Mais uma escola de samba de São Paulo revelou o enredo para o carnaval 2026. No último sábado, a tradicionalíssima Unidos do Peruche encheu a quadra da agremiação, na rua Samaritá, para apresentar ao universo do carnaval paulistano “Oi… esse Peruche lindo e trigueiro… terra de samba e pandeiro”, desfile que será assinado pelo experiente carnavalesco Chico Spinosa. Presente em todos os eventos relevantes para as agremiações, o CARNAVALESCO esteve no terreiro da Filial do Samba e ouviu nomes importantes da agremiação.
* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

Começando os trabalhos
Embora a escola já esteja a mil por hora em relação a preparativos para o desfile de 2026, o evento deste sábado marcou uma série de apresentações da Unidos do Peruche para a própria comunidade e para o mundo do samba paulistano como um todo. Prova disso foi a apresentação de toda a diretoria e do elenco da agremiação para o carnaval de 2026, logo após uma roda de samba com ritmistas da Rolo Compressor – bateria de verde, amarelo e azul.
Mesmo sendo apresentados juntamente com os outros nomes, Daniel Vitro e Taiene Caetano, novo primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da agremiação, foram empossados de maneira oficial. Depois, uma apresentação dividida em vários atos e que contou com performances de ritmistas, de integrantes da comissão de frente e de outros segmentos se iniciou e só foi encerrada quando o carnavalesco revelou a todos os presentes qual seria a temática a ser levada ao Anhembi.
Com tudo já apresentado, a agremiação começou um show com diversos sambas-enredo clássicos da Peruche e do carnaval paulistano, como “Água Cristalina” (1985), “Filhos da Mãe Preta” (1988), “Os Sete Tronos dos Divinos Orixás” (1989), “Mamma África” (1998) e “São Paulo é Como Coração de Mãe… Sempre Cabe Mais Um” (2004). Para executar tais sucessos, mais uma apresentação: Agnaldo Amaral, novo intérprete da “Filial do Samba”, cantou tais canções e “Axé, Griô! Carlão do Peruche, o Cardeal Preto do Samba”, tema do desfile de 2025.
Enredo com história
Principal responsável pelo enredo da Unidos do Peruche e chegando na agremiação há pouco, Chico Spinosa revelou que a ideia da temática é antiga: “Quando fui convidado para a Peruche e fui para um encontro com o presidente, o Zóio, eu sentei na mesa e falei, que tinha um enredo. Ele perguntou qual era e se tinha África na temática. Eu disse que passava por lá e ele topou na hora. Eu disse que o enredo era a história do pandeiro e ele arregalou os dois olhos”, relembrou o carnavalesco, destacando o único pedido do presidente da Filial do Samba nas tratativas.
Citado pelo carnavalesco, Alessandro Lopes, popularmente conhecido como Zóio, presidente da agremiação, destacou que uma efeméride importantíssima para a história da instituição também estará envolvida no projeto: “Vamos lá contar a história dos nossos 70 anos e a do pandeiro. É uma mescla. O Chico Espinosa, nosso carnavalesco, tinha esse enredo sobre o pandeiro guardado com ele e nós temos os nossos 70 anos. Falei para ele fazer a proposta da mescla e aconteceu: veio uma proposta linda, uma proposta bacana e de fácil leitura – que é importante para todos nós e para o contexto do carnaval”, pontuou.
O principal mandatário perucheano aproveitou para destacar outro ponto importante em relação à temática: “Se você vir com o carnaval de difícil leitura é complicado, ainda mais no Grupo de Acesso II. É um enredo muito bacana, de fácil leitura e contempla os 70 anos da Peruche no final do enredo. Achei muito bacana e deu liga, a comunidade adorou”, comemorou.
Detalhes
Em entrevista à reportagem, Chico mostrou-se bastante animado com todo o desenvolvimento do enredo e as diversas possibilidades que o instrumento musical traz: “É uma história linda, que tem profundidade de samba-enredo. Contei uma historinha bem pequena para ele: encontrei em uma das esculturas de Anatolia, Cibele, uma deusa, abraçada no pandeiro. Isso data de 6 mil anos atrás. É uma coisa que a gente tem que comentar”, afirmou, citando as esculturas seljúcidas turcas que se tornaram famosas mundialmente e a deusa-mãe da mitologia romana.
Chico falou também sobre assuntos bem mais presentes no carnaval como um todo: “O pandeiro veio para o Brasil como um gringo, mas chegou aqui e encontrou a identidade dele. Na malemolência do brasileiro, desse povo trigueiro, desse povo mulato. Eu falei para o presidente que tinha uma outra coisa que ele iria gostar de ver na avenida: o pandeiro foi peça de resistência na escravidão, com a capoeira, com Chiquinha Gonzaga e também foi uma peça importantíssima para unificar a musicalidade do Brasil com o Jackson do Pandeiro: ele conseguiu colocar a música nordestina fazendo parte do cast tradicional da música brasileira”, relembrou.
Por fim, o profissional desembarcou no universo da folia de Momo: “Eu acho que é de uma importância vital a gente falar do pandeiro porque ele, como peça de resistência, na Praça Onze, chegou a ser rei. O carnaval venceu! É uma peça que pode nos fazer vencer”, vociferou o carnavalesco.
De olho no Anhembi
Perguntado sobre como tantas referências seriam exibidas no Sambódromo, Chico foi sucinto: “É uma história cronológica. Eu, na verdade, abro com a comissão-de-frente cantando com os deuses, tocando pandeiro e dançando para as divindades. No carro abre-alas, eu faço esse pandeiro enquanto gringo chegar no Brasil através da navegação. E, aí, eu passo pela musicalidade brasileira e pelos textos extremamente precisos”, confessou.
O carnavalesco voltou a trazer novas referências para a reportagem:“Por exemplo: tem um texto de 1549, da Arquidiocese da Bahia, que diz que atrás do Santo Cristo (peça que veio em um navio) tinha um cortejo de folia, zombaria e pandeiros. Isso está escrito em 1549! A gente vai passar por isso. Eu fui me apaixonando cada vez mais por essa história”, revelou.
Chico, novamente, desemboca na agremiação ao finalizar a fala: “Depois, encontrei Ary Barroso, encontrei Assis Valente, encontrei Sinval dos Santos… grandes compositores, tal qual Carmen Miranda. E Ary Barroso escreveu ‘Meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro’. Daí veio a inspiração de ‘Oi, meu Peruche é lindo e trigueiro, terra de samba e pandeiro’. Aí está feito o enredo”, destacou.
Convencimento em alta
Um dos diretores de carnaval da Unidos do Peruche, Wagner Caetano destacou que, de primeira, a proposta do enredo surpreendeu: “Em um primeiro momento, nós achamos diferente. Mas ele, ao ele expor a ideia e a concepção do que nós iríamos fazer, nós realmente tivemos a certeza que nós vamos fazer um bom carnaval, um grande carnaval, um carnaval à altura da nossa comunidade”, destacou.
Por uma fala de Chico Spinosa (“ele arregalou os olhos”), é possível depreender que também ficou surpreso com a proposta do carnavalesco, mas, como já foi elucidado, o presidente tornou-se partidário da ideia.
Trabalho em alta rotação
Mestre-sala da Unidos do Peruche na década de 1970, presidente da agremiação entre 1996 e 1998 e um dos filhos de seo Carlão, Wagner destacou que a agremiação está em dia com seus afazeres visando o desfile: “Graças a Deus nós conseguimos colocar tudo em ordem, não tem nada atrasado. Nós tivemos, no mês de abril, a eleição à presidência. Passado esse período de eleição, nós logo fechamos nossa equipe e os primeiros passos do que era necessário e pedimos ao Chico que nos apresentasse o enredo. Graças a Deus está tudo dentro do cronograma normal, não temos nada atrasado”, comemorou.
Chico deu ainda mais detalhes a respeito: “Nós temos passado no barracão todos os sábados, eu estava no processo de criação dentro da minha casa, no meu estúdio. A gente desenhou tudo lá. Agora, a gente está indo para o barracão. Hoje eu tive uma reunião na minha casa com os ferreiros. Sábado a gente começa a testar o movimento de abrir e fechar que eu quero para a comissão-de-frente. Mas já começamos a fazer roupas. Eu sou muito afoito, eu sou muito ansioso. Eu quero para ontem. Para o carnaval, isso é ótimo”, brincou.
Falando no carnavalesco…
Com cinco títulos no carnaval, sendo quatro em São Paulo (três do Grupo Especial, nos anos de 1998, 1999 e 2008; e um do Grupo de Acesso I, em 2020), todos no Vai-Vai, Chico Spinosa foi muito celebrado por Zóio: “Quando veio a aproximação por meio de um dos nossos ferreiros do barracão que também ajuda no Vai-Vai, ele aceitou essa ideia – e adorou a ideia de estar aqui no Peruche. Nós ficamos muito lisonjeados, é um orgulho ter o Chico conosco e é um prazer. Ele conseguiu trazer para nós, aqui, toda a experiência de seus quase 40 carnavais de avenida”, vaticinou.
Próximas datas
Vagnão aproveitou para destacar os próximos dias em que a peruchada estará reunida: “A partir de hoje nós já estamos entregando a sinopse. A escola está aberta, todos podem concorrer. Nós vamos receber sambas até o dia 29 de agosto. E, aí, vamos fazer uma final no dia 07 de setembro. A comissão de carnaval, junto com o carnavalesco e com a comunidade, vai escolher. Vamos fazer primeiro uma peneira e vamos levar para a final três sambas. A comunidade vai concluir essa missão com a gente”, finalizou.