A Unidos de Vila Isabel realizou, na noite da última quarta-feira, seu último ensaio de rua de 2025 no Boulevard 28 de Setembro, encerrando a temporada com alto nível de canto, evolução fluida e desempenho seguro dos segmentos. Com a comunidade cantando forte do início ao fim, a escola apresentou uma leitura consistente do samba-enredo para o Carnaval 2026, impulsionada pela condução de Tinga no carro de som, pela bateria “Swingueira de Noel”, de mestre Macaco Branco, e por uma evolução leve e contagiante que arrastou o público ao longo da pista. A escola será a segunda a desfilar na terça-feira de Carnaval, com o enredo “Macumbembê, Samborembá: Sonhei Que Um Sambista Sonhou a África”, uma homenagem a Heitor dos Prazeres, assinado pela dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora com o enredista Vinícius Natal.
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Moisés Carvalho, diretor de carnaval da Unidos de Vila Isabel, avaliou de forma positiva o último ensaio de rua da escola em 2025. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o dirigente destacou o crescimento da agremiação ao longo da temporada, o entrosamento entre os segmentos e o clima de confiança para a retomada dos trabalhos em janeiro.
“Estou feliz demais em todos os sentidos. A gente queria fechar esse ciclo com um ensaio de rua, não na quadra, para encerrar com chave de ouro, com o pé direito. E foi exatamente isso que aconteceu. Foi mais um show da Vila Isabel, cantando forte, evoluindo bem em todos os segmentos: carro de som, bateria, harmonia. Só tenho a agradecer a esse time magnífico que a Vila Isabel construiu desde a escolha do samba até agora”, afirmou.
Ao avaliar o período de ensaios de rua, Moisés apontou a evolução da escola como principal avanço. “A gente vem numa crescente, isso é um trabalho interno, que vai além do ensaio de quarta-feira. A cada treino a escola está mais solta, mais alegre, brincando mais, evoluindo melhor e cantando cada vez mais forte. Isso é fruto direto do trabalho do nosso time de harmonia”, analisou.

O diretor também ressaltou a sintonia entre os responsáveis pela condução musical do desfile. “O entrosamento entre o carro de som, o Tinga, o Macaco Branco e o Douglas (diretor musical) é uma crescente visível toda semana. É um degrauzinho a cada ensaio para a gente chegar forte em janeiro”, completou.
COMISSÃO DE FRENTE
Coreografada por Alex Neoral e Marcio Jahú, a comissão de frente da Unidos de Vila Isabel apresentou, neste ensaio de rua, uma proposta claramente alinhada ao novo modelo de julgamento do carnaval. A coreografia investe de forma consistente no uso de movimentos espelhados, com desenhos que se organizam tanto em divisões laterais da pista, quanto em dinâmicas de troca constante de posições, com avanços, recuos e reorganizações do grupo ao longo da apresentação.
A leitura musical também se mostra um ponto de destaque. Em trechos específicos do samba, como na saudação à Oxum e Xangô no refrão principal e na referência à Preto-Velho no refrão do meio, surgem referências diretas à simbologia dos Orixás e à palma de mão associada às giras de macumba, o que contribui para a compreensão da proposta coreográfica. Há ainda momentos de rearranjos circulares que reforçam essa relação entre música, narrativa e ocupação do espaço.

Justamente por apostar em um grau elevado de complexidade cênica, a comissão levanta um ponto de observação importante para os próximos ensaios: a clareza da dramaturgia. Embora os movimentos sejam bem definidos, é fundamental que a contação do enredo se imponha com mais nitidez ao público.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane demonstraram estar à vontade e em sintonia com a Vila Isabel. A sensação de pertencimento é perceptível desde a entrada na pista e se traduz em uma performance segura, fluida e confiante, típica de quem se reconhece “em casa” na escola.
O figurino adotado para o ensaio reforça essa leitura. Dandara surgiu com saia rodada branca e crooped branco com o símbolo da Vila Isabel estampado, enquanto Rafael vestiu azul claro, ambos vestindo as cores da agremiação. A escolha, simples e funcional, favoreceu a leitura do bailado e permitiu que os movimentos se destacassem com clareza.
No desempenho técnico, a complementariedade da dupla é um dos principais trunfos. O casal aposta em um bailado tradicional. Dandara performa com leveza, elegância e sorriso constante, expressando alegria e domínio do pavilhão. Rafael, por sua vez, sustenta um bailado vigoroso, com muito samba no pé, riscado firme e ocupação precisa do espaço, criando as condições ideais para que a porta-bandeira apresente o pavilhão com amplitude e segurança.
Essa relação de troca se evidencia de forma especial no refrão principal do samba. Na saudação “Oraieieo Oxum”, Dandara assume o protagonismo da cena, realizando movimentos que dialogam diretamente com a simbologia da orixá, em uma leitura clara e sensível. Na sequência, com o “Kabecilê Xangô”, é Rafael quem conduz os gestos associados ao orixá, estabelecendo uma alternância que reforça a narrativa e o equilíbrio da apresentação. A escolha de dividir essas referências entre os dois amplia a compreensão do público e valoriza a construção conjunta do bailado.
Em retorno à Vila Isabel, no posto de primeiro casal, Raphael e Dandara apresentam um conjunto que reúne técnica, entrosamento e identidade com o enredo. A dupla demonstra potencial para realizar uma defesa sólida do quesito.
SAMBA E HARMONIA
A Unidos de Vila Isabel encerra seus ensaios de rua em 2025 exibindo um dos cantos mais fortes da temporada do Carnaval 2026. O samba é sustentado com vigor do início ao fim do percurso, sem quedas perceptíveis de intensidade. Mesmo nos trechos de meio da obra, tradicionalmente mais suscetíveis à perda de energia por não concentrarem os momentos mais explosivos, o canto se mantém emotivo, claro e contínuo. O componente demonstra domínio pleno da letra e canta impulsionado, com projeção para a frente e sem dispersão.
A força vocal da escola é encantadora, inclusive em alas mais distantes do carro de som, o que evidencia um trabalho de harmonia bem distribuído e um volume coletivo consistente. O canto é alto, preciso e organizado, revelando uma comunidade conectada ao samba e apaixonada pelo que está cantando.
Nesse contexto, o trabalho de Tinga se afirma como um dos grandes pilares do rendimento da Vila Isabel. Sua condução vai além da técnica: Tinga é um intérprete que atinge a emoção do componente, “abre” o canto da escola e estabelece uma ligação afetiva com a obra. A resposta da comunidade é um canto carregado de envolvimento e entrega, impulsionado diretamente por essa condução cativante.
Após o ensaio, o intérprete destacou o clima de renovação vivido pela escola desde o lançamento do enredo. “Feliz demais. A escola está muito feliz desde que lançou o enredo na Pedra do Sal. A escola parece que renovou, trouxe essa felicidade pra nossa escola”, afirmou. Segundo Tinga, essa energia tem se traduzido diretamente no desempenho do canto. “A escola está cantando forte, bonito, com muita alegria, que é o mais importante. E a gente vai, sim, em busca do nosso título tão sonhado, que há muito tempo não vem. A Vila Isabel vem com força total”, completou.

É justamente por alcançar esse patamar elevado de intensidade coletiva no canto que alguns pontos específicos merecem observação mais atenta. Entre eles, o desempenho das alas coreografadas. Em especial, uma ala que utiliza chapéus de frevo apresenta, ao longo do ensaio, uma leve perda de vigor no canto em função da exigência física da movimentação. Ainda assim, mesmo nesses momentos, a intensidade não se dissipa por completo e o canto se mantém constante e forte, sem comprometer o conjunto do quesito.
EVOLUÇÃO
A evolução da Unidos de Vila Isabel se apresenta como um dos aspectos mais contagiantes do ensaio de rua. Fluida e leve, ela revela uma escola em que o componente está visivelmente à vontade para performar a obra de 2026. A liberdade de movimentação e de ocupação da pista nasce de um samba profundamente incorporado pela comunidade: a escola sabe cantar, sabe o que está defendendo e, a partir disso, se permite evoluir com naturalidade, sem rigidez.
A sensação de conforto coletivo se manifesta tanto nas alas coreografadas quanto naquelas sem movimentação específica. Em todas, percebe-se um corpo que canta e se move de forma orgânica, corporificando o samba com espontaneidade. A leveza e a felicidade com que a ala das baianas atravessa a pista, assim como a entrega da ala de passistas, são exemplos claros de uma evolução construída mais pela vivência do samba do que pela imposição de comandos externos.
Esse movimento não se restringe ao interior da escola. A evolução da Vila Isabel transborda a pista do Boulevard 28 de Setembro e contagia quem acompanha o ensaio do lado de fora. O público se desloca pelas calçadas, segue a escola, canta junto, criando um efeito de arrastão que amplia a potência do desfile. Trata-se de uma evolução que traz frescor, que varre a pista de maneira envolvente e reafirma a Vila Isabel como uma escola que sabe evoluir de maneira vibrante.
OUTROS DESTAQUES
A bateria “Swingueira de Noel”, comandada pelo mestre Macaco Branco, sustentou mais uma apresentação de alto nível no ensaio de rua da Vila Isabel. Com leitura precisa do samba, a bateria apresentou bossas bem encaixadas e um desenho rítmico que elevou o rendimento da obra, impulsionando o canto da comunidade. O trabalho de Macaco Branco evidencia uma bateria que dialoga diretamente com o “Povo do Samba”, criando condições rítmicas precisas para que a escola cante com ainda mais vigor e entrega.
Outro destaque relevante foi o desempenho do time de cordas da Vila Isabel. Em momentos estratégicos do samba, especialmente nas aproximações do refrão principal, as chamadas dos instrumentos de corda funcionam como elemento de renovação de energia, levando o samba novamente “para a frente”. Essa intervenção musical reforça uma das principais características da obra de 2026: um samba que avança, cresce e se sustenta ao longo do desfile, ganhando novo fôlego a cada retomada.
Fora da pista, o ensaio também contou com presenças ilustres. O presidente da Liesa, Gabriel David, acompanhou o treino, assim como o patrono da Vila Isabel, Capitão Guimarães, que assistiu ao ensaio da sacada da quadra, logo abaixo da escultura de Noel Rosa.
A Vila Isabel retornará aos seus ensaios de rua no Boulevard 28 de Setembro no dia 07 de janeiro de 2026.









