Por Eduardo Fróis e Gustavo Maia. Fotos: Carlos Papacena/Divulgação
A Unidos do Viradouro realizou seu último ensaio na avenida Amaral Peixoto, no centro de Niterói, neste sábado, numa noite banhada por muitas emoções. A começar, a escola recebeu a visita de dona Maria de Xindó, matriarca das Ganhadeiras de Itapuã, o grupo cultural que será cantado pela vermelho e branca na Sapucaí.
Impulsionada pelo belo entrosamento entre o carro de som e a bateria Furacão Vermelho e Branco, a escola cantou o samba-enredo com vigor e emoção do começo ao fim. Destaque especial para o bis do “Ensaboa, mãe”, que levou o público da Av. Amaral Peixoto a cantar junto com a escola.
Depois de sagrar-se vice-campeã do carnaval de 2019 no retorno da Série A, o brilho no olhar da comunidade da Viradouro está cada vez mais forte. O décimo quinto ensaio de rua da escola, marca dificilmente batida por outras agremiações, deixou os componentes confiantes no segundo campeonato da no Grupo Especial.
Marcelinho Calil, presidente da vermelho e branca de Niterói, reforçou a confiança no projeto desenvolvido pelos carnavalescos e por toda a direção da escola e sua comunidade.
“O que acontece na avenida é resultado do que nós treinamos ao longo dos últimos meses. Viemos trabalhando muito para fazer um grande carnaval. A escola hoje está praticamente pronta para entrar na avenida, faltam pequenos detalhes plásticos e, musicalmente, em termos de quadra e de comunidade, podemos dizer que estamos 99,9% preparados. Faltam apenas os detalhes inerentes à semana que antecede o desfile. A escola está com sede de fazer uma grande apresentação e, consequentemente, disputar o título, respeitando, claro, todas as coirmãs que, assim como nós, buscam seu lugar ao sol”, avaliou o presidente.
Visita Especial
A matriarca das Ganhadeiras de Itapuã, que nasceu no ano de fundação da escola, em 1946, encantou a Amaral Peixoto com sua presença. Com sua risada apaixonante, a cantora, que já tinha participado de outros eventos em Niterói, como a festa de aniversário na quadra do Barreto, esteve pela primeira vez em um ensaio de rua da escola que lhe renderá homenagem.
“Estou me lembrando dos meus carnavais em Salvador, quando eu pegava na carroceria do trio. Eu fico me beliscando pra saber se tudo o que estou vivendo com a Viradouro é realidade”, contou dona Maria.
No dia do desfile, dona Maria de Xindó estará acompanhada pelas 28 mulheres que compõem com ela o grupo musical da Lagoa do Abaeté, em Salvador.
Harmonia
A voz da emoção tem nome e sobrenome: Zé Paulo Sierra. Comunidade, diretoria, torcida, público… ninguém resiste ao timbre marcante e ao carisma contagiante do intérprete. Zé Paulo é um verdadeiro atleta do carnaval. Mais uma vez, provou ter fôlego suficiente pra fazer tremer o chão da escola, sem comprometer a harmonia. Pelo contrário, o componente, muitas vezes literalmente, abraça o puxador ao longo do desfile. Ao se deparar com o cantor principal de sua escola no meio de sua ala ou presenciar mais um ato de carinho de Zé Paulo diante do público, o desfilante, irmanado, solta a voz ciente de sua responsabilidade na disputa pelo título.
A comunidade abraçou de fato o samba da escola, cantando com a mesma intensidade do começo ao fim do ensaio. O canto ecoou por todas as alas, o que significa que a escola soube corrigir uma deficiência notada há alguns ensaios, uma leve queda na harmonia em alguns grupos coreografados.
Evolução
O componente foi pra rua com garra e forte emoção, mas sem se deixar levar pelo favoritismo. Não se notaram tropeços, correrias ou paradas da escola ao longo de todo o cortejo, mesmo nas manobras mais delicadas.
A Viradouro mais uma vez passou compacta pela Amaral Peixoto, evoluindo conforme o andamento ditado pela escola. Algumas alas são coreografadas, dando um efeito diferenciado no conjunto do ensaio.
A organização, por sinal, estava evidente não apenas nas maiores movimentações da escola, mas também nos pequenos detalhes, desde a maquiagem em muitas alas até o figurino caprichado das baianas. Destaques de luxo abrilhantaram a passagem da Viradouro, assim como as musas da escola. Nesse cargo, a que faz jus, a escultural Luana Bandeira triunfou mais uma vez.
Samba-enredo
Está na boca do povo, não tem jeito. O samba do “Oh, mãe, Ensaboa, mãe! Ensaboa, Pra depois quarar” é leve e animado, tem uma melodia fácil de cantar, ou seja, é a cara da escola. O mérito se deve em grande parte ao trabalho de Zé Paulo e seu time, que firmam a letra como uma poesia, aos ritmistas de mestre Ciça e, claro, à direção de harmonia com os componentes da vermelho e branca. Mas, posto à prova na rua pela décima quinta vez, a reação do público comprovou que não dá mais pra virar a cara para o “Ensaboa”. O verso pegou e se candidata a ser um dos destaques desse carnaval.
“Estou muito feliz, acho que a gente fez grandes ensaios aqui. Talvez, nesse a gente estava mais solto, mais descontraído… Essa escola é fantástica. Não tem escola que ensaiou mais do que a gente. Desde que se escolheu o samba foram ensaios ininterruptos, com chuva, com sol. Com a gente bem fisicamente, mal fisicamente. A gente se doou o máximo pra chegar domingo e colher bons frutos. Se vamos ganhar, é uma outra coisa, depende de tudo, de merecimento… Tenho certeza que Deus está abençoando demais a gente nesse momento. Acho que a Viradouro hoje criou uma energia, uma atmosfera de uma escola campeã de fato”, confessou Zé Paulo.
Para o presidente da escola, Marcelinho Calil, o samba-enredo da Viradouro para 2020 atende a todas as expectativas da escola.
“O samba na nossa concepção é impecável para a competição, canta exatamente o que vai ser visto no enredo, além de ser de uma obra de muita emoção. O ‘ensaboa’ se tornou muito popular. No carnaval essa alegria e espontaneidade são muito importantes, e o verso reflete essa energia que nós buscamos todos os anos. O sucesso do samba é resultado de muito ensaio e de todo o planejamento que vem sendo feito pela escola há vários meses. Não tenho dúvidas de que o samba vai render na avenida e vamos fazer um grande carnaval”, garantiu Marcelinho.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Julinho e Rute, executou alguns passos em pontos específicos da avenida. Um grupo de sete jovens negras, majestosamente vestidas, acompanhou a dupla em alguns passos. Elas serão as guardiãs do primeiro casal da escola. Entrosamento é o que não falta entre os dois, que esbanjaram elegância e alegria ao apresentar o pavilhão da escola ao público.
Bateria
Os ritmistas do consagrado mestre Ciça mostraram mais uma vez por que são referência entre as baterias do Rio de Janeiro. Eles executaram com perfeição as bossas, paradinhas e paradonas que dão molho ao hino da escola, sempre entrosados com o carro de som. No ensaio, Ciça reforçou o treino para as apresentações nas cabines de julgamento, quando todos os ritmistas se viram para os avaliadores. O destaque vai para os agogôs e para os timbaleiros, estes concentrados no miolo da bateria, na bossa do refrão principal.
“Na terça-feira acontece o último ensaio de quadra e até lá teremos a oportunidade de melhorar o que não estiver perfeito. Hoje fizemos todas as bossas que levaremos pra avenida, mas tem uma surpresa que estamos guardando para a Sapucaí”, contou Ciça.
O mestre acabou adiantando o que a bateria guarda para o dia do desfile: as mulheres que serão elevadas em um pedestal para executar a bossa com timbales. Se haverá outras surpresas, vai ser preciso aguardar o domingo para conferir.
Quem não fez surpresa e mostrou mais uma vez toda a sua simpatia e samba no pé foi a rainha Raissa Machado, que está pronta para brilhar à frente dos ritmistas. A beldade cumpriu seu papel de recepcionar a corte do carnaval de Niterói, além dos convidados especiais da noite.