A São Clemente provou que tem garra e está preparada para enfrentarqualquer adversidade. O carro de som da escola teve um problema mecânico e não conseguiu chegar na Avenida Atlântica, em Copacabana, local onde foi realizado o ensaio do último domingo. Sem deixar se abater, a Preta e Amarela de Botafogo contou com uma bateria preparada e o forte canto dos seus componentes para dar um show na orla mais amada do país.
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![União faz a força! São Clemente volta às origens em ensaio cheio de garra em Copacabana 1 saoclemente emcopa 3](https://carnavalesco.com.br/wp-content/uploads/2025/02/saoclemente_emcopa_3.jpg)
O intérprete Tinguinha, que não pôde puxar o samba, não lamentou o ocorrido. Em vez disso, ele afirmou estar ainda mais orgulhoso da comunidade: “Tenho certeza que para o próximo ensaio acertaremos isso e faremos ainda melhor do que fizemos hoje. Quando não temos carro de som o jeito é ir no gogó, não é mesmo? O episódio de hoje serviu para a nossa escola mostrar que tem condição de chegar lá na avenida e fazer bonito, cantando bastante. A São Clemente está vindo preparada e com pessoas firmes no samba, que vão
cantar dessa forma lá na Sapucaí, tenho certeza”.
Além do ensaio ser importante para a reta final do Carnaval 2025, ele também é especial, pois representa a volta da escola às suas origens na Zona Sul carioca.
“Estamos agora na Presidente Vargas, mas a São Clemente é fundada em Botafogo, e sempre teve uma forte comunidade oriunda de toda a Zona Sul. Nunca podemos perder o direito de ensaiar aqui. Não podemos deixar essa magia acabar. O povo daqui sente falta disso. Eles querem uma brincadeira, uma farra, porque na avenida é mais sério. Eu acho que o nosso maior compromisso hoje é levar alegria e brincar para caramba”, disse o presidente Renatinho Almeida Gomes.
Neste ano, a agremiação sai em defesa dos direitos dos animais com o enredo “A São Clemente Dá Voz a Quem Não Tem”, que incentiva a adoção e mostra os pets como amigos. Para isso, ela uniu esforços com a ONG Paraiso dos Focinhos, que existe há 14 anos. Atualmente, tem cerca de 500 animais resgatados, que convivem em três sítios em Guaratiba, um para cavalos, um para cachorros e outro para gatos. O CARNAVALESCO conversou com a presidente da ONG, Hanri Soares, que contou como está sendo essa parceria.
“Nós resgatamos os animais mais ferrados da rua e levamos para cuidar. Nossa luta é para dar um lar feliz a eles, por isso essa parceria com a São Clemente tem grande importância. Quando soube que ela vinha com essa pauta, eu mesma me convidei para participar do projeto. Teremos uma ala inteira, com 60 fantasias, que virá falando sobre a proteção e defesa dos animais, só com a galera que realmente gosta de animal”.
Renatinho é um desses apaixonado por pets. Seu melhor amigo é Fred, de quem ele fala com muito carinho: “Eu gosto para caramba de bichos. Estou com 62 anos, e nos últimos nove, tive cachorros. Já tive dois rottweilers, pastor alemão, pequinês, depois buldogue francês, e agora estou com o Fred, que é vira-lata. O adoro, ele até dorme na minha cama”.
Comissão de frente
A comissão de frente vem com uma coreografia muito interessante, que abordará os maus-tratos aos animais de rua. O coreógrafo David Lima deu detalhes do que veremos na Sapucaí.
“Os bailarinos virão representando esses animais. A ideia é colocar os humanos no lugar deles. O homem que maltrata o animal, está maltratando a si mesmo. Nossos bailarinos visitaram um hospital de cachorros, onde procuramos um adestrador que nos passou o olhar dos animais. É fascinante ver como aqueles seres nos dão tantos sinais, mesmo sem terem voz. É emocionante”.
Ele ainda conta o que podemos esperar de novidade no desfile: “Estou muito feliz muito feliz de estar realizando esse trabalho e tenho certeza que o público vai se emocionar muito. Estamos ensaiando quatro vezes por semana. No ensaio de hoje vocês verão 98% do nosso trabalho pronto, só iremos acertar os detalhes. E vou revelar uma surpresa para vocês: também teremos um tripé maravilhoso, que já está em fase de acabamento”.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Alex Marcelino e Thais Romi demonstrou experiência e profissionalismo com movimentos bem executados. Com carisma para dar e vender, eles cativaram o público. A dupla considera o ensaio de rua uma experiência indispensável para a preparação para o Sambódromo. “É muito importante nessa reta final. A plateia aqui nos ajuda a ter mais gás e nos faz querer mostrar mais, o que é muito bom para a escola. Além de tudo, é um privilégio estar aqui em Copacabana, mostrando a força da Zona Sul”, diz a porta-bandeira.
“Ensaiar no meio das pessoas é melhor ainda, porque no desfile tem muita gente. Se inibirmos alguma coisa, temos que jogar para fora agora. Aqui estamos perto dos turistas e dos cariocas que também irão nos ver lá na avenida. Espero que essa galera corresponda.”, complementa o mestre-sala.
Sobre a performance oficial, Thais garante que eles seguirão com uma “dança mais solta, leve, bem alegre, com romantismo e sem muita coreografia”.
Harmonia
O canto precisou ser puxado pelos componentes da escola, o que não foi um problema, pois todos estavam com o samba-enredo na ponta da língua. Mas quem ficou com a missão de conduzir a galera, dessa vez, foi o mestre Marfim, da bateria, que fez um ótimo trabalho. Ele atribuiu o sucesso à experiência que construiu nos últimos meses de ensaio.
“Estamos na final, aproveitando esse ensaio de rua para colocar em prática o que a desenvolvemos ao longo desses últimos seis ou sete meses de trabalho. Buscamos valorizar e enaltecer tanto o samba quanto a melodia, até porque os arranjos da bateria aí são em cima dessa melodia, e isso faz com que tenhamos uma harmonia entre o canto, a bateria e, obviamente, a evolução da escola”.
Samba
Com uma letra que gera identificação popular ao mencionar figuras conhecidas, como o vira-lata caramelo, o samba diverte e emociona.
“É um samba que já vem crescendo muito e está sendo bem aceito pela escola, graças a Deus. A letra e a melodia me permitem passar alegria para as pessoas. O entrosamento com a bateria já parece vir de anos, pois eu e o mestre Marfim escolhemos um samba que já vínhamos conversando sobre há muito tempo, e agora botamos em prática. E está dando certo!”, se gaba o intérprete Tinguinha.
Outros destaques
A escola foi puxada pela bateria. Passou bem, em um tempo dentro do estimado, sem grandes buracos ou embolações. Os diretores de cada ala estavam empenhados em deixar tudo organizado. Tudo isso resultou na aprovação do público, que contava com turistas de todas as partes do mundo.
“Foi maravilhoso, eu quero que tenha todo final da semana”, diz, empolgada a professora de Educação Física Selma Brito, de 60 anos, moradora de Copacabana, que assistiu tudo acompanhada pelos amigos.
“Achei o ensaio incrível. Foi uma abertura de carnaval onde pudemos prestigiar a São Clemente, que é maravilhosa, e está vindo com essa mensagem de respeitar os animais, que são como filhos para as nossas famílias”, complementa o arquiteto Ramon Nunes, de 47 anos, também morador de Copacabana.
“Mais que isso, adorei o fato dela estar abordando a relação de São Francisco com os animais, que é algo muito mais amplo. Transborda muito amor”, fez questão de ressaltar a publicitária gaúcha Nilda Schneider, de 63 anos, que diz vir todo ano para o Rio nessa época do ano. “Adoro o carnaval carioca. Amo brincar e dançar com todo mundo nas ruas e amo as escolas de samba. O ensaio de rua une essas paixões”.