A Vila Isabel encerrou os desfiles do Grupo Especial prestando uma justa e belíssima homenagem a Martinho da Vila, presidente de honra da escola da Azul e Branca do bairro de Noel. O homenageado apareceu em dois momentos da apresentação da Vila Isabel, primeiro na comissão de frente ,sentado em um lugar de honra no gigantesco tripé, e depois voltou para encerrar o desfile à frente da Swingueira de Noel. A vida e a obra de Martinho foram apresentadas com alegorias grandiosas e bem acabadas, além de fantasias com qualidade estética e boas soluções criativas. O intérprete Tinga mais uma vez fez uma grande apresentação, auxiliado pelo bom trabalho de Macaco branco e seus ritmistas. Com o enredo “Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho!”, a agremiação fechou as noites de desfiles do Grupo Especial, levando 68 minutos para encerrar sua apresentação. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Comissão de Frente

O coreógrafo Márcio Moura trouxe para Passarela do Samba a comissão “No trono de Omolu, a ascensão de um novo Rei”. Na apresentação, a Unidos de Vila Isabel veio coroar seu Rei Negro. Ancestralidade, musicalidade e religiosidade são os condutores dessa festa da raça, saudando o novo rei, suas histórias e ensinamentos. Um Griô, guardião de histórias e lendas, com as feições de Martinho e carregando um cajado, junto com guerreiros africanos segurando máscaras negras que se transformavam em escudos e depois oferendas, chegavam à Marquês de Sapucaí com a responsabilidade de apresentar toda a ancestralidade do homenageado, o rei Martinho.

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Do enorme tripé com a figura de Omolu segurando uma coroa, saíam três tambores, e destes instrumentos apareciam ogãs que realizavam movimentos de batida. O primeiro elenco era substituído por figuras caracterizadas de Omolu, que também saíam do tripé. No fim, o homenageado surpreendentemente aparecia em um lugar de honra no tripé, e era coroado pela enorme coroa de Omulu, causando uma grande reação do público. Depois, a apresentação se encerrava com Martinho sendo redirecionado para uma posição em que ele pudesse olhar para o resto da escola e acompanhar a homenagem.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal, Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, estreou na Vila Isabel vestindo a fantasia “Força e Axé de Zambi”, representando o poder de Zambi a proteger Martinho recaindo sobre a Vila Isabel, revestidos de pedras brilhantes e nas cores da agremiação. A dança trouxe uma coreografia que prezou pela delicadeza, ainda que tivesse seus momentos de mais vigor. A se destacar, o entrosamento do casal, o contato visual e a proximidade sempre priorizada nos movimentos e a bandeirada sendo realizada com graça e correção. No fim, uma reverência para o público e em especial para a cabine de julgamento. Antes da apresentação da dupla, o Griô da comissão de frente fazia um aceno indicando o casal para os jurados de longe.

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Harmonia

Sobre o rendimento do canto da escola, não há nenhum tipo de crítica ou apontamento negativo a ser feito. Impulsionado por um ótimo trabalho do carro de som, em um andamento equilibrando vigor e cadência, os componentes cantaram do início do desfile ao final com intensidade e correção em todas as alas, entendendo a necessidade de também dar esse presente ao homenageado tão querido em Vila Isabel. A se destacar o canto da ala das baianas “Yá-Yá do cais dourado”, também as alas “embaixador negro”, “resgate de Gbala”, a velha guarda, que além de tudo estava muito elegante com a fantasia “E uma boa noite, Vila Isabel”.

Enredo

“Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho!” apresentou uma homenagem à vida e às obras de Martinho da Vila destacando como são centrais para o Carnaval e para o Mundo do Samba. O enredo trouxe a gigantesca importância do homenageado para a Cultura Brasileira, e a própria presença de Martinho na história da Vila Isabel, com a qual a vida dele se mistura. O enredo apresentou a celebração de um grande gênio popular, da Negritude e do Rei Negro que, na Sapucaí, foi coroado e comemorado no desfile da Vila Isabel. Dividido em 5 setores, a escola iniciou a apresentação convocando toda a massa e trazendo o Martinho pé na roça, pé no morro e pés no chão.

No segundo setor, “em cada verso mais uma obra-prima” a Vila trouxe a genialidade do compositor que ficou gravada para a eternidade. Em seguida foi apresentado “meu laiaraiá: a simplicidade da genialidade” e ” singrando em mares bravios: viagem ao templo da criação”. O quarto setor representou Martinho como um griô e sua sabedoria. E no último setor “kizomba na casa de bambas – o legado imortal para o carnaval”, a Vila encerra seu desfile celebrando também seu primeiro campeonato e samba mais festejado.

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Evolução

A evolução da escola no geral foi fluida. O que se pode colocar como ponto menos destacado a evolução da quarta alegoria “África em prece” que no setor seis evoluindo com um pouco de lentidão gerando um pouco mais de espaço até a ala seguinte “Voz pela liberdade”, mas sem chegar a gerar um problema de buraco. De resto, com fantasias não tão pesadas e com a força do samba, os componentes evoluíram de forma espontânea, sem embolar alas e algumas alas como os passistas “Raízes Kaapó” mostrando samba no pé.

Samba

O samba foi interpretado por Tinga, que mais uma vez aliou potência de voz com chamados aos componentes a cantar o samba. O carro de som contou com vozes de apoio experientes, alguns principais em escolas da Série Ouro como Thiago Brito da Unidos de Bangu e Tinguinha da Lins Imperial, além do interminável Gera. O entrosamento entre o carro de som e a bateria do mestre Macaco Branco também foi um ponto que mais uma vez deve ser destacado. As bossas da bateria muitas vezes ajudavam a convocar os foliões ao canto. Alguns trechos como “Modéstia a parte, o Martinho é da Vila”, além do refrão principal. A cabeça do samba, que começava no “Ferreira chega aí” também, em diversos momentos, fazia os componentes cantarem com orgulho e levantando os braços para o céu.

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Fantasias

A escola trouxe um conjunto estético muito bonito, volumoso mas sem ser pesado, bem acabado e com soluções criativas. O uso dos tons do azul, uma das cores da escola, foi destacado nas fantasias, sem ser exagerado e combinando com outros tons que eram definidos pela temática de cada setor. A se destacar no primeiro setor a ala “Raizes na roça”, com tons de palha, folhas de bananeira e a própria fruta. No segundo setor, as baianas “Yá-Yá do cais dourado”, com um colorido muito bonito, com leds e trazendo pequenos barracos na saia. A última ala “Grande carnaval do Boulevard” trazia os personagens que sempre povoaram o imaginário do universo carnavalesco de rua invadem o Boulevard para celebrar a coroação do Negro Rei, representados pelos componentese por enormes bonecões que vinha se movendo no meio da ala.

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Alegorias

O conjunto alegórico da Vila Isabel era constituído de 5 alegorias e 1 tripé. O abre-alas ” Favela é África e o dono do palco é o zumbi” representou o morro como a face ancestral da negritude, trazendo becos e vielas, o povo dos Macacos e do Pau da Bandeira, abençoados por Zambi. À frente, a figura de Zumbi protegendo os seus. A primeira parte da alegoria trouxe elementos que o relacionam à Cultura Africana, depois, a Coroa da Vila Isabel, girando para convidar à coroação do seu Rei Maior, Martinho. Por fim, as máscaras africanas e a favela, conjugando a realidade afro-brasileira e trazendo a força das tribos ancestrais africanas.

O quarto carro “África em Prece” trazia a figura de um Griô, com as feições de Martinho, sob a sombra de uma grande árvore. O tripé “Pegando o bonde para passar no boulevard”, apresentou uma viagem através dos tempos, com a beleza e o espírito carnavalesco dos Carnavais de Ilusões que sempre movimentaram as ruas do bairro.

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No geral, as alegorias eram grandiosas, bem acabadas e com soluções de muito bom gosto, como os barzinhos que apareciam nas laterais do último carro “Kizomba na casa de bambas”, que trazia também a velha guarda sentada e elegante. O único ponto negativo a se destacar é que por problemas na concentração, o terceiro carro “Singrando os mares, um grito de Liberdade” teve uma parte do guarda-corpo solto, a alegoria era a forma de um enorme navio representando Martinho indo ao encontro com a África.

Outros destaques

A “Swingueira de Noel”, de mestre Macaco Branco, veio de “pequeno burguês”, vestida de farda homenageando o Sargento Martinho, inspiração da canção de mesmo nome da fantasia da bateria. A rainha Sabrina Sato, estava de ” comandante cinco estrelas” , comandando a tropa representada pelos ritmistas. A cantora Marti’Nália, filha de Martinho, veio também à frente da bateria tocando xequerê. Antes do desfile, no esquenta, Tinga cantou um trecho de um dos maiores sucessos de Martinho, a canção “Madalena”. O intérprete, aliás, e seu time de voz, vieram calçados com uma sandália bem parecida com as que o homenageado costuma usar.

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