A Vigário Geral foi a terceira escola a entrar na avenida no segundo dia de desfiles da Série Ouro e surpreendeu com uma apresentação coesa, com uma narrativa bem construída e conectada ao presente. O conjunto estético contou o enredo com maestria, garantindo uma leitura clara e envolvente. O grande destaque, porém, ficou por conta da abertura do desfile. A comissão de frente, coreografada por Handerson Big, utilizou a iluminação cênica da Sapucaí de forma precisa, criando um efeito impactante. Em seguida, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkis e Thaina Teixeira, encantou o público com apresentações de tirar o fôlego, esbanjando técnica, sintonia e elegância.
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No geral, a Vigário Geral proporcionou um desfile extremamente agradável, conquistando o público e demonstrando uma evolução significativa. Mesmo com suas limitações, a escola deixou a avenida com a sensação de missão cumprida, realizando, possivelmente, o melhor desfile de sua história.
A azul, vermelha e branca levou para a avenida o enredo “Ecos de um Vagalume”, o jornalista negro que deu voz à cultura popular do Rio de Janeiro no início do século XX, o tema foi desenvolvido pelos carnavalescos Alex Carvalho e Caio Cidrini. A escola encerrou sua apresentação com um tempo total de 55 minutos.
Comissão de Frente
A coreografia da comissão de frente, assinada por Handerson Big, foi um dos grandes destaques do desfile. A apresentação soube explorar com maestria a luz cênica da Sapucaí, criando um efeito impactante. A coreografia sintetizou o enredo com precisão, trazendo 15 componentes que representavam os devaneios do homenageado, Francisco Guimarães, o Vagalume. O pivô era o próprio Francisco, enquanto os demais bailarinos simbolizavam os vagalumes.
A indumentária, cuidadosamente elaborada, possuía uma leitura imediata, facilitando a compreensão do público. O grande ápice da apresentação ocorreu quando as luzes se apagaram e os vagalumes brilhavam no escuro, criando um momento de grande impacto visual. No desfecho, o homenageado subia no tripé enquanto dois rolos de jornais eram debruçados, reforçando a narrativa.
A comunicação com o público foi instantânea e eficaz. No entanto, vale ressaltar que, nas duas primeiras cabines de jurados, os rolos de jornais não esticaram simultaneamente, o que comprometeu levemente a finalização da apresentação.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkis e Thaina Teixeira, representou o anoitecer do Rio em uma fantasia riquíssima em detalhes e de acabamento impecável, o que contribuiu para a beleza e imponência de suas apresentações ao longo da avenida.
Com um bailado que mesclou o clássico com toques de modernidade, a dupla evoluiu com destreza e total sintonia. O desempenho foi crescente a cada cabine, atingindo níveis altíssimos de apresentação. Thaina demonstrou extrema segurança, conduzindo o pavilhão com leveza e elegância, enquanto Diego a cortejou com maestria, reforçando a harmonia do casal.
A sintonia e a performance impecável fizeram com que ambos fossem ovacionados pelo público, consolidando um dos momentos mais fortes do desfile.
Enredo
O enredo da Vigário Geral foi desenvolvido pelos carnavalescos Alex Carvalho e Caio Cidrini celebrou Francisco Guimarães, o jornalista negro que, como Vagalume, deu voz à cultura popular do Rio de Janeiro no início do século XX. Ele destacou a vida nos morros, terreiros e rodas de samba, valorizando as tradições afro-brasileiras em um tempo de forte discriminação. Seu trabalho ajudou a legitimar o carnaval como símbolo nacional, e seu legado segue vivo na identidade e resistência do povo negro.
O enredo se mostrou um acerto e extremamente pertinente, os carnavalescos optaram por contar a narrativa em três setores, sendo eles: “A invenção de Vagalume”, “Os mistérios da mandinga” e “Na roda de samba”. Todos com ótima leitura, com signos bem claros que transportava quem acompanhava para dentro da história.
Alegorias e Adereços
A Vigário levou para a avenida um conjunto alegórico composto por três carros, além do tripé da comissão de frente. O abre-alas, “Lampejos de uma noite carioca”, representou o universo de práticas culturais de Vagalume. O segundo carro, “A legitimação do axé”, apresentou o resultado do trabalho de Vagalume sobre as religiões africanas. Já o carro três, “O rei da folia popular”, representou a coroação do Vagalume como maior cronista da folia popular. No geral, foram alegorias simples, mas que contaram o enredo de forma certeira, não houveram grandes problemas de acabamento, vale ressaltar o bom uso de cores e formas.
Fantasias
O conjunto de fantasias da Vigário contou com 17 alas, sendo a grande maioria delas de extremo bom gosto, fácil leitura e ótimo uso de cores. A escola manteve o nível em todos os setores, com figurinos que mesclaram a volumetria com a comodidade para o componente. Vale destacar as seguintes alas: baianas, “Exaltação à boemia, ala quatro, “Caravana Negra”, e ala 16, “Festa da Penha, o segundo carnaval”. Foi um trabalho muito cuidadoso dos carnavalescos e o trabalho foi refletido na avenida.
Harmonia
O desempenho harmônico da escola foi positivo, coube ao intérprete Danilo Cezar ser o responsável por comandar o carro de som da escola, logo no início o som estava abafado e o entendimento do samba não se fez claro, porém, esse problema foi corrigido e o desfile transcorreu sem falhas. A bateria comandada por mestre Luygui se destacou com suas paradinhas, sendo a principal delas no refrão “O sino da igrejinha faz belém-blém-blom”. A comunidade acompanhou e apresentou um bom trabalho, com o canto regular durante todo o desfile.
Samba-Enredo
A obra de Marcelinho Santos, João Vidal, Romeu d’Malandro, Jorginho Via 13, Julio Cesar, Telmo Augusto, Mauricio Amorim, Marcos Barberino, Edu Casa Leme, Ricardo Simpatia, Rafael Gonçalves e Totonho passou pela avenida de forma muito positiva. A letra da obra conta o enredo de forma assertiva, o verso “Caneta preta na branquitude” é uma síntese do enredo, dando todo protagonismo ao Vagalume. Os componentes cantaram de forma regular, mesmo sem explosão, o canto foi satisfatório, com destaque para o refrão curto: “O sino da igrejinha faz belém-blém-blom”.
Evolução
A evolução foi um dos grandes destaques do excelente desfile da agremiação. A apresentação se mostrou extremamente coesa, com os componentes desfilando de forma solta e espontânea, transmitindo leveza e naturalidade na passagem pela avenida. Muitos sambaram e brincaram do início ao fim, contagiando o público e reforçando a vibração positiva do desfile. A alegria, sem dúvida, foi o ponto alto do espetáculo.
Outros Destaques
O desfile também foi marcado por momentos especiais, o primeiro deles esperado por todo o mundo do samba: o discurso da presidente Betinha, sempre muito espontânea, ela mais uma vez foi aclamada pelo público. Um momento lindo foi a passagem do terceiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Josias Araújo e Sophia Canuto, ambos possuem síndrome de down e encararam o público presidente.