Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins
Pela primeira vez em setenta anos de história, a Unidos de Vila Maria fez um ensaio técnico para cantar um enredo afro. A escola da Zona Norte de São Paulo, em ensaio técnico bastante seguro, teve na Evolução seu ponto forte, tirando de letra um evento que costuma complicar algumas coirmãs: o recuo de bateria. Em 2024, a agremiação defenderá o enredo “Forjados na Luta, Guiados na Coragem e Sincretizados na Fé: A Vila Canta Ogum!”, que será sexta escola a desfilar no Grupo de Acesso I, no dia 11 de fevereiro.
Evolução
Seja em qual sincretismo for (Ogum ou São Jorge), a divindade é muito conhecida pela coragem e força em confrontos. Combinando com tal espírito, toda a comunidade da agremiação veio bastante aguerrida, com movimentos bastante rápidos e dinâmicos – em especial o terceiro setor. Para coroar com o excelente desempenho da escola em tal quesito, a Cadência da Vila, bateria da escola, entrou no recuo quando o abre-alas ainda estava na metade do box, ganhando tempo e se organizando no espaço em questão. A ala posterior rapidamente tomou conta do espaço, em um movimento que levou, ao todo, noventa segundos – bem menor que o de muitas coirmãs.
Comissão de frente
Apenas com homens (e um deles com destaque, ja que vinha sem camisa, provavelmente representando Ogum), o segmento foi o primeiro a apresentar movimentos bastante dinâmicos, marcando o samba-enredo para fazer a própria coreografia.
Samba-enredo
O refrão de cabeça da escola, bastante forte, empolgou a numerosa torcida da agremiação na arquibancada e teve boa resposta dos componentes no geral. Vale destacar, também, a força do carro de som da instituição: em comparação ao de outras coirmãs, os cantores de apoio pareciam ter voz mais igualada a Royce do Cavaco, histórico intérprete do carnaval paulistano que está estreando na Vila Maria.
Harmonia
Como dito anteriormente, o samba teve desempenho correto ao longo de todo o ensaio técnico – sobretudo no refrão de cabeça. Algumas alas chamaram mais atenção: a que veio depois da comissão de frente, coreografada, também cantou bastante; a que veio depois do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira gritava os dois refrões; os segundo e terceiro setores como um todo. Após os ritmistas saírem do box, entretanto, os componentes que vinham atrás não estavam com o mesmo canto dos demais desfilantes.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal formado inteiro neste ciclo, se não sofreu com o entrosamento entre ambos (que, aliás, estavam bastante sincronizados entre si), teve dificuldades para conter as rajadas de vento do início da noite paulistana. Mauro Cesar, que chegou ao posto de mestre-sala oficial da agremiação há apenas seis dias, até buscou dançar mais próximo do pavilhão para protegê-lo das movimentações do ar, mas pouco pode fazer. Inteiros com roupas brancas, ambos giravam na sequência horário-antihorário.
Outros destaques
Destaque há tempos no carnaval paulistano, a Cadência da Vila, comandada pelo mestre Rodrigo Moleza, tocou o samba de 2024 algumas vezes antes do ensaio começar para valer. Mostrando que já está no clima do enredo, Savia David veio fantasiada tal qual São Jorge, com armadura e lança.