Por Lucas Sampaio e fotos de Will Ferreira (Colaboraram Gustavo Lima, Naomi Prado e Nabor Salvagnini)
O Vai-Vai realizou na última sexta-feira seu terceiro ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi em preparação para o desfile no carnaval de 2025. O espetáculo apresentado pelo carro de som comandado por Luiz Felipe, que levantou o público que compareceu em peso em pleno dia útil, foi o grande destaque do ensaio da comunidade do Bixiga encerrado após 59 minutos na Avenida. A Saracura será a sétima escola a se apresentar no sábado de carnaval pelo Grupo Especial com o enredo “O Xamã devorado y a deglutição bacante de quem ousou sonhar desordem”, em homenagem ao diretor Zé Celso, assinado pelo carnavalesco Sidnei França.
* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp
O Quilombo Saracura encerra sua participação nos ensaios técnicos colhendo trunfos importantes, mas ainda apresentando quesitos que carecem de atenção até o dia do desfile oficial. O último treinamento geral, porém, comprovou a determinação da comunidade em fazer um grande espetáculo na Avenida e que ainda há tempo da escola corrigir as falhas observadas. O diretor de harmonia, Paulo Melo, fez um balanço geral do ciclo do Vai-Vai neste pré-carnaval.
“Nós viemos em uma crescente. Nós viemos trabalhando desde o primeiro ensaio técnico, o segundo ensaio técnico e esse terceiro foi justamente para ajustar todos os pontos que encontramos, a questão do canto a questão da evolução, o andamento da escola. A escola está grande, maior do que o que foi visto aqui. O Vai-Vai vem próximo, se não mais, do que 3000 pessoas e está com uma metragem mais ou menos compacta de 700 metros. A pista tem 530 metros e a escola está com mais de 200 metros a mais. Nós estamos fazendo a lição de casa, trabalhando bastante ensaio de canto durante a semana, de final de semana no Uirapuru, que nós estamos ensaiando lá na quadra. É um trabalho de crescente e de renovação, nós renovamos muita coisa e estamos o quê? O Vai-Vai está pulsando, está respondendo, nós estamos resgatando muita coisa que precisávamos, aquele orgulho de ser Bixiga, orgulho de ser Vai-Vai e é isso que vamos demonstrar na Avenida. Viremos com essa força, esse orgulho”, avaliou.
Paulo demonstrou que o planejamento da escola para entrar na Avenida está rigoroso de modo a garantir que a cronometragem não será um problema durante o desfile.
“Vou falar para você. A questão de tempo, nós temos um planejamento muito tranquilo. O que aconteceu? Como ficou toda aquela euforia na concentração, nós deixamos a ala de compositores solta e planejamos o quê? Vamos soltar em cima do samba, esse foi o planejamento. Nós temos todo o planejamento de andamento. O andamento da escola ele é sentado, não tem como correr até mesmo por causa do tamanho dos carros, a proposta do desfile é essa. Nós saímos perto de 62 minutos mais ou menos. No meu cronômetro está 59, mas eu diria para você que o planejamento é para 63 minutos no máximo, até mesmo porque nós viremos aí também com uma ala de convidados bem fora do comum, do que se vê em outras escolas. É uma ala grande, diria que ela vem perto de 500 pessoas, significa quase cinco alas de 100 pessoas. Mas nada mais é o que é, são os amigos, colaboradores, a própria comunidade vindo festejar esse enredo. É maravilhoso, o trabalho do Sidney é excelente. Comissão de carnaval, executiva, bateria. A comunidade que eu falo, que é a nossa pulsação e é em cima dessa pulsação que nós falamos”, afirmou.
Comissão de Frente
Ensaiada pelo coreógrafo Sérgio Cardoso, a comissão de frente do Vai-Vai realizou uma apresentação com duração de três passagens do samba e contou com um grande elemento alegórico. É inegável que se trate talvez de uma das apresentações mais polêmicas já feitas por uma escola no quesito, o que a torna perfeita para homenagear Zé Celso, um diretor que como o próprio título do enredo diz, “ousou sonhar desordem”. A expressividade dos componentes e as interações entre si impressionam, mesmo que ainda seja difícil definir tudo que o quesito pretende apresentar, ainda mais com a gigantesca alegoria, que faz referência ao Teatro Oficina, estando quase toda coberta por plásticos pretos. O quase carro alegórico – sendo um modo de dizer, pois não conta como um na pasta de julgamento – possui dois andares com muito espaço para coreografias, causando um grande impacto visual mesmo ainda descaracterizado.
A coreografia do quesito, porém, encara um desafio já apontado em outras agremiações que optam por uma apresentação em três passagens do samba. Como a alegoria começou a se movimentar sem que os componentes começassem a atuar, iniciando apenas na passagem seguinte, foi registrado que o terceiro ato não é concluído diante do primeiro módulo de jurados, e até por conta do enorme tripé, torna a visualização do próprio público muito complicada de ser acompanhada na íntegra. É cedo para afirmar se o Vai-Vai sofrerá consequências de uma aposta tão arriscada, mas a performance em si, como já mencionado, é um deslumbre para quem aprecia a verdadeira ousadia que só o carnaval pode proporcionar.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal do Vai-Vai, formado por Renatinho e Fabíola, chamou a atenção pela colorida fantasia com a qual participaram do ensaio técnico. A dupla demonstrou muita simpatia e soube interagir com o público como representantes dignos da comunidade do Bixiga. Vale notar, porém, que se percebeu algumas falhas de sincronia diante do segundo módulo de jurados, em especial na hora do posicionamento para a apresentação do pavilhão, mas que não se repetiram nos demais em que foram observados.
Fabíola fez uma avaliação do desempenho do casal neste terceiro ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi. “Sempre positiva. Acho que nós tivemos realmente uma evolução do primeiro para esse terceiro ensaio. Podemos não estar 100% porque o 100% vai ser sempre dentro da Avenida. Estamos curtindo esse momento, vendo os prós e os contras e nós somos sempre muito positivos, acreditando sempre na nossa dança e vamos entregar com certeza 100% na Avenida”, analisou.
Renato afirma que o casal passou por um ciclo de superação para o carnaval de 2025 e está confiante de que conseguirão um grande resultado para a escola.
“Superação, muita superação porque o ano passado já tivemos que evoluir muito mais. Esse ano estamos mais cientes, mais calibrados. Ser Vai-Vai é sentir o peso da comunidade, a alegria da comunidade, sua raça, sua fibra de querer acertar sempre, mas o que nós temos é que estar prontos. Agora vamos para casa, vamos sentar, rever os lances igual a um jogador de futebol, mas com certeza no dia nós vamos poder falar para vocês que vai ser um gol”, afirmou.
Harmonia
A comunidade do Vai-Vai está empolgada com o samba e ganha um gás notável com as constantes evocações do intérprete Luiz Felipe em seus cacos. O canto da escola está forte, sendo um ponto de destaque pela elevação da intensidade ao longo do ciclo de ensaios técnicos da escola. A maior preocupação que havia para o quesito, porém, persiste: há muitos componentes errando ao cantar os versos “Vai no Bixiga pra ver, só no Bixiga pra ver” e todo o refrão do meio, com seu jogo de palavras “Pois Zé”, “Ôh Zé”, “É Zé” e “Zé” nos quatro versos. Os erros de canto, especialmente nas alas da frente da escola, são facilmente perceptíveis e o tempo é curto para corrigir isso nos ensaios que a escola ainda fará fora do Anhembi. Que seja dada uma atenção especial para essa observação.
Evolução
O contingente que o Vai-Vai levou para o ensaio conseguiu cumprir o seu papel em 59 minutos marcados, descontando o esquenta alongado e sempre marcante feito pelo carro de som. Levando em consideração que a estimativa da escola é levar 3000 desfilantes, há uma margem ampla para conseguir lidar sem maiores problemas no dia do desfile. Os componentes estavam soltos na maioria das alas e brincando o carnaval de forma descontraída, assim como o saudoso homenageado gostaria que fosse. Uma preocupação que há, porém, é com a separação entre a alegoria da comissão de frente e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Enquanto a dupla se apresentava no segundo módulo, houve uma abertura de mais de dez grades em dado momento, e durante alguns momentos do ensaio a escola sofreu o chamado “efeito sanfona”. Com a cronometragem sendo um ponto forte para a escola, ainda há tempo para acertar a comunicação entre os responsáveis pelo quesito.
Samba-Enredo
Luiz Felipe já é uma realidade entre os intérpretes do carnaval de São Paulo e não é de hoje. Mais uma vez, LF e sua ala musical fizeram do ensaio técnico um verdadeiro espetáculo vibrante para o público, que foi em um número até que significativo em se tratando de um dia útil com só duas escolas ensaiando. Mesmo sendo um samba com versos complexos, o cantor não falha na pronúncia e abrilhanta a obra com cacos que já se tornaram sua identidade.
Encerrando o ciclo de ensaios técnicos do Vai-Vai no Anhembi, o intérprete fez um balanço geral do desempenho da escola e do seu trabalho na Avenida.
“O balanço geral que fazemos é de uma crescente muito boa. Evolução, samba-enredo, esse é o balanço positivo. Chegamos aqui com algumas dúvidas no primeiro ensaio técnico e fomos sanando ao longo deles. Acho que hoje eu fiz como se fosse o desfile. O primeiro e segundo ensaios foram mais descontraídos e hoje mais sério, mais reto, mais ligado em tudo. O último é o teste final. Hoje a minha evolução foi essa”, avaliou.
LF aproveitou a oportunidade para falar sobre o trabalho desenvolvido pela bateria da escola ao longo desse ciclo. “O mestre Tadeu junto com o mestre Beto estão sempre inovando. As pessoas antigamente não faziam muito, porque lá no Vai-Vai é breque. Nós temos mentes pensantes lá”, comentou.
Outros Destaques
A corte da bateria “Pegada de Macaco” brilhou no terceiro ensaio técnico no Anhembi. A Rainha Madu Fraga, a princesa Giuliana Silva e a madrinha Luciana Gimenez levantaram o público por onde passou e embalou os ritmistas comandados pelos mestres Tadeu e Beto. A bateria do Vai-Vai é uma das com características mais clássicas na atualidade do carnaval de São Paulo, mas cada vez mais aposta em bossas criativas que ajudam a motivar o canto dos componentes na Avenida.
Ao final do ensaio, mestre Tadeu comentou sobre o desempenho da escola e sua expectativa para o desfile oficial. “Foi bom, a comunidade vem em peso, graças a Deus. A escola veio grande e agora vamos nos preparar para fechar o sábado de carnaval. Nós estamos confiantes e se Deus quiser faremos um grande desfile“, comentou.
Outro ponto que chamou atenção foi o “arrastão” do público que desceu das arquibancadas para acompanhar o cortejo da escola. Característica marcante dos encerramentos de desfiles no carnaval do Rio de Janeiro, existe a possibilidade de que essa manifestação popular ocorra em São Paulo no ano de 2025, onde o próprio Vai-Vai encerrará as apresentações do Grupo Especial, prometendo assim um momento icônico para a história da folia paulistana.
Veja mais fotos do ensaio