A Unidos do Viradouro ocupou, na noite do último domingo, a Avenida Ernani do Amaral Peixoto, principal via do Centro de Niterói, para abrir a temporada de ensaios de rua para o Carnaval de 2024. A vermelha e branca, que foi vice-campeã da folia carioca em 2023, mostrou logo neste primeiro treino o motivo de ser a agremiação do Grupo Especial com maior regularidade em alto nível nos últimos anos, tendo com pior colocação um terceiro lugar em 2022. Além da comunidade em si, os principais nomes e segmentos da escola, incluindo a rainha de bateria Erika Januza, marcaram presença, sendo a comissão de frente a exceção. Com o samba na ponta da língua, os componentes mantiveram um canto aguerrido e uma evolução fluida ao longo de pouco mais de uma hora. Essa boa performance na apresentação contagiou o público, que compareceu em peso e vibrou muito no decorrer da passagem.
“A gente usa muito esse espaço da Amaral Peixoto como um detalhe técnico que tentamos o tempo todo aprofundar. Aqui trabalhamos as nossas bossas, o nosso tempo de desfile, usamos a metragem correta da Avenida, então não tem como negar que é, para nós, o ensaio mais importante. É o momento que, de verdade, a gente consegue pegar tudo que estamos fazendo na quadra, o que cada um dos quesitos e segmentos estão desenvolvendo separadamente, juntar tudo e canalizar aqui na Amaral Peixoto nos mesmo moldes do desfile oficial. Por isso, ele ganha esse grau de importância. Entretanto, o primeiro ensaio sempre vai ser o primeiro ensaio. Por melhor que seja, a gente vai enxergar pontos que precisam ser ajustados. Por ser o começo de um trabalho, a nossa expectativa para hoje era de ter muita coisa para ajustar. No entanto, por incrível que pareça, vimos algumas questões pontuais que realmente precisam de ajustes, mas muitas já bem resolvidas. O nosso intuito era ensaiar o canto, a evolução, a parada nos módulos julgadores, os dois recuos, e tudo saiu de forma muito bacana. É claro que a gente não pode ficar estacionado em um bom primeiro ensaio. Nós vamos ensaiar praticamente todos os domingos até o desfile oficial e a melhoria, o aperfeiçoamento, ao longo desse processo vai ser visível. A ideia é sempre está olhando para dentro, reavaliando o que nós fizemos uma semana para tentar fazer melhor no próximo domingo. Se me perguntar se estou satisfeito com o primeiro ensaio, a resposta é que estou sim, mas isso não basta. Vamos treinar mais para poder atingir o nosso ápice no desfile oficial”, declarou Dudu Falcão, diretor de carnaval.
Esse primeiro ensaio de rua da Unidos do Viradouro marcou o reencontro do intérprete Wander Pires com a Avenida Ernani do Amaral Peixoto depois de 13 anos. O cantor teve uma passagem pela agremiação no Carnaval de 2010, em um momento delicado da vermelha e branca, marcado por um rebaixamento após quase 20 anos de Grupo Especial. Agora, ele retorna em uma nova realidade da escola, mais estrutura e extremamente competitiva, sendo considerado um dos trunfos para a disputa do título em 2024. Em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, Wander fez um balanço, logo assim que o treino terminou, sobre a experiência de voltar a vivenciar esse clima da Viradouro na principal via do Centro de Niterói e aproveitou para exaltar a importância desse tipo de ensaio, não só para os preparativos da escola em si, mas também para os seus torcedores.
“É uma emoção muito grande, porque na rua você sente o público, tem esse contato mais próximo dele. Além disso, esses ensaios são, muitas vezes, as únicas oportunidades que vários torcedores, admiradores da escola, possuem de ver a Viradouro com tudo que ela vai fazer na Avenida, só sem os carros e as fantasias. São pessoas que, por diversos motivos, não podem ir para quadra ou para Marquês de Sapucaí e vem aqui para Amaral Peixoto ver a escola. E eu faria igual, não deixaria de vir um domingo sequer. Neste primeiro ensaio, infelizmente, não tivemos a presença do nosso presidente de honra e patrono Marcelo Calil, nem do nosso diretor executivo Marcelinho Calil, a gente sentiu muito a falta deles, mas o resultado foi positivo e a energia muito grande. A bateria dando show, o mestre Ciça emocionado com tudo dentro dando certo, o entrosamento perfeito com o carro de som, então só posso dizer que a gente está muito feliz. Temos um samba que, até para gente mesmo que está cantando sempre, mexe com a alma e desperta algo dentro de cada um que torna quase impossível não se emocionar com ele. É um samba lindo e que está na boca do povo. Durante o ensaio, cheguei perto de muita gente que estava apenas assistindo e todo mundo estava cantando, com a letra na ponta da língua, fiquei muito feliz com isso. Não quero ser prepotente e afirmar que é o samba do Carnaval de 2024, mas o que vimos hoje é a prova de que no mínimo está entre os melhores”, afirmou Wander Pires.
Atualmente, em sua segunda passagem na agremiação, mestre Ciça fará em 2024 o seu décimo sexto desfile como o responsável pela bateria “Furacão Vermelho e Branco”. Com uma trajetória tão extensa na escola, o comandante está mais do que familiarizado com os ensaios na Avenida Ernani do Amaral Peixoto e não poupou elogios para o local, durante entrevista concedida para reportagem do site CARNAVALESCO. No decorrer do bate-papo, ele enalteceu esses treinos de rua na preparação para o desfile oficial, assim como destacou as diferenças para o trabalho realizado dentro da quadra.
“A importância dos ensaios de rua é enorme e uma avenida como essa é um verdadeiro privilégio que nós temos, pois a gente sente como se estivesse no campo de jogo. É aqui que começamos a corrigir os problemas. Sempre tem um negócio para a gente acertar, que na quadra não dá para corrigir. Portanto, a importância é essa. Eu sou apaixonado por ensaios de rua, gosto de tocar ao ar livre, sentir como é que a bateria está, ter uma maior noção do canto da escola. É algo totalmente diferente do ensaio de quadra, em que se tem muita vibração do teto, a acústica não é 100%. Somente na rua é possível medir a afinação, checar o andamento, testar as propostas que a bateria possui para aquele ano. É o que fizemos neste primeiro ensaio, testamos algumas bossas, questões de deslocamento… Eu vim com os atabaques e, por exemplo, ainda estou pensando se vou botar no meio ou na parte de trás da bateria, então os ensaios de rua vão servir de experimentação”, pontuou Ciça.
O suor nas mãos, a inquietude e a famosa sensação de frio na barriga quase sempre antecedem momentos cercados de grande expectativas. E isso não é diferente quando se trata do início de uma temporada de ensaios de rua, como garantem o mestre-sala Julinho Nascimento e a porta-bandeira Rute Alves. Dançando juntos desde o Carnaval de 2008, os dois defendem o primeiro pavilhão da Viradouro há seis anos e mesmo com toda essa experiência não escondem o nervosismo diante do começo de mais um trabalho na Avenida Ernani do Amaral Peixoto. O casal, que já vinha mantendo uma rotina de treinos visando o desfile oficial do ano que vem, conversou com a reportagem do site CARNAVALESCO sobre a importância dessa nova etapa, além de fazer uma avaliação do desempenho deles neste primeiro ensaio.
“Cada ano é uma emoção diferente. Antes do início desse ensaio, a gente estava concentrado e os dois com as mãos suadas, frias, ansiosos pelo começo. E nós entendemos que isso é normal. Tem que ter essa emoção, esse calor, porque a gente leva o ensaio de rua tão a sério quanto o ensaio técnico na Sapucaí ou até mesmo o desfile oficial. Então, tem que dar esse friozinho na barriga na hora que vai começar. Se não der, alguma coisa está errada. E essa emoção, esse calor, só aumenta ao saber que a gente tem um lindo samba, de que a escola mais uma vez tem uma grande responsabilidade de encerrar o Carnaval, e que está sendo preparado um desfile muito bonito, se Deus quiser ainda mais belo do que foi o do ano passado. Respeitando todas as coirmãs, tenho fé que a Viradouro vai sim conseguir alcançar o tão almejado título”, relatou Julinho.
“Parece que todo aquele cansaço que a gente viveu no último ano, zerou. E por mais que a gente passe por várias etapas, o primeiro ensaio de rua é um momento especial. O Júlio e eu estamos ensaiando desde junho. Já passamos pela etapa da disputa de samba, da escolha, logo depois começamos a montar a nossa coreografia e veio este novo momento, que é diferente dos outros porque é realmente um pontapé para o Carnaval. É na rua que a gente testa, tanto que viemos com a coreografia oficial. Claro que daqui até o Carnaval ela pode ou não sofrer alguma alteração. Ela é muito ensaiada, 300 milhões de vezes, justamente para ficar uma coisa bem no sangue, bem natural. E hoje foi esse primeiro teste para ver o que funciona e o que não funciona. Eu, particularmente, tive muita dificuldade com o chão. Esse ano a gente tem uma movimentação que em algum momento eu sigo partindo, então eu não tenho essa referência do Júlio, e como é um outro ambiente, fora o barracão que a gente está ensaiando, eu tive um pouco de dificuldade. Porém, o saldo desse primeiro ensaio é super positivo. O entusiasmo, aquela adrenalina de ‘está chegando a hora’, são muito importantes nesta fase. E esses treinos a céu aberto também são ótimos para gente aprimorar o condicionamento físico, ter esse contato com a bateria, com o Wander. Então, assim, o ensaio de rua é muito especial. É claro que depois normatiza, até porque serão todos os domingos até fevereiro, mas o de hoje, o primeiro, sempre marca”, ponderou Rute.
No ano que vem, a Unidos do Viradouro será a sexta e última escola a passar pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, encerrando os desfiles do Grupo Especial. A agremiação irá em busca do terceiro título de campeã da folia carioca com o enredo “Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodum serpente, que será desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon.