A Unidos de Vila Isabel apresentou em sua quadra, na madrugada deste sábado, a nova versão do clássico “Gbalá – Viagem ao templo da criação” feita especialmente para o Carnaval de 2024. A obra de autoria do cantor e compositor Martinho da Vila, maior baluarte da história da agremiação, originalmente embalou o desfile de 1993. Na ocasião, a escola teve a apresentação prejudicada por uma chuva intensa que caiu sobre a Marquês de Sapucaí durante sua passagem e terminou na oitava colocação. Mesmo assim, o samba e o enredo se tornaram memoráveis, não só para a azul e branca do bairro de Noel, mas para a folia carioca como um todo. Três décadas depois, ambos ganharão uma nova chance no Sambódromo.

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Fotos: Nelson Malfacini/CARNAVALESCO

Desta vez, caberá ao multicampeão Paulo Barros a responsabilidade de refazer o tema criado e desenvolvido em 1993 pelo carnavalesco Oswaldo Jardim. Nesta reedição, o enredo seguirá a mesma premissa do original, tendo como ponto de partida um mundo corrompido, após o homem se perder da missão inicial, designada por Oxalá, de ajudar a cuidar e manter a Terra em plena harmonia. Tomado pela ganância, a humanidade envenenou o planeta fazendo com que o seu criador também adoecesse. A única alternativa para salvação seria levar crianças, de todo o mundo, ao Templo da Criação para que, conhecendo o planeta tal qual foi concebido, curassem Oxalá dos males e salvassem a humanidade. Em 2024, a azul e branca do bairro de Noel será a terceira escola a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, em busca do quarto campeonato no Grupo Especial.

Presidente Luiz Guimarães: ‘Estamos convictos da escolha’

A decisão da Vila Isabel por apostar em uma reedição para o Carnaval de 2024 dividiu opiniões no primeiro momento. O motivo, em grande parte, é o histórico pouco positivo das releituras na elite da folia carioca. Até hoje, a melhor colocação de uma escola reeditando um enredo ocorreu em 2004, primeiro ano em que a prática foi autorizada pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). Na ocasião, a Unidos do Viradouro levou para Marquês de Sapucaí o samba-enredo originalmente defendido pela Unidos de São Carlos em 1975 para falar sobre o Círio de Nazaré. A vermelha e branca de Niterói alcançou um quarto lugar, sendo essa a única vez até aqui que uma agremiação refazendo um desfile retornou no Sábado das Campeãs. No entanto, para o presidente da azul e branca do bairro de Noel, Luiz Guimarães, a escola tem tudo para quebrar esse paradigma e conquistar o tão sonhado campeonato.

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“Quando vamos em busca de uma reedição, a gente não pode esperar menos que o título. Obviamente, é tudo muito bem planejado. A gente pensou minuciosamente cada detalhe, tanto que antes de batermos o martelo de que iríamos fazer uma reedição colocamos tudo na balança, vimos os prós e os contras, para entendermos que era a melhor opção e assim foi. Posso garantir que estamos muito convictos da nossa escolha e por isso nossas expectativas são as melhores possíveis. Estamos buscando o nosso título, que não vem há 10 anos. Temos um grande samba, que sem sombra de dúvida estará entre os três melhores do ano. Além disso, a gente defende muito bem todos quesitos, temos uma grande estrutura de Carnaval, que com certeza nos colocará fortes na briga pelo campeonato”, afirmou Luiz Guimarães, em entrevista concedida a reportagem do site CARNAVALESCO.

Tinga sobre Gbalá: ‘É um sonho realizado’

Em mais um carnaval pela Vila Isabel, o intérprete Tinga fará em 2024 o seu décimo sexto desfile como voz oficial da Azul e Branca do bairro de Noel, contando as duas passagens. Durante a apresentação do samba, o cantor comentou a emoção de poder cantar um samba com tanto significado para a agremiação.

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“É muito bonito, é muito lindo, sempre trazendo essas emoções. Tive a emoção de gravar um samba em homenagem ao grande Martinho da Vila, e agora mais um presente que a gente está ganhando, reeditar esse samba de 1993, para gente vai ser lindo, poder estar na Avenida cantando Gbalá. É um sonho realizado. Se Deus quiser vai dar tudo certo, minha escola vai chegar bonita, minha escola está feliz com o enredo, e com certeza vai ser um sucesso”.

Tinga também falou sobre a parceria com Gera, apoio no carro de som da Vila, que em 1993, teve a missão de cantar Gbalá na Marques de Sapucaí.

“O Gera é uma pessoa maravilhosa, sempre bom estar ao lado dele. Relembrar esse samba com ele que cantou vai ser lindo, com as crianças, vão ser muitas crianças desfilando na escola, vão abrilhantar nosso desfile. A gente procura sempre tomar bastante água, e o principal é sempre descansar. A gente tem que dormir bastante. O tempo que a gente tem, a gente tem que descansar. Faz também uma fonoaudióloga, uma aula de canto e assim a gente vai tocando a vida”.

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Responsável por defender a obra na Marquês de Sapucaí em 1993, o intérprete Gera estará presente nesta reedição. Se originalmente ele comandou o microfone principal, o cantor, dessa vez, será um dos apoios de Tinga no carro de som da Vila Isabel. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, o sambista veterano comemorou a decisão da escola em trazer novamente para a Avenida “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação” e elogiou a nova versão do samba.

“Acho o maior barato a escola, depois de 30 anos, reeditar um samba que, na Avenida, aconteceu. Teve muita chuva, mas a escola não caiu. Foi um brilho, evoluiu bastante. Agora, tanto anos depois, a gente voltar com a garotada aí, com o Tinga e a rapaziada, para mim, é uma grande honra. Tenho certeza que vai ser outro sucesso esse samba junto com a Vila Isabel. Até porque o Tinga é cabeça muito forte, é muito bom. Nem tem muito o que aconselhar, tanto que a gente conversa só lance de divisão, mas para sempre deixar o Tinga solto na frente cantando. Tenho certeza que vai dar tudo certo, o samba está dominado”, pontuou o intérprete.

Data para ensaiar na rua

O diretor de carnaval da Vila Isabel, Moisés Carvalho, também conversou com a reportagem do site CARNAVALESCO e falou sobre o calendário de ensaios da agremiação. Após o lançamento da nova versão do samba de “Gbalá – Viagem ao templo da criação”, o primeiro treino visando o desfile de 2024 será realizado na quadra, na quarta-feira que vem, dia 04 de outubro. Já os de rua terão início no próximo dia 18 e irão ocorrer todas as semanas.

“A gente começa o primeiro ensaio de quadra já na próxima quarta-feira, com todos os segmentos, comunidade, bateria, canto e tudo mais. Aí, serão duas quartas-feiras na quadra e na terceira quarta-feira de outubro a gente já vai para a Boulevard 28 de Setembro, que é o grande ensaio. É algo que a comunidade, o bairro espera todo ano. É o ensaio que a gente entende como mais produtivo. Vamos com ele semanalmente até dezembro. Depois, a gente dá uma pausa para o Natal e o Ano Novo, voltando com os ensaios de rua semanais em janeiro”, relatou o diretor de carnaval.

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Moisés Carvalho adiantou que a escola deve ir para a Avenida no ano que vem com 29 alas, sendo todas de comunidade, e com aproximadamente 2.500 componentes. Além disso, haverá forte presença infantil na apresentação, sendo estimado algo em torno de 120 crianças no começo e no fim do desfile.

“As crianças serão presença marcante no nosso desfile, tanto no início, quanto no final. Vamos fazer um lindo fechamento com a ala das crianças. Em relação a toda a burocracia necessária para conseguir a liberação, é um trabalho que a gente já conhece bem, até porque a gente tem a Herdeiros da Vila. Além disso, há dois anos, a gente teve uma ala de crianças na escola mãe. Então, posso garantir que todo cuidado está sendo tomado. Essa participação das crianças no desfile de 2024 é uma parceria junto com a Herdeiros, tanto que a gente está utilizando o departamento da própria Herdeiros para administrar essa situação, uma vez que eles já possuem toda essa expertise”, explicou Moisés.

Andamento não é problema para bateria

Sempre muito elogiado não só no samba como no mundo musical em geral, mestre Macaco Branco terá em 2024 a missão de ajudar Tinga e o restante da escola a reeditar um samba de 1993, transportando a obra para os arranjos e andamentos utilizados no carnaval atual, sem perder a qualidade que o samba carrega e que o fizeram ser reconduzido a Avenida.

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“O andamento dele no desfile do ano já foi de 142 BPM (batidas por minuto). Um andamento bem atual, bem próximo do que a gente desfilou esse ano no Evoé. Para gente não vai ser problema. É só a gente desfilar tocando o mesmo andamento que foi da época. Foi um andamento muito bom. Até porque o samba facilita para gente poder desfilar com essa andamento tranquilo. É um samba pequeno. Se a gente tocar muito rápido, ele vai passar rápido. É um samba que dá para gente curtir, lindo antológico. Quando a gente fala de sambas da Vila Isabel, é uma das referências. Para gente é uma honra poder desfilar. E esse desfile eu já assisti mais de vinte vezes. Eu sou louco por esse desfile, já assitia sempre ele. Agora reeditando, assisto ainda mais para ver qual é a energia, a vibração do que foi na época para a gente tentar trazer e fazer nesse ano de 2024”, revela o comandante da Swingueira de Noel.

Macaco conta que o trabalho com os ritmistas já começou desde junho e que algumas coisas já estão bem adiantadas.

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“Estamos já trabalhando os arranjos, começamos nossos ensaios em junho e estamos trabalhando tudo em cima do samba, e em cima do que a melodia pede. Já está tudo arrumadinho, semana que vem começa o nosso ensaio com canto. A gente já tem duas bossas encaixadas no samba, para ensaiar com o canto do Tinga. E sobre 2023, a bateria conseguiu fazer o samba ficar mais leve. Era um samba que eu particularmente gostava muito, um samba tranquilo, bom para se desfilar, um samba leve e alegre. Hoje em dia a galera quer muito samba arrastado, pesado, para pegar aquele tom mais político, dedo na ferida, então a Vila Isabel veio em uma pegada de samba da década de 90, um samba alegre que contava o enredo bem. O samba Evoé ajudou a fazer um grande desfile e a Vila conseguiu o terceiro lugar”.

Desafios para o enredista

Grande contratação da Vila, campeão com a Grande Rio em 2022, o agora “enredista” da Vila Isabel, Vinícius Natal, teve dois grandes desafios: trabalhar com o renomado carnavalesco Paulo Barros e ajudar na construção de um enredo que já passou pela Sapucaí.

“Essa narrativa do Oswaldo, feira em 1993, acaba sendo bastante atual, porque se a gente pegar 30 anos atrás os problemas que o Oswaldo aponta na humanidade e a gente vê hoje, os problemas são a mesma coisa, daí piorando. A gente decidiu por esse reedição por alguns motivos, o primeiro pela questão da atualidade do enredo, segundo por a Vila Isabel estar se voltando para dentro da sua própria memória, e da própria história. Quando a gente está catando Gbalá, a gente está cantando a própria história da Vila Isabel. É a gente olhando para dentro. E acho que o Paulo junto com a equipe está fazendo um trabalho muito bacana, dando a cara dele para a narrativa, mas trazendo uma energia contemporânea bastante interessante”.

Sobre as diferenças, Natal frisa que o samba-enredo terá papel fundamental no desfile da escola.

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“A narrativa é a mesma, ele só vai ter uma nova cara. Até porque a condução do enredo é o samba-enredo. A gente entende o enredo a partir do visual de samba. Já que o samba do Martinho é bastante descritivo, ele conta o enredo, a gente resolveu ir pela narrativa deste mesmo samba. A leitura vai ser muita fácil. O Martinho tem acompanhado o processo de longe, ele gravou vídeos promocionais do enredo mas ele tem uma agenda bastante lotada. Mas, certamente, a gente vai bater um papo com ele para estar junto neste processo. Com o Paulo, o trabalho está sendo maravilhoso porque a gente tem uma sintonia muito bacana. Temos uma sinergia muito bacana entre toda a equipe e a sinopse é surpresa. A gente pretende fazer com que as pessoas compreendam a narrativa através do samba-enredo. O Oswaldo (Jardim) foi um artista incrível, mas o Paulo também vai deixar uma marca dele para essa narrativa”.

Casal pôde se apronfundar mais no trabalho

Depois de um 2023 com diversos desafios e inovações, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel, Marcinho Siqueira e Cris Caldas, revelaram que já iniciaram o trabalho e que por já saberem qual seria a obra que vai dar a trilha sonora na Avenida, puderam aproveitar e aprofundar ainda mais o que pretendem levar para a Sapucaí.

“Antes de a gente começar a preparação, a gente já tinha parado para assistir um pouco o desfile, saber quem era o casal, saber quem era a fantasia, o tema da roupa daquele ano. A gente sabe que muita coisa mudou de lá pra cá. Saber o samba, o enredo antes, dá mais tempo para a gente estudar. Possibilita ir um pouco mais a fundo no enredo e no samba, tentar projetar algo mais elaborado. Apesar do samba ser curtinho, a gente terá essa proposta de fazer algo bem trabalhado mesmo”, explica Marcinho Siqueira.

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Depois de surpreender o carnaval com troca de roupas e de bandeira, a dupla sabe que cada vez mais será cobrada pelas inovações. Cris lida muito bem com isso, mas admite que o ano de 2023 deixou um gostinho de quero mais nos fãs.

“Foi um ano bem atípico para a gente.Gostamos do que apresentarmos. Foi bem cansativo, mas a gente curtiu. Agora a gente está sendo cobrado pelas pessoas que querem que a gente não seja mais um casal normal, e quer que a gente apresente algo diferente. E é bem provável que a gente venha a apresentar algo diferente. Nada como foi, com tanto risco, troca de roupa, troca de bandeira, mas algo bem diferente, mas bem bonito também porque as pessoas querem assistir algo diferente, algo inovador”, admite Cris Caldas.

Marcinho também vai por esse lado e analisa que até por eles contarem com um carnavalesco tão inventivo como o Paulo Barros, a tendência de que saia coisas diferentes é muito grande.

“Acho que nada mudou, o casal continua o mesmo, o carnavalesco continua o mesmo. A gente veio muito bem ano passado. A galera vai esperar algo diferente como a gente também. Pode ser que mude até lá, mas a princípio a gente vai trazer algo diferente mais uma vez”, entende Marcinho Siqueira.

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Sobre os ensaios realizados a dupla também revelou que tem contado com o apoio da coreógrafa Ana Formighieri, que ajudou a planejar no carnaval passado a ousada coreografia do casal

“A gente tem uma pessoa maravilhosa que é a Ana Formighieri que acabou de ganhar neném. Ela está em casa, mas está o tempo todo trocando ideia com a gente. Temos ensaiado e ela fica ali com o filho conversando com a gente por vídeo o tempo inteiro. Hoje ela já mandou um monte de mensagem positiva pra gente. Acho fundamental, para nós Cris e Marcinho é super importante” , revela a porta-bandeira da Vila Isabel.

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Marcinho também elogiou Ana e explicou a importância dos casais de mestre-sala e porta-bandeira possuírem o apoio de um profissional qualificado.

“A gente precisa de um terceiro olhar, um olhar de fora. A gente já trabalhou muito sozinho, e muitas vezes a gente olhava no espelho e achava que está bom. Mas o olhar de fora é muito mais perfeccionista. Ainda mais com uma pessoa que entende, que tem um olhar técnico também, que sente. A Ana é primordial para o nosso trabalho, maravilhosa como pessoa, se pudéssemos, não largaríamos ela nunca mais”.

Proposta da comissão de frente

Após impactar positivamente o público, e conseguir passar ilesos sem perder décimos válidos, a dupla de coreógrafos Alex Neoral e Márcio Jahu seguem para 2024. Sobre o enredo, Márcio contou um pouco dos desafios de produzir uma comissão baseada em algo que já existiu.

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“Agente já assistiu ao desfile de 1993 e é material de estudo nosso. Isso também para conhecer como foi essa proposta. Acho que é um enredo muito lindo, que traz a temática da criança como o centro da condução desse enredo, e a gente está trabalhando para poder trazer de alguma maneira essa energia infantil, lúdica, um pouco da nossa visão também, para poder frisar bem o que o enredo propõe para o público, alguma ideia de pureza, estamos estudando isso para poder trazer na comissão. Eu acho que é diferente, a gente tem uma base de algo que já aconteceu, mas também tem uma visão que é muito nossa, muito do Paulo. O Paulo está trazendo uma visão muito particular. A gente, então, tem essa referência, mas ao mesmo tempo tem a possibilidade de trazer uma coisa muito nossa a partir de novas ideias”, explica o coreógrafo.