessoa esse símbolo do ressurgimento da Viradouro e obviamente do orgulho que a cidade tem pela nossa escola”, finalizou Marcelinho.
Os consagrados coreógrafos da comissão de frente, Priscilla Mota e Rodrigo Negri marcaram presença juntamente com alguns integrantes da comissão, esse foi o segundo ano que a dupla participou da festa de Natal da vermelho e branca, ambos falaram que no ano passado ficaram impressionados com a estrutura montada e que a expectativa aumentou para a desse ano. Priscilla e Rodrigo também falaram sobre o entrosamento e integração junto a comunidade, para eles, mesmo em pouco tempo, a sensação é de que já estão na agremiação há anos. Apesar da festa, a comissão ainda teria ensaio no barracão visando levar o melhor para avenida no desfile oficial.
“No ano passado a gente veio achando que era uma confraternização, a gente não sabia a proporção que é essa festa pra comunidade, realmente isso aqui é uma grande confraternização, é um gesto de amor da Viradouro para sua comunidade, pros seus desfilantes, para aqueles que fazem o show acontecer na avenida. E aí ano passado eu falei, a gente ficou surpreso e esse ano a gente já veio esperando, é um dia que a gente espera muito, que a comissão espera porque é um dia que a gente tem uma oportunidade de tá todo mundo junto, bater um papo, conversar, dançar, trocar de lugar e entender um pouco mais como que funciona a escola. A gente tá na Viradouro há pouco tempo, mas parece que já estamos aqui há dez anos. Então, pra gente aqui já é o quintal da nossa casa”, pontuou Priscilla.
“É engraçado que é quase um outro Carnaval essa festa. Porque aí cria uma expectativa incrível, ano passado foi tão bom então você já vem esperando algo muito melhor, mas estamos muito felizes, estamos super integrados com a comunidade. Estou feliz também de poder trazer a comissão pra participar desse evento tão lindo e vamos curtir essa festa aí”, disse Rodrigo.
Um dos mais animados da noite foi o mestre-sala Julinho, dessa vez à paisana, como o próprio brincou, por um pedido da diretoria, na noite desta terça os casais não desfraldaram suas bandeiras, o foco principal era a festa. Para Julinho, essa noite é muito aguardada por todos, afinal não é só o carnaval, mas sim a escola de samba mostrando todo seu papel social para sua comunidade, ele valorizou a iniciativa de Marcelo Calil e reforçou que seu lado criança iria aflorar durante a festa.
“É um momento muito aguardado por todos nós da escola, essa festa de fim de ano é incrível , os Marcelos gostam de realizar esses eventos dentro da quadra, de fazer com que a comunidade se inteire cada vez mais, não só pela questão do Carnaval, mas por outras questões, se eles podem fazer alguma coisa na Páscoa, no aniversário da escola, tudo pra que não fique somente aquela questão do carnaval. Eu acho que o carnaval acaba sendo a consequência da resposta da comunidade. E hoje, muito mais do que a comunidade, a comunidade infantil, as crianças. Porque fica todo mundo na expectativa, o que que os Marcelos vão preparar em relação a Papai Noel. A festa assim é maravilhosa, hoje eu acho que até em função dessa questão da chegada do Papai Noel, eles pediram para os casais não dançarem, a bandeiras não vão rodar, a gente vai evidenciar muito mais a questão da festa de Natal das crianças. Pra gente é um evento maravilhoso. Eu adoro, o meu lado criança aflora”, disse Julinho.
Para mestre Ciça, responsável por comandar os ritmistas da Furacão Vermelho e Branco, a noite também foi de muito trabalho, segundo ele, foram acrescentadas mais algumas nuances a bateria que já farão parte do desfile oficial. Ciça também aproveitou para exaltar a comemoração de Natal, mas reforçou que o trabalho retornará logo após as festas de final de ano.
“Hoje a gente colocou mais um um tempero na bateria, numa situação que a gente vai fazer nova, mas que vai ficar definitiva. É aquilo que tava faltando, na Amaral Peixoto já fizemos, mas tava faltando algo mais, então a gente vai fazer aqui logo mais, eu acho que vai dar certo com certeza ensaiamos aqui mais cedo e é importante, não é só festa não, também trabalhamos, vamos comemorar o Natal com as crianças, elas merecem, a gente vai estar de férias a partir de amanhã até o ano novo, mas dia dois já estaremos aqui ensaiando na primeira terça-feira. A gente não para mais não”, disse o mestre.
Foi uma noite que com certeza ficará marcada na memória de cada criança, a iniciativa da escola deve ser exaltada e até mesmo replicada em outras agremiações, afinal, o papel da escola de samba extrapola a Sapucaí.
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