A Unidos de Padre Miguel realizou o sonho de ocupar o barracão da Cidade do Samba, após o título da Série Ouro em 2024, e agora trabalha para fazer história em sua estreia no Grupo Especial em 2025. É a primeira vez que desfilará na elite da folia, no modelo adotado pela Liesa (desde 1984), já que a escola esteve no principal grupo, mas na década de 1970. Para pisar forte na Sapucaí o trabalho do Boi Vermelho da Vila Vintém começou do zero, ou seja, sem reaproveitar nada, construindo seus carros alegóricos com o máximo de cuidado possível.
“Nossa produção é do zero. Começamos os chassis da base, o início foi no abre-alas e assim vamos para os próximos carros. Tudo aqui é novo. A estrutura que a Unidos de Padre Miguel vai levar para Avenida é nova, com muito cuidado na manutenção, inclusive, com pneus novos e abrindo os chassis para sustentar a demanda das novas bases das alegorias. Acreditamos no resultado e nosso trabalho”, contou Alessandro Cobra, diretor de barracão.
Ao lada da filha, Lara Mara, Cícero Costa, comanda a direção de carnaval da Unidos de Padre Miguel, e ao CARNAVALESCO explicou o sentimento de dever cumprido pelo título da Série Ouro, a chegada ao Especial e o momento de entrar na Cidade do Samba.
Ouça os sambas concorrentes da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2025
“Mexeu muito comigo pisar na Cidade do Samba. Já ouvi tantos xingamentos, quando a gente não ganhava, o diretor de carnaval era o primeiro que levava pancada e eu me cobrava muito. Me isolava, fica triste e depois recomeçava. Me dava mais força. Um dia a gente conseguiria ganhar e conseguimos. Eu respiro a Unidos de Padre Miguel. Era um sonho pessoal ver essa escola no Especial. Foi uma conquista minha também e agradeço a diretoria por sempre confiar no meu trabalho. Está sendo um desafio desde que chegamos na Cidade do Samba. É gostoso, porque queremos mostrar que somos capazes. Colocar a escola na Avenida e fazer que consiga um bom resultado. Compramos mais chassis e já posso adiantar que o nosso abre-alas terá três chassis, queremos mostrar porque estamos no Grupo Especial, com muito trabalho, respeito e sem medo. A Unidos não pode errar, se fizer o que sabe, é possível sonhar com um ótimo resultado”, afirmou Cícero.
A escola já terminou a fase de produção dos protótipos das fantasias e em breve abrirá a reprodução. Cícero Costa cita o planejamento feito com a dupla de carnavalescos, Alexandre Louzada e Lucas Milato, para que tudo aconteça da forma mais certa dentro do carnaval.
“Desde que estivemos na Bahia, conseguimos autorização do enredo, traçamos nossas metas e estamos cumprindo. É planejamento. Temos um grupo que é o nosso pilar: os carnavalescos, direção de carnaval e de barracão. O espaço na Cidade do Samba é muito diferente do nosso antigo barracão. Quando conquistamos o título, passou um filme, poderíamos ter ganho antes, mas será que estávamos preparados? Fomos ganhando casca e vamos fazer o maior desfile da história da escola. O nível é muito alto no Grupo Especial. Todo mundo falava que o nosso nível no Acesso era alto, mas agora sabemos que precisamos ser bons em todos os quesitos. Vamos desfilar no domingo que é um dia com escolas pesadas e com sarrafo lá no alto. Queremos fazer o nosso trabalho, não é soberba, lutamos para estar aqui e não queremos decepcionar o público que sempre quis a Unidos no Especial. Sentimos o carinho dos sambistas com a nossa escola”.
Para apresentar o enredo “Egbé Iya Nassô”, que contará a trajetória da africana Iyá Nassô e do emblemático Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, uma comitiva da escola visitou o lendário terreiro em Salvador, na Bahia, para pedir aprovação. Cícero Costa citou que quando foi dado o aval o sentimento de agradecimento e emoção tomou conta de todos os presentes. O desfile promete uma viagem pela história e tradição afro-brasileira, ao destacar o legado de Iyá Nassô e o papel fundamental do Ilê Axé Iyá Nassô Oká, considerado o mais antigo templo afro-brasileiro ainda em funcionamento.
“Explicamos nossa intenção com o enredo. Mostramos que faríamos apenas com o aval delas. Foi uma emoção muito grande. Quando ouve a permissão, choramos igual criança, fiquei arrepiado, foi um momento muito especial”, garantiu o diretor de carnaval.
Sobre trabalhar em parceria com a filha Lara Mara, Cícero Costa diz que a jovem possui liberdade para opinar e atua com profundo conhecimento da escola.
“Ela é jovem. Sempre quis trabalhar comigo e ser diretora de carnaval. Deixo ela falar, em alguns momentos peço calma, as pessoas respeitam pelo trabalho e competência. Está dando certo. Dividindo com ela e estou adorando. Quando tem amor fica tudo mais fácil. Temos uma dupla maravilhosa de carnavalescos. O Lucas Milato foi um achado nosso. Já acompanha o trabalho na Inocentes de Belford Roxo, correspondeu, nos deu o título e foi merecedor. O Louzada é de uma leveza. Ele consegue sempre ser leve, sabe do nosso desafio e sabemos que ele é muito capaz. Vamos dar estrutura e precisamos estar em sintonia sempre”.
O diretor de carnaval citou também a opção por Dedê Marinho como rainha de bateria e ressaltou o legado de ser uma escola de samba 100% de comunidade.
“Foi ideia da diretoria. Uma sacada maneira. Estava demorando. Faltava olhar para dentro. Em um momento tão importante, como estar no Grupo Especial, nada mais justo do que ter uma rainha de bateria da comunidade. Aquela gente da Vintém lutou para estarmos aqui. Acredito que a Unidos é o orgulho da Vintém. A Mocidade tem história linda também. Não queremos apagar a história de ninguém, estamos buscando nosso espaço, e Padre Miguel tem espaço para todo mundo”, disse.