Por Geissa Evaristo e Matheus Emanuel. Fotos: Magaiver Fernandes
Nem os problemas com energia elétrica provocando completa escuridão na quadra por três vezes, o que acabou acarretando em uma pane no som da quadra durante uma hora, tiraram a alegria dos tijucanos e as forças das torcidas que lotaram a quadra da Unidos da Tijuca, na noite deste sábado, na escolha do hino da agremiação para o Carnaval 2019. Com quatro belas obras na grande final, a escola escutou a “voz que vem do Borel” e consagrou a parceria dos compositores Márcio André, Daniel Katar, Diego Moura, Channel, Maia, Renan Filho, Edson Carvalho e Junior Trindade campeã pela primeira vez.
“O samba tem uma narrativa feita pelo criador, através dos olhos do pavão, é uma resposta a todas as orações que nós seres humanos fazemos por dias melhores, por uma vida mais digna. É uma grande mensagem de esperança e amor. Que cada um vista sua fantasia e espalhe o bem, divida o pão e seja feliz. É um enredo de apelo emocional,com uma bela sinopse que proporcionou aos compositores, a liberdade na criação da obra e ao grande mestre Laíla que nos motiva e inspira a buscarmos a perfeição. Esses aspectos tiveram interferência na qualidade das obras. Somos uma parceria de amigos, e apaixonados por samba. Tivemos um palco muito bom, que foi com toda garra pra essa final. Acreditamos no samba, na magia que existe no carnaval e que faz tudo acontecer de forma plena”, explicou o compositor Junior Trindade, sem segurar as lágrimas.
Compositor campeão pela primeira vez na escola do Borel, Márcio Andre explicou a equipe do CARNAVALESCO que compôs o samba para a Unidos da Tijuca por acreditar no trabalho de carnaval da agremiação e por se sentir inspirado com o enredo.
“Vim para a Tijuca não só por acreditar no grande trabalho profissional de carnaval que a Tijuca apresenta, como acredito que muitas escolas ainda não se conscientizaram de que tem que ter projeto, tem que haver objetivo. Me apaixonei pelo enredo quando vi e falei pra mim mesmo que precisava escrever para a Unidos da Tijuca. Acredito muito que a escola brigará pelo título. Nosso samba foi diferente. O grande trunfo foi a narrativa de Deus conversando com o seu filho. Pra mim que vencemos aí”, discursou o compositor campeão.
A obra vencedora foi a segunda a se apresentar na noite, logo após a passagem da obra vencedora do último carnaval dos compositores Totonho e parceiros. Já na arrancada era possível perceber o favoritismo. Muito bem defendida pelo intérprete Nêgo, porém foi a cantora mirim Giovanna que arrancou atenção no início da apresentação. Vestida de anjo e carregada pela torcida, a menina cantava em forma de oração a primeira passagem do samba que seguiu durante os 20 minutos de apresentação entoada com força pela torcida com adesão de alguns segmentos, entre eles, a harmonia.
Após tantos anos na Beija-Flor, Laíla volta para Unidos da Tijuca e pensar em conquistar títulos e fazer história na escola do Borel.
“Escolhi a Tijuca pois sei que aqui eu tenho condições de realizar um grande trabalho, é uma grande escola, que inclusive já trabalhei em 80 e 81. Pra mim não tem diferença nenhuma ( Entre trabalhar na Tijuca e na Beija-Flor). Vou trabalhar da mesma forma. O samba não vai mudar, nós tivemos três meses de audição”, disse.
Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o diretor de harmonia Fernando Costa falou sobre a chegada de Laíla e o desfile de 2019.
“A Tijuca terá apenas duas alas comerciais. Serão doadas para a comunidade cerca de 3.500 fantasias. Fui o primeiro a saber da contratação do Laíla. Se tínhamos o Pelé disponível, por que não termos o Pelé do nosso lado?”
Horta também comentou sobre a chegada de Laíla.
“O Laíla é uma personalidade do carnaval. É a pessoa que mais entende da festa. Tivemos a oportunidade da contratação e não podíamos dispensar, ele estava fora da co-irmã Beija-Flor. A Tijuca é uma grande escola e temos mais ou menos a mesma filosofia de trabalho. O trabalho que ele está fazendo é muito bom e espero que a escola tenha um sucesso maior com a chegada dele. A Unidos da Tijuca é uma escola pronta e ele é um reforço a mais para tentarmos sermos campeões”.
A festa na quadra da Unidos da Tijuca começou antes das 22h. Mesmo com a chuva que insistia em cair na noite de sábado, a quadra ficou lotada, tanto dentro, quanto na parte externa onde acontecia uma roda de samba. Representantes da Liesa, presidentes de agremiações do Rio de Janeiro e alguns do carnaval paulistano, entre eles, Mocidade Alegre, Tom Maior e Águia de Ouro estiveram presentes. Entre os ilustres, o presidente do Vasco da Gama, Alexandre Campello, que ficou no camarote do presidente Fernando Horta.
A agremiação preparou um show especial. Passistas se apresentaram em diferentes figurinos e até uma troca de roupa no estilo da comissão de frente mais famosa da agremiação durante a passagem do samba-enredo “É segredo” foi recordada. Wantuir cantou sambas antigos da agremiação que ficaram gravados na memória dos tijucanos em sua voz e até o inconfundível grito de guerra “Diretamente do Borel” emocionou o público presente.
Até mesmo os “apagões” ocorridos por problemas de energia serviram para empolgar ainda mais os tijucanos que passaram a cantar com mais força quando não era possível ouvir o carro de som da quadra. Apenas o atraso para iniciar a apresentação dos sambas concorrentes foi o ponto fraco. Isso porque houve uma pane no som oficial da quadra devido as quedas de energia. Foram 60 minutos aguardando a apresentação do primeiro samba da noite.
Novos nomes
Para o Carnaval 2019 a agremiação que está há dois anos afastada dos desfiles das campeãs do Grupo Especial terá alguns novos profissionais com a intenção de se reestruturar e voltar a ocupar o seu devido lugar. A chegada de Laíla é a maior delas. A agremiação também terá novo coreógrafo da comissão de frente, Jardel Lemos, que estreia no Grupo Especial, a nova primeira porta-bandeira, Raphaela Caboclo, o novo carnavalesco e integrante da comissão de carnaval, Fran Sérgio, além do retorno da voz inconfundível do intérprete Wantuir e da chegada da rainha de bateria Elaine Azevedo. A Unidos da Tijuca fechará os desfiles de domingo de carnaval com o enredo “Cada macaco no seu galho. Ó, meu pai, me dê o pão que eu não morro de fome”.
“A escola é maravilhosa, a equipe é fantástica e a gente se adaptou muito bem. Viemos para somar e ganhar o carnaval. Nosso serviço não é dividido, é multiplicado”, comentou Fran Sérgio.
De volta para casa, o intérprete Wantuir está radiante e poder cantar novamente na Tijuca
“É a realização de um sonho (retornar a Tijuca), tava programando isso dentro da minha cabeça, todo ano que eu vinha aqui, eu sentia muita falta dessa escola. Dessa tranquilidade que nos dá, pelo carinho, pelo respeito, pelo profissionalismo. Os anos em que eu cantei aqui foram sensacionais. Saí com a cabeça virada pra cá. O enredo é maravilhoso e nos proporcionou um grande samba”.
Casagrande é só elogios para Laíla
A bateria Pura Cadência segue sob comando de mestre Casagrande. Ele nem pensa em mudanças para 2019.
“A minha bateria em 2018 foi aquela bateria trabalhadora, que toca pra escola. É o primeiro ano em que eu vou chorar por três sambas desde que eu estou à frente da bateria da Tijuca. A chegada do Laíla só fortalece a escola, ele é um pai, um sabedor, uma entidade do samba, é um cara que sabe muito. O presidente Horta teve uma felicidade muito grande em trazer esse grande sambista pra Unidos da Tijuca”.
Para o desfile do ano que vem, a Tijuca terá um novo casal de mestre-sala e porta-bandeira. Alex Marcelino segue na agremiação e terá a companheira Raphaela Caboclo.
“Na verdade, eu acredito que tudo na vida acontece por causa de um propósito maior. Eu entreguei nas mãos de Deus, se fosse da vontade dele que eu desfilasse, eu desfilaria. Se fosse um ano pra eu ficar refletindo em casa, eu ficaria. Mas ele achou por bem eu desfilar e eu estou muito feliz com isso. Apesar de ter gerado uma expectativa por conta da gente ter dançado juntos, eu fiquei surpresa, pois já tinha passado bastante tempo. Tava até me programando para viajar no carnaval. O figurino está lindo, a gente não pode falar muita coisa, mas já podemos adiantar que está ótimo”, contou a porta-bandeira.
O mestre-sala elogiou muito sua nova parceira.
“A Rapha é 10. A gente já trabalhou junto há uns anos atrás e é uma pessoa maravilhosa. A Jack é minha amiga pessoal, já com pouco tempo de amizade, a gente criou uma afinidade incrível, eu não queria que acontecesse, mas aconteceu. Eu disse a ela que apoiaria qualquer decisão dela e foi isso, a amizade continua. Hoje a gente tem a Rapha pra continuar o trabalho”, frisou Alex Marcelino.
Como foram apresentações dos outros finalistas
Parceria de Totonho – Primeira a se apresentar na noite era impossível adentrar a quadra e não observar a “força” da parceria. Enormes cartazes foram espalhados por todos os locais e trechos da letra do samba decoravam as paredes. O comando do palco ficou com a dupla de cantores Leozinho Nunes e Tem Tem Jr. Parceria campeã do último carnaval sofreu com a pane no som da escola logo no início da sua apresentação. Após a arrancada e completarem a primeira passada do samba precisaram parar e aguardar resolver a pane do som. Mesmo com o longo tempo de espera (exatamente 1 hora), a torcida numerosa permaneceu no centro da quadra e desempenhou muito bem o seu papel. Fogos foram ouvidos no início das apresentações, no entanto, a quadra não correspondeu. Apenas alguns presentes de fora da torcida acompanhavam cantando a obra.
Parceria de Leandro Gaúcho – Obra defendida pelos intérpretes Igor Sorriso e Grazzi Brasil entrou na quadra “pesada” com muitas bolas e grande bandeiras. Foi mais uma parceira que teve torcida bastante numerosa. Em termos de torcida grande e com canto forte, aliás, nenhum dos quadro sambas finalistas deixou a desejar. Foi o samba mais “pra frente” ouvido entre os finalistas e dava a impressão de ser o ideal para o desfile da agremiação que será a última a desfilar no domingo de carnaval, no que tange a “empolgação”. Levantou o público que já demonstrava cansaço pela longa noite.
Parceria de Dudu Nobre – Quarto e último samba a se apresentar na noite foi recebido com muitos fogos. A torcida estava ensaiada e foi vestida com camisa própria do samba “10”. Defendida pelo próprio compositor, o cantor Dudu Nobre, teve apoio da voz forte de Victor Cunha, que também faz parte do carro de som oficial da escola. Com uma torcida mais “clean”, sem poucos adereços (apenas carregavam um lenço nas mãos com as cores da escola), era possível observar melhor como os componentes cantaram com força e se divertiram durante os 20 minutos de passagem da obra. No centro da quadra as ilustres torcidas do coreógrafo e da primeira porta-bandeira da Portela, Carlinhos de Jesus e Lucinha Nobre, respectivamente.