A Unidos da Ponte realizou um desfile baseado na emoção. Isso porque a escola foi uma das mais afetadas pelo incêndio na fábrica Maximus Confecções, em Ramos, perdendo grande parte de suas fantasias. Para entrar na Avenida com o enredo “Antropoceno”, que fala sobre a relação do homem com o planeta Terra, a agremiação contou com uma comunidade empenhada, que ajudou a reconstruir as fantasias com base no que foi recuperado da tragédia.
“São João de Meriti tem uma comunidade muito aguerrida, que foi para dentro da quadra e para os espaços de ateliês e ajudaram com força braçal para fazer com que a escola hoje viesse digna. Com a força deles conseguimos vestir todos os componentes para passar aqui na avenida. Estamos olhando aqui e vendo a comunidade feliz e digna, vestida, completinha, com malha. Isso é legal, porque eles não imaginavam isso”, comenta o carnavalesco Guilherme Diniz, um dos responsáveis por desenvolver o enredo da escola.
“Todo mundo foi dando um pouquinho de si para reconstruir tudo. Uma baiana ajudava com uma costura, a outra a colar os adereços, e acredito que foi assim em todas as alas. Foi a organização e a união que fizeram a força”, relata a baiana Silvinha Ramos, de 52 anos, moradora de Petrópolis, que, apesar de não ser conterrânea, tem um carinho especial pela Ponte, escola que já desfila há anos.
Um dos temas abordados no enredo da Azul e Branca é a relação do capitalismo com a destruição do meio ambiente. Para fazer essa comparação, a bateria veio representando os trabalhadores da extração de petróleo, que é uma das principais fontes da exploração desenfreada de recursos naturais no mundo atual.
“Eu acho que dá para interligar muito a temática da nossa ala com a questão do incêndio, que aconteceu em decorrência de uma negligência. As duas situações são negligências do governo, do Estado, tanto para o carnaval, quanto para o país em si, porque o desmatamento e a exploração fazem mal para a sociedade. É um problema cultural e geológico” explica a chocalheira Linda Inês Garcia, de 26 anos.
A auxiliar administrativo Bárbara Arthur Moura, que desfilou pela primeira vez pela Ponte, falou sobre o sentimento de passar pela Avenida sem competir, neste carnaval.
“A situação é muito delicada, pois foi um ano inteiro dedicado a estre projeto. Todo mundo se esforçou, para chegar 15 dias antes e perder todo o trabalho feito, que combinariam tanto com os carros que estão tão bonitos. É bem triste, não só para a ponte, mas para a Bangu e para a Império Serrano também. Mas, ao mesmo tempo, é bonito, porque mesmo com a escola vindo sem competir, os componentes estão querendo desfilar com garra. Eu, pelo menos, estou vindo bem animada. É triste saber que mesmo vindo magnífica, a escola não vai ganhar ponto, mas estamos aqui, resistindo nesse momento difícil”, diz com orgulho Bárbara de 26 anos, moradora de Magalhães Bastos que desfilou na ala 14.
O compositor Théo de Meriti acredita que a adversidade sofrida pela agremiação, dias antes do desfile oficial, serviu para unir ainda mais a agremiação.
“Nós viemos para conquistar o campeonato, mesmo sem estarmos na corrida por ele esse ano. Podem ter certeza que ano que vem a gente vem muito mais forte”, garante o compositor do samba-enredo, Théo de Meriti, que acredita que a adversidade serviu para fortalecer a escola.