A fria noite da última quinta-feira revelou mais um enredo para o carnaval 2026 na cidade de São Paulo. Na tradicionalíssima quadra da rua Carminha, a Unidos de São Lucas apresentou à comunidade e ao mundo do samba um tema que será apresentado no Anhembi na próxima temporada. Intitulado “Meu Tambor É Ancestral – Heranças e Riquezas de Um Povo… Um Brasil de Festas Pretas”, uma apresentação será desenvolvida pelo carnavalesco Anselmo Brito.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Enredo em conjunto

Em entrevista para o CARNAVALESCO, Anselmo Brito, carnavalesco estreante na instituição, contou como surgiu a ideia de abordar tal tema: “O enredo surge numa conversa minha com o presidente, na possibilidade de a gente trazer um enredo que teve uma centrada de três fatores: que ele fosse algo cultural, que trouxesse uma questão de religiosidade e que lembrasse muito os dois grandes carnavais que a escola fez nos últimos dois anos. Daí surgiu a ideia e nasceu o enredo sobre o tambor. que seria um grande enredo. Vamos falar de ancestralidade, vamos fazer um grande cortejo na avenida por um dos instrumentos mais importantes que existem, através de Angalu e toda a espiritualidade vinda dele”, destacou.

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Sobre o orixá citado pelo carnavalesco, vale destacar que existe uma série de denominações para a entidade ligada ao tambor: Angalu, Ayanalu, Ayagalu, Ayan, Ayon ou Ayan Agalu são algumas das outras nomenclaturas comumente utilizadas.

Narrativa

Anselmo também explicou qual recorte usado para desenvolver o enredo: “Mais do que nunca, vamos enfatizar a importância do povo preto e das festas deles. Tanto é que vamos apresentar no nosso desfile festas para o povo preto. Nós vamos mostrar muito do tambor no Brasil, mas vamos começar com o nascimento do tambor, em solos africanos, através da raiz de uma árvore. Dessa árvore se faz o primeiro tronco. E esse tronco vem, junto com os nossos ancestrais, com o povo preto, dentro do navio negreiro. Ali ele aporta em solo brasileiro e viaja por todas as nossas regiões. Ele também é instrumento de festividades – logo, vamos trazer o tambor na capoeira, no boi-bumbá, no frevo, vamos descer o Pelourinho, vamos com o Olodum e vamos terminar com o tambor dentro daquilo que há de mais importante, que a nossa maior manifestação cultural hoje: o carnaval, que é o nosso palco”, frisou.

Aprovação imediata

Se o enredo, mais do que foi aprovado, surgiu após uma conversa com o presidente Nanão, o principal mandatário são-luquense elogiou os rumores que a escola tomou para o ciclo carnavalesco: “A ideia do Anselmo é perfeita. Eu nunca tinha conversado com ele antes, eu apenas ouvia falar dele nos vai e vem da FUPE. não é só uma ideia: a plástica que ele está apresentando também está. A gente está trabalhando, os pilotos já estão prontos, logo mais a gente vai estar apresentando. A gente já está dando andamento nas nossas alegorias na FUPE porque o carnaval é daqui a seis meses.

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Vale destacar que a FUPE, citada pelo presidente, nada mais é do que o apelido da Fábrica do Samba II, espaço em que as escolas dos Grupos de Acesso I e II da Liga-SP confeccionaram como alegorias próprias.

O dirigente também se orgulha das últimas questões desenvolvidas pela escola, aclamadas também pelo mundo do samba pela densidade cultural de cada uma delas: “Eu entendo todos os temas. Os chamados CEP, os patrocinados…, mas eu tenho, com a minha essência, com o meu povo, essa responsabilidade de trazer a ancestralidade, de trazer a parte religiosa. Nós somos a escola de samba, nós somos a extensão de um terreiro. A gente tem que trabalhar para esse povo. Vai ter um momento em que a gente vai fazer um tema diferente. a responsabilidade de levar tudo isso na cultura. Uma ancestralidade, uma religião. E mostrar que o carnaval também é para o povo preto e para o povo pobre. É para todos. Todos. Sem distinção de raça, credo, religioso, profissão, opção sexual. O carnaval é para todos”, refletiu.

Próximos passos

Anselmo destacou que o planejamento da escola está a plano vapor e já com carros alegóricos sendo preparado: “Hoje a gente está em um processo importante. A gente já faz dois meses de desenvolvimento, já temos os nossos pilotos prontos. Toda a parte artística da escola eu já desenhei, todos toda a escola já está no papel, já fizemos os pilotos. Agora, a gente já está partindo para o barracão, para as alegorias e também para a produção. Pode ter certeza, pode esperar um grande carnaval. A São Lucas vai adentrar a passarela do samba não só numa grande festa, mas numa manifestação. Eu digo que o tambor só vem realmente exaltar mais ainda o trabalho cultural da nossa escola”, afirmou.

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Nanão também explica os próximos dados importantes ligados à agremiação: “Queremos sentar com os compositores já no final da próxima semana para fazer uma explicação do que a gente quer. Vai ter, sim, um final de samba-enredo – e vai ser nesse formato tradicional de escolha. Isso agrega muito para a escola e isso faz com que continue viva a função do compositor de escola de samba. Nada contra quem encomenda, nada contra quem vai lá e escolhe um samba com os amigos. Mas o nome já diz tudo: escola de samba. Ela ensina e, ao mesmo tempo, ela aprende. Quando o compositor vem, dá a canetada e passa para nós, nós estamos aprendendo, também, logo mais, o aniversário da escola (que completa 45 anos dia 22 de agosto) e o final de samba-enredo. de São Paulo”, finalizou.

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Cronograma

Desde quando a reportagem chegou à quadra, chamou a atenção o clima de terreiro no local. Fumaça, atabaques, máscaras africanas e todos os vestidos de branco davam a entender que o tema teria algo ligado à cultura africana. E, antes de qualquer apresentação da escola em si, quem também se fez presente foi a Escola de Curimba Tribo de Zambi, executando pontos de orixás.

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Após a apresentação, que também teve a participação da Bateria USL, comandada pelo mestre Andrew Vinícius, a exibição do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da instituição, Erich Sorriso e Victoria Devonne, foi a hora do presidente Adriano Freitas, popularmente conhecido como Nanão, e outros diretores falaram um pouco sobre o que viria.

E, então, veio o vídeo que apresentou o enredo. Logo depois, mais algumas palavras de nomes importantes da agremiação da Zona Leste paulistana – como é o caso de Anselmo Brito. Para encerrar, Tuca Maia, intérprete são-luquense, cantou os últimos quatro sambas da escola: “De Vila Esperança ao Centenário do Águia da Central… Seo Nenê o Baluarte do Samba, São Lucas 40 Anos” (2022, campeão do Grupo de Acesso I de Bairros da UESP); “Jongo” (2023, campeão do Especial de Bairros); “O Canto das Três Raças… O Grito de Alforria do Trabalhador!” (2024, vice-campeão do Grupo de Acesso II da Liga-SP) e o aclamado “ Ijexá ” (2025). Especialmente os dois últimos, por sinal, foram fortemente cantados pelos presentes.