Um dos momentos marcantes da pré-temporada do carnaval de 2025 foi a celebração que o povo do Boi Vermelho fez do seu samba. Com força e emoção, a Unidos de Padre Miguel (UPM) homenageia Iyá Nassô, evocando a ancestralidade da guardiã do segredo do axé. O canto dos componentes declara o orgulho do chão da Vila Vintém. “Após 52 anos, a UPM retorna ao Grupo Especial e entoa com vigor: “Vila Vintém é terra de macumbeiro”.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, integrantes da UPM destacaram a importância do samba para o reconhecimento da ancestralidade negroafricana e o combate ao racismo religioso.
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Para Gabrielle Alves, 34 anos, guia de turismo e estreante na escola, o samba da agremiação é um grito de todos os macumbeiros. “Nossa força vem dos orixás e das entidades que cultuamos. Por décadas, as religiões de matriz africana foram silenciadas, obrigadas a praticar seus cultos às escondidas. Hoje, cantar que Vila Vintém é terra de macumbeiro é um grito de resistência e orgulho”, afirmou.
O samba do Boi Vermelho representa um grito orgulhoso da comunidade de Padre Miguel, celebrando sua identidade e ancestralidade. Marcia Azevedo, 60 anos, assistente social e componente da UPM, reforçou: “A força do samba está naquilo que muitos escondem: a ancestralidade. Muitas vezes, negamos nossas raízes para sermos aceitos. Agora é o momento de reafirmar quem somos. É essencial que a sociedade brasileira aceite e respeite as religiões de matriz afro-brasileiras.”
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Marianne Palhano, 30 anos, cuidadora de idosos e integrante da UPM há quatro anos, emocionou-se ao falar do samba-enredo. “A história da Casa Branca nos toca profundamente. Fala da luta de mulheres que vieram antes de nós, que buscaram liberdade. Trazer essa história para a avenida é uma forma de honrar nossa ancestralidade e enviar um recado: é preciso respeitar nossas raízes. Nossa história é fundamental para o Brasil”, destacou.
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Alessandra Salazary, 31 anos, estudante e componente da UPM há oito anos, vê o samba como uma ferramenta de aprendizado e resistência. “A UPM ensina a amar o samba, que é arte, cultura e ancestralidade. Este enredo afro resgata as origens da nossa história e combate a demonização das religiões de matriz africana. A sociedade precisa entender que não há nada de demoníaco nesses cultos. A UPM vai mostrar isso na avenida”, afirmou.
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Carla Felizardo, 48 anos, artista e defensora da luta das favelas contra o racismo religioso, destacou a importância da representatividade. “Nas favelas, sofremos muita intolerância religiosa. As religiões de matriz africana são a base dessas comunidades. É crucial dizer: Vila Vintém é terra de macumbeiro. O Brasil herdou um legado africano que precisa ser respeitado, pois está presente em nosso cotidiano”, ressaltou.
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Com um samba que une beleza, emoção e resistência, a Unidos de Padre Miguel demonstrou que o samba vai além da festa: é um instrumento de luta, orgulho e transformação social.”Vila Vintém é terra de macumbeiro” ecoou na avenida como um grito de liberdade e respeito, reafirmando a importância da ancestralidade africana na construção da identidade brasileira.