Os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, durante a apresentação da sinopse do enredo “Nosso destino é ser onça” ressaltaram a importância de um samba que compreenda o tema de 2024. De acordo Bora, “O sucesso é compreender a poética e o universo do enredo. Quem conseguir viajar pela correnteza que apresentamos hoje, vai se dar bem”.
Com carnavais elogiados pela crítica nos últimos anos, a Acadêmicos do Grande Rio aposta no samba-enredo como carro chefe de um bom desfile. Em entrevista ao site CARNAVALESCO e na fala para os compositores presentes, Gabriel Haddad e Leonardo Bora detalharam o que será o enredo da escola de Caxias e o que esperam do samba.
“A gente precisa de um samba, acima de tudo, valente. Um samba que não é oba-oba e que obviamente não tem que ser descritivo. É um samba que precisa compreender esse universo do enredo, que é um universo de luta, bravura, força, coragem e encantamento. Sem coragem a gente não irá fazer este carnaval. Precisamos entrar na Avenida ‘mordidos’ e ‘mordendo’”, enfatizou Bora.
“A gente sabe que cada compositor tem a sua característica própria de compor e isso que é o bacana e dá diversidade, tanto ao CD da liga em si, mas também dentro de uma disputa de escola de samba. A gente imagina um samba que traduza o enredo e tudo aquilo que estamos pensando em levar para a Avenida”, comentou Gabriel Haddad.
Com um trabalho iniciado em 2016 e baseado na obra de Alberto Mussa, o enredo “Meu destino é ser onça”, levará para a Avenida o mito tupinambá da criação do mundo, propondo uma reflexão sobre a simbologia da onça no cenário artístico e cultural do Brasil. Os carnavalescos detalharam o que será apresentado na Marquês de Sapucaí.
“É um desdobramento de ‘Meu destino é ser Onça’, de Alberto Mussa, onde a gente começa com o mito tupinambá de criação do mundo e, a partir daí, a gente destrincha toda forma cultural e toda manifestação artística que a gente tem e que envolvem as onças – não só como animal, mas também o símbolo da onça, como um símbolo de luta e resistência no Brasil. Daí a gente fala das questões que envolvem a onça para os povos originários, depois do desbravamento do mito tupinambá e então nós vamos construindo o nosso desfile”, explicou Gabriel Haddad.
Leonardo Bora ressaltou que o enredo deste ano é um trabalho que foi iniciado pela dupla nos últimos anos. “Começamos a aprofundar a pesquisa com base na obra do Alberto Mussa em 2016. Foi uma caminhada e um processo de amadurecimento muito legal até esse momento em que a onça, esse símbolo tão poderoso, essa divindade, entidade – tudo isso iremos mostrar na Avenida – se impôs e falou: agora é a minha vez. Era a hora dela rugir”.
Questionado se é um enredo denso e como carnavalizar o tema, Bora afirmou que é algo próximo do cotidiano brasileiro e que aborda questões que precisam ser tratadas na atualidade.
“Olha, a gente não acredita muito nessa nomenclatura. É um enredo que fala de muitos ‘Brasis’, o que há de mais profundo em relação com o que é ser brasileiro. Fala das cosmogonias e cosmovisões dos povos originários. Fala da diversidade de culturas que coexistem dentro deste território, dos desdobramentos pelos quais o símbolo da onça passou. É algo muito próximo da nossa vivência enquanto brasileiros e que fala de muitas questões urgentes da contemporaneidade. Eu tenho certeza que todo mundo vai compreender e vai se identificar com a força deste enredo”, explicou o carnavalesco.
Para Gabriel Haddad, é natural que descobertas sobre o enredo aconteçam ao longo de toda a preparação para o carnaval, principalmente em um tema que possui uma história oral presente.
“Na verdade, acho que isso vai acontecer até o desfile (descobertas), como aconteceu em 2020, em 2022 e, surpreendentemente, com o Zeca também – que tiveram histórias que chegaram para a gente já no final, quando quase estávamos entrando na Avenida. Então, quando a gente produz um desfile, estamos suscetíveis a mudanças de enredo, leitura e histórias que chegam. Isso vai acontecendo até o final. Ainda mais quando é a respeito dos povos tupi-guarani, dos povos tupinambá, é claro que nós vamos ouvir coisas sempre novas. São povos que têm a história oral presente nas suas manifestações”, comentou.
Em relação a saída do pesquisador Vinícius Natal, a dupla afirmou que o trabalho de pesquisa sempre foi compartilhado. Segundo a dupla, eles já possuem outros enredos prontos.
“A pesquisa a gente já realiza desde o início dos nossos trabalhos. Eu comecei no carnaval trabalhando como pesquisador. O Leo veio do Paraná para morar no Rio de Janeiro para fazer o mestrado no setor de teoria literária. A partir daí a gente vai desenvolvendo os enredos. Já temos alguns enredos prontos. O Vinicius é um grande amigo e pesquisador que a gente admira bastante. Vamos continuar a amizade sempre”, disse Gabriel Haddad.