Por Geissa Evaristo. Fotos: Magaiver Fernandes
A Unidos da Tijuca está mordida e quer recuperar o seu papel de protagonista no Grupo Especial. A escola do Borel não desfila nas campeãs há dois anos e para o Carnaval 2019 trouxe Laíla, diretor de carnaval, que foi o principal responsável pelo sucesso da Beija-Flor de Nilópolis. O site CARNAVALESCO acompanhou o ensaio desta quinta-feira e pode comprovar que o canto foi exaustivamente ensaiado e correspondido à plenos pulmões pela comunidade presente. Leia abaixo nossa avaliação de cada quesito.
Harmonia
A Unidos da Tijuca que já foi apelidada pela reportagem do CARNAVALESCO de novo “rolo compressor” do Sambódromo, ou seja, a escola que passa pela pista tão forte que arrasta todo mundo, mostrou em seu ensaio técnico de quadra que ainda pode ostentar o apelido recebido. Não é segredo para ninguém que a comunidade tijucana é uma das mais fortes do carnaval carioca e que o trabalho da direção de carnaval, somado agora com a experiência e profissionalismo de Laíla, e de toda harmonia, é um dos belos exemplos de sucesso da administração do presidente Fernando Horta.
O componente da Tijuca arrepiou, cantou o samba inteiro e explodiu na hora do refrão. Sempre impulsionados pelos diretores de harmonia que lutavam contra o possível desânimo dos componentes devido ao calor. Em um determinado momento do treino, a escola separou as alas em “lado A e “lado B” com a bateria e os casais de mestre-sala e porta-bandeira no meio e fez um “duelo” de qual lado cantaria mais forte. Alguns componentes ainda acompanharam com a letra, mas a grande maioria está com o samba treinado na ponta da língua.
“Estou muito feliz que estou conseguindo realizar tudo que sempre realizei no carnaval, não quero fazer nenhuma comparação com a Beija-Flor. É uma briga de 14 escolas. Temos que trabalhar pensando naquilo que podemos realizar e o resto é pedir a papai do céu que nos ajude. Nosso samba deu certo porque os autores entenderam aquilo que queríamos, mas temos muita coisa a trabalhar até o desfile. A cada hora aparece algo na minha memória, na minha cabeça. Sou um homem com 62 anos de carnaval, lúcido, trabalhador e com disposição para surgir ótimas ideias até o carnaval”, explica Laíla.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Raphaela Caboclo estreia pela azul e amarelo em 2019 voltando a dançar com Alex Marcelino após cinco anos – os dois formaram o primeiro casal da verde e branco da Serrinha entre 2011 e 2013, mas parece que não houve intervalo. Os dois estão mais alinhados do que nunca e o que se viu no ensaio técnico de quadra foi perfeito entrosamento. A dupla ensaiou solta entre as alas da comunidade.
Visivelmente felizes, eles apresentaram um figurino num tom de cinza e azul. Pode-se perceber referências na dança à letra do samba-enredo nos trechos “escute a voz que vem do Borel”, “olhos do pavão” e “sou eu”, quando toda a escola levanta as mãos. Destaque para os movimentos rápidos e muito precisos do mestre-sala.
“Não digo só por mim, mas acho que por todas as pessoas que trabalham sério no carnaval ou em qualquer outra função, ninguém joga pra perder e a gente vem com esse gás total no reencontro da parceria. Encontrei aqui na Tijuca uma condição de realizar o meu trabalho como eu nunca vi. Estou muito feliz e acredito que essa pressão que todo mundo diz funciona pra gente como força e como fator motivador pra gente filtrar em energia e dar o nosso melhor sempre. Desde que foi escolhido o samba começamos a desenvolver a nossa apresentação. Tivemos nas últimas semanas o apoio do nosso mestre Laíla que vem nos dando uma direção”, declarou Raphaela.
“No ensaio de quadra a gente faz mais um trabalho a dois, uma limpeza, uma finalização e consertamos algumas coisas. Na rua focamos na coreografia, no deslocamento, na parada e nos tempos de jurados e dá um gás maior. É uma preparação mais acirrada para o desfile. Na quadra é gostoso porque a gente dança solto, junto com a comunidade, todo mundo te abraçando. Trabalhar com o Laíla tem sido maravilhoso. Ele senta com a gente e corrige as coisas. Estamos aprendendo muito com a direção dele. O Fernando e toda a equipe de carnaval também são excelentes. Aqui foi a melhor escola por onde já passei”, confessou Alex Marcelino.
Samba-Enredo
De volta ao microfone principal da Tijuca, Wantuir teve, de acordo com ele, o prazer maior de conduzir um dos melhores sambas para o Carnaval 2019. A obra, elogiada e muito cantada pelos componentes, ainda será mais ajustada até o dia do desfile. Laíla ao final do ensaio treinou apenas o carro de som com a bateria. Para o profissional, algo estava fora do tom e o ensaio só terminaria após o ajuste. E assim foi feito. O carro de som da Unidos da Tijuca contará com cinco vozes de apoio e três cordas, além do microfone principal.
“O ensaio é pra gente aparar as arestas. Trabalhar com o Laíla é isso aí. A gente aproveita o momento para pegar a experiência e aprender. A Tijuca de hoje é mais técnica do que a Tijuca da minha outra passagem. Antigamente, era mais coração, dez anos depois percebo uma escola mais experiente, mais ousada, depois de ganhar alguns campeonatos. Temos um dos menores carros de som da Avenida, mas é um carro de som que já trabalha junto há muitos anos. Ter um material de trabalho como esse samba de 2019 é o sonho de qualquer cantor, ter nas mãos um dos melhores sambas do próximo carnaval”, afirmou o cantor.
Bateria
A Pura Cadência é umas melhores baterias do carnaval, não restam dúvidas. Mesmo com um ensaio alongado, os ritmistas sustentaram muito bem o ritmo. O andamento de 146 BPM (batidas por minuto) será o utilizado pelo mestre Casagrande no desfile com 272 ritmistas. No ensaio pode-se perceber que o “break retomado” será o grande trunfo tijucano no desfile. Uma rápida paradinha na bateria dará espaço para a comunidade mostrar o seu canto e ficar ainda mais impulsionada após a retomada do ritmo.
“Tecnicamente na bateria não muda quase nada. Os naipes são os mesmos, o andamento é o mesmo (146). Hoje tivemos a primeira experiência com a bateria completa. O Laíla por ser perfeccionista como eu para o ensaio toda hora, ele sabe bastante e a gente também sabe um pouco, então, estamos trocando experiências O samba é muito bom e a gente está precisando fazer um grande desfile. O grande lance bateria da Tijuca é o “break retomado” que a comunidade terá a responsabilidade junto com a bateria. Isso demanda muito ensaio porque se uma ala atravessar o canto, todos seremos prejudicados. É uma parada rápida para escutar o canto com uma retomada emocionante no “Oh, meu pai”. Temos mais três convenções musicais, mais elaboradas que são obrigatoriedades para os jurados”, explicou Casagrande.
Outros Destaques
A ala de baianas é um espetáculo à parte. As senhoras mostraram energia mesmo com o calorão que invadia a quadra. A ala de passistas também mostrou seu samba no pé até o fim. Participaram do ensaio todas as musas e a nova rainha de bateria Elaine Azevedo. Destaque para o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira que chegou cedo e levou o treino à sério.
“A Tijuca terá apenas duas alas comerciais. Serão doadas para a comunidade cerca de 3.500 fantasias. O que muda basicamente de um ensaio de quadra para um ensaio de rua é o espaço e o calor. É necessário incentivar ainda mais o componente por conta dessas condições. Nesses primeiros ensaios priorizamos o canto apenas. O componente da Tijuca sabe que tem que cantar. Hoje tivemos um bom contingente, mas não é possível provisionar quantidade. A partir de janeiro iremos para a rua”, revelou o diretor de harmonia Fernando Costa.
A Unidos da Tijuca será a última escola a desfilar no domingo de carnaval do Grupo Especial em 2019 com o enredo ‘“Cada macaco no seu galho. Ó, meu Pai, me dê o pão que eu não morro de fome” de desenvolvimento da comissão de carnaval formada por Laila, Annik Salmon, Hélcio Paim, Marcus Paulo e Fran-Sérgio.