Por Eduardo Frois e fotos de Fábio Martins

De volta ao Sambódromo do Anhembi após dez anos, a Unidos de São Miguel abriu a noite de desfiles do Grupo de Acesso II com boa estética visual e muita energia. O destaque da exibição ficou por conta da beleza e do cuidado com as fantasias, além da bateria Swing da Nitro. A Tricolor do Extremo Leste paulistano apresentou o enredo “Um príncipe negro na corte dos esfarrapados”.

Comissão de Frente

A indumentária da comissão de frente da São Miguel simbolizava a realeza africana Onze componentes que utilizavam fantasias em tons de preto e bege, com detalhes em vermelho e muito brilho dourado. Dois integrantes vieram na mesma paleta de cores que o restante do segmento, porém com roupas distintas dos demais.

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Um desses integrantes carregava uma coroa dourada e vermelha, enquanto o outro utilizava um elegante traje inspirado nas estamparias características da arte ancestral da África. O traje desse último componente, em determinado momento da dança, exibia o trecho do samba: “Vossa majestade, Rei da Ralé”.

A coreografia foi executada pelo grupo de forma precisa e dinâmica, intercalando movimentos rápidos, com outros mais lentos. O ponto alto da apresentação é a coroação do grande homenageado pela escola, Dom Obá. Destaque para o cuidado com a maquiagem dos integrantes, que não se desfez durante o desfile. O cadarço do sapato de um dos componentes se desamarrou ao longo da avenida, mas não prejudicou a evolução de sua dança.

Mestre-sala e Porta-bandeira 

O casal Pedro Trindade e Laís Andrade desenvolveu a sua coreografia com elegância, em passos seguros para apresentar o pavilhão da tricolor do Extremo Leste paulistano. Unindo graça e desenvoltura, eles vieram representando a “África, Mãe Terra” dentro do enredo. A passagem da dupla pelos módulos de julgamento ocorreu sem contratempos.

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A luxuosa fantasia do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos de São Miguel simbolizava a riqueza presente no continente africano. O casal vestia uma roupa em tons terrosos, com bastante búzios, pedrarias e brilho dourado. Pedro utilizava um costeiro com penas marrom, que tambem estavam presentes na saia de Laís. Ambos também tinham na composição de suas vestimentas um recorte de uma estampa de zebra.

Enredo

A Unidos de São Miguel trouxe para a passarela do samba paulistano a história de Cândido da Fonseca Galvão, conhecido popularmente como Dom Obá. O personagem principal do enredo ganhou notoriedade como militar do Exército Brasileiro durante a Guerra do Paraguai, chegando a ser amigo de D. Pedro II, o imperador da época.

O contingente inicial da escola veio todo inspirado na ancestralidade da realeza africana, uma vez que Dom Obá é neto de Abiodum, o rei do Império de Oió. A partir da segunda ala, a São Miguel passou a contar a trajetória de seu homenageado no Brasil, do nascimento à sua participação na Guerra do Paraguai.

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Em seguida, o enredo mostrou a relação de amizade que surgiu entre Dom Obá e Dom Pedro II. Já na parte final de seu desfile a Unidos apresentou o “Baile da Ilha Fiscal”, momento em que Cândido da Fonseca traz consigo o povo da Gamboa (a chamada Pequena África) para o baile da corte imperial, tornando-se o príncipe dos esfarrapados.

O enredo da São Miguel foi assinado pelos carnavalesco Alexandre Callegari e Natanael Serra (afastado por motivos de saúde).

Alegorias

O carro abre-alas da Unidos de São Miguel veio com o brasão da escola à frente, contornado por uma iluminação de fios de led vermelho. Em seguida, três esculturas de corpos negros tocando atabaque, além de uma grande escultura representando toda a suntuosidade e realeza africana. O carro estava predominante nas cores marrom, dourado, amarelo e laranja; com um belo acabamento em materiais como palha, búzios e estamparias. A parte traseira continha ainda um grande rosto dourado.

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A segunda alegoria da agremiação da Zona Leste trazia um grande bonde à frente, decorado em azul e dourado, com uma destaque em cima, com sua fantasia nas mesmas cores. Dois postes de luz no estilo clássico, um de cada lado, completavam a parte frontal. Já a saia do carro foi revestida com as cores verde e amarelo, em referência à bandeira nacional. Uma grande coroa, dourada por fora e azul por dentro, compunha a parte superior central, enquanto a parte traseira tinha duas esculturas e três bandeiras do Brasil na época do Império.

Fantasias

A escola apresentou um belo conjunto de fantasias. A primeira ala da Unidos de São Miguel trouxe para a avenida um estandarte representando o Reino de Oyó. A fantasia veio nas cores laranja e branco, com detalhes em marrom e dourado, combinando com a paleta de todo o primeiro setor da escola. O sertão nordestino foi tema da segunda ala, que trazia componentes com chapéu de cangaceiro e diversas fitinhas coloridas.

Destaque para a luxuosa roupa da ala das baianas, que representou a Pequena África. O tradicional segmento da escola veio nas cores branco e verde, com detalhes de acabamento em dourado, o que proporcionou um belo efeito visual quando elas giravam na avenida.

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A ala 8, “Voz do povo nos jornais”, também apresentou uma bela indumentária, nas cores branco, dourado e laranja claro. O costeiro da fantasia dessa ala trazia uma replica da capa do jornal Gazeta de Noticias.

As últimas duas alas da São Miguel chamaram atenção pela diversidade. A ala 11 “Cultura do povo negro no Rio mesclava nas fantasias de seus integrantes as cores de tradicionais escolas de samba carioca (verde e rosa da Mangueira, vermelho e branco do Salgueiro, azul e branco da Portela). Por fim, a ala 12 simbolizou a “Corte dos esfarrapados”, inspirada no enredo “Ratos e Urubus larguem minha fantasia” da Beija-Flor em 1989

Harmonia

A Tricolor do Extremo Leste desfilou no Anhembi com cerca de 800 componentes divididos entre 12 alas e 2 carros alegóricos. Em geral, a escola cantou o samba-enredo ao longo de sua passagem na avenida. Porém, algumas alas como a ala 5 “Alferes Galvão – Voluntários da Pátria” e a ala 7 “Elos com a corte imperial” poderiam ter se empenhado mais para entoar o hino da São Miguel para este carnaval.

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Samba-enredo

O samba-enredo da São Miguel foi conduzido com excelência pelo intérprete Jorginho Soares e toda a sua ala musical. O que fez com que a escola mantivesse a sua animação incial ao longo da passarela. As bossas realizadas pela bateria “Swing da Nitro” também contribuíram para que os dois refrões fossem cantados com mais intensidade pelos componentes. A foi composta por Jorginho Soares, Renne Campos Liso, Marcio Biju e Andherson Cicinho.

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Evolução

A Unidos apresentou uma evolução correta e uniforme ao longo do sambódromo do Anhembi, sem apresentar grandes clarões na pista. A única ressalva ficou por conta de um leve espaço entre o carro abre-alas e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, enquanto eles se apresentavam no primeiro modulo de julgamento. A alegoria seguiu em frente, obrigando os dois a se exibirem em movimento. A São Miguel fechou seu desfile sem acelerar o passo para passar dentro do tempo regulamentar.

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Outros Destaques

Quem esteve presente no Anhembi para ver a abertura do carnaval paulistano assistiu à uma grande apresentação da bateria “Swing da Nitro”, de mestre Wallace. O segmento da escola ajudou a impulsionar o samba-enredo e a contagiar os componentes da escola.

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A rainha da bateria Samanta Castro desfilou com uma fantasia dourada com um costeiro de penas vermelhas. Enquanto a madrinha da bateria Indy Garcez vestia uma fantasia laranja, vermelho e preto, com o corpo a mostra.