Enfim, a espera acabou! Na noite da última sexta-feira os desfiles das escolas de samba de Brasília voltaram após nove anos. Sete agremiações passaram pela passarela Marcelo Sena, sendo quatro do Grupo de Acesso e três do Grupo Especial. Para entender como funciona, sete entidades da segunda divisão vão desfilar e terá um acesso e um descenso. Essa é uma nova regra implantada provisoriamente devido aos anos sem a realização das apresentações no Distrito Federal. Sendo assim, as destaques da noite foram Vicente Pires e ARUC. As escolas que desfilam no sábado terão que batalhar muito para alcançar as duas. Cumpriram toda a cartilha de uma agremiação de campeonato.
A Vicente Pires investiu e levou para o desfile o grande intérprete Wantuir e o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei Santos e Marcella Alves. Todos são experientes e renomados no carnaval do Rio de Janeiro. A agremiação que tem o verde como predominante ainda brincou com sua bateria e também teve destaque para a comissão de frente.
Gritados pela torcida na arquibancada, a ARUC foi impecável. Levou um contingente enorme de componentes. Alegorias, fantasias e toda a parte plástica da escola estavam alinhadas com o propósito e ambições que a maior campeã sempre teve. A frente do desfile com a comissão de frente, o casal de mestre-sala e porta-bandeira foi o destaque principal.
Grupo de Acesso
Coruja Serrana de Sobradinho II
Desfilando pelo Grupo de Acesso, a escola foi a responsável por abrir os desfiles de Brasília após nove anos. Porém o desempenho não foi satisfatório. Devido ao pequeno número de componentes, a Serrana não soube se comportar na pista e abriu vários buracos. Esses espaçamentos também se notaram entre as fileiras da ala. Além disso, deu para notar que a maioria dos desfilantes não sabiam o samba-enredo, que foi cantado pelo renomado intérprete Nêgo. Analisando a comissão de frente na cabine do meio, observou-se componentes fazendo danças e passos com os pés sem sincronismo.
Os pontos positivos ficam para o conjunto de fantasias. A escola optou por usar o colorido em praticamente todas as alas, principalmente, nas vestimentas da comissão de frente.
Outro fator a se destacar foi o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Executaram o bailado corretamente, mas a ala posterior não soube lidar com o tempo que a dupla precisou para se apresentar frente à cabine dos jurados e avançou um espaço considerável, configurando o buraco.
A bateria, que tinha o mestre Dinho, da Unidos de Padre Miguel, ajudando o mestre Rodrigo, teve um comportamento correto. Destaque para os surdos de marcação, que desfilaram com uma afinação grave.
Unidos de Vicente Pires
Uma grande apresentação! Com o enredo: “Nas águas sagradas desperta a Senhora da fertilidade do espelho de Oxum ao reflexo da força da mulher”, a Vicente Pires, segunda escola a desfilar na passarela, fez grande exibição de ponta a ponta. Começando pela comissão de frente, onde os integrantes desfilavam livremente e representavam certas entidades, como Exú ou Zé Pilintra carregando uma garrafa na mão. A personagem do enredo, a orixá Oxum foi a protagonista e desfilou com uma fantasia toda dourada.
Um dos destaques principais foi o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei Santos e lAlves, que pegaram um avião diretamente do Rio de Janeiro, pediram licença ao Salgueiro e ostentaram o pavilhão da Vicente de forma brilhante.
Outro ponto que vale destacar de forma extremamente positiva é o intérprete Wantuir. O cantor teve uma noite exatamente de Rio de Janeiro. Se ele falava que estava se sentindo em casa, realmente – fechou os olhos e se imaginou na Sapucaí. Elevou de patamar o samba-enredo da agremiação, que é composto por Diego Nicolau, Dilson Marimba e Luciano Ibiapina.
Bateria com bossas nos refrões empolgaram, além de fantasias bem acabadas e criativas. Destaque para a primeira, que era toda preta e levava um escudo com uma frase escrita “O Brasil é Preto!”.
Unidos da Vila Paranoá
Terceira escola a desfilar, a Vila Paranoá teve grandes problemas de evolução. Perto do minuto 21 o abre-alas quebrou e começou a andar devagar. Isso criou um grande espaçamento entre a comissão de frente, carro abre-alas e casal de mestre-sala e porta-bandeira, o que ocasionou estresse nos integrantes de harmonia. A agremiação pode ser fortemente penalizada por isso, pois o fato ocorreu perto da cabine de jurados que fica localizada no centro da pista.
De resto se viu um desfile regular. Destaque para a bateria, que abusou das bossas em todas as partes do samba. O surdo de terceira foi predominante e pode ser registrado como característica do ritmo da agremiação.
As fantasias e alegorias eram monocromáticas e feitas com materiais simples, mas de fácil entendimento. Algumas com teor de praticamente roupas normais, como a fantasia da bateria. Os ritmistas desfilaram de regatas, chapéus e calças. Destaque para o abre-alas em vermelho e preto, que são as cores de Zé Pilintra, enredo da Vila Paranoá.
O tema da escola é intitulado como “Paixão, boemia, malandragem e fé, pode me chamar de seu Zé”. Uma homenagem à entidade da umbanda, Zé Pilintra.
Unidos do Varjão
Fechando os desfiles do Grupo de Acesso no primeiro dia, a Unidos do Varjão teve como enredo “Tim Maia”. Falando de componentes na pista, a parte de evolução foi segura. Não houve buracos e nem falhas do tipo. Porém, ninguém da escola sabia o samba e o canto foi nulo. Os desfilantes apenas dançavam de um lado para o outro.
Analisando o casal de mestre-sala e porta-bandeira frente à cabine do meio, foi observado que executaram somente a coreografia dentro do samba. Os giros horário e anti-horário não foram feitos.
O destaque principal vai para a bateria. Apesar do samba não render na voz dos componentes, o carro de som e o ritmo da agremiação corresponderam fortemente. A bateria brincou, fez festa e executou bossas dentro do hino inteiro da escola.
O mais importante é que a escola se preocupou em todo momento respeitar a história de Tim Maia e fazer a homenagem correta. As alegorias representaram muito bem isso, principalmente, a última que representava o “Edifício MPB”.
Grupo Especial
Unidos da Vila Planalto
Abrindo os desfiles do Grupo Especial, a Vila Planalto levou o enredo infantil intitulado como: “Gira Gira, Vamos Todos Cirandar, Vamos Dar a Meia Volta e Meia Volta, Vamos Dar, Pluft Plaft Zum, Não Vai a Lugar Nenhum…”. Com enredo leve, a escola teve um desfile de altos e baixos. Teve aspectos positivos e apresentou alguns problemas. O canto foi bastante prejudicado. A maioria dos componentes sabiam poucas partes do samba, principalmente, o refrão do meio que é a parte mais fácil de ser cantada. Em contrapartida, os integrantes que conheciam a letra, cantavam a plenos pulmões.
Outro problema é que nas duas alegorias, a Planalto apresentou falhas no acabamento. Especificamente na pintura das esculturas, sendo o abre-alas com partes brancas graves. Vale ressaltar que as ideias foram ótimas. O segundo carro da bruxa levando o terror foi muito bem elaborado, tinha iluminação, mas as falhas na pintura podem comprometer a escola.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira apresentou um bailado correto e aparentemente estavam bastante emocionados. A estratégia feita foi principalmente usar os giros horários e anti-horários.
A parte principal foi a comissão de frente. Uma entrada sensacional. Haviam duas crianças (um menino e uma menina) brincando em uma espécie de carrinho que tinha uma bola. Ainda dentro da comissão de frente, apresentavam componentes vestidos em coloridos com belas fantasias. Em determinada parte da coreografia, todos coreografavam juntos e faziam uma atuação brilhante. Remetendo a magia da infância. De fato, a melhor credencial apresentada.
Por fim, as fantasias tiveram um colorido predominante, visto que o tema pedia isso. Sem erros de acabamento e o material usado foi satisfatório.
Águia Imperial de Ceilândia
“África, berço da humanidade e do conhecimento” é o enredo que a segunda maior campeã do carnaval brasiliense levou para a avenida. Para contar o tema, a escola nove vezes campeã apostou em duas alegorias de estruturas impecáveis. Destaque para o abre-alas, com uma águia, que como diz no nome é o símbolo maior da agremiação. O segundo carro alegórico levou a savana africana com uma grande escultura de leão e outros animais.
Outro grande acerto da Águia foi a evolução. Diferente de todos os outros desfiles, a escola optou por fazer uma montagem diferente. Não fizeram o padrão de comissão, casal e alegoria. Isso deu problemas e ocasionou problemas nas outras adversárias. A montagem da Imperial consistia em: comissão de frente, abre-alas, duas alas e após os dois casais apareceram. Evitou os espaços indesejados.
Vale ressaltar a bateria. Forte pegada, bossas e grande empolgação dos ritmistas. Desenho dos tamborins, caixas e surdos se sobressaíram para a sonora da bateria se destacar.
O belo casal de mestre-sala e porta-bandeira foi um dos destaques da noite. Fizeram a coreografia dentro do samba, os giros rápidos e mostraram o pavilhão para a cabine com segurança.
Porém, a Águia foi outra escola que teve problema no canto. Muitas pessoas sabiam o hino, mas dava para notar que outros componentes estavam ali apenas compondo espaço para vestir a sua fantasia, se divertir e compor a evolução.
ARUC
A soberana, maior campeã do Carnaval do Distrito Federal com 31 títulos, foi a melhor entre as três do Especial na noite. Cumpriu todos os requisitos que uma escola precisa para ser vencedora. Os componentes cantaram, dançaram e vibraram com a volta dos desfiles na cidade. Teve festa na arquibancada assim que a ARUC foi anunciada. A torcida gritava o nome da agremiação. Serviu de combustível para os desfilantes darem o seu melhor. Até o momento, a ARUC é a escola a ser batida.
A entrada da escola foi sensacional. A comissão de frente mostrou um repertório de coreografia. Diferente das outras, a ala parou e se virou para as cabines de jurados com o objetivo de mostrar a sua dança.
O acabamento das alegorias ficou incrível. A águia, que é o símbolo da entidade, veio no abre-alas e a escultura apresentava um grande realismo. As fantasias usaram bem a palheta de cores e estavam bem feitas.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira teve um desempenho satisfatório. Destaque para a dança que não se viu em outro dançarino das escolas do Grupo Especial.
“Levanta, sacode a poeira e dá volta por cima” é o enredo. Se trata justamente da volta dos desfiles das escolas de samba e da resistência do samba.