Por Gustavo Lima e Will Ferreira
A Independente Tricolor apresentou na noite de domingo o samba-enredo que irá embalar a escola no desfile de 2024. A festa, realizada na quadra, começou pela tarde e encerrou com a apresentação da trilha sonora, cantada pelo novo intérprete oficial, Chitão Martins. Assim como em 2023, a agremiação optou por fazer a obra por encomenda. Os compositores responsáveis pelo hino são Evandro Bocão, André Diniz, Maradona e Chitão Martins.
O evento também contou com outro fator importante para a Independente. A porta-bandeira Thais Paraguassu teve que se desligar da agremiação por estar grávida, e, nesta noite, recebeu homenagens da diretoria e do mestre-sala Jeff Antony. Além disso, ela passou o pavilhão oficial para a sua substituta, Graci Araujo, em uma grande cerimônia junto ao presidente do conselho, Danilo Zamboni.
Além disso, houve a apresentação de um grande conhecido da comunidade. Rafael Pinah, intérprete que não desfilou pela escola no último carnaval, agora fará parte do carro de som da Independente Tricolor.
Planejamento
Luciana Moreira, diretora de carnaval, disse que a ideia de fazer os sambas encomendados é totalmente pensando tecnicamente. De uma forma geral, a escola já está antecipada perante ao regulamento de 2024. De acordo com Luciana, o estudo e a sinopse foram fundamentais.
“A ideia foi exatamente essa na construção do samba: Não abrimos eliminatórias justamente para fazer como pede a parte técnica do carnaval e como pede a nossa comunidade. A ideia foi muito bem elaborada e estudada para atingir corações e nota. A nossa ideia do samba encomendado é antiga, já que há muitos anos a Independente não faz eliminatórias. Se tornou uma característica nossa. Quando estudamos um samba, conseguimos agregar sentimento e razão. Essa é a nossa ideia: De acordo com a nossa expectativa, fazer um samba dentro do que pede a nossa sinopse, sempre com muito estudo”, disse.
Com samba, enredo e tudo definido, a diretora falou sobre o rumo da escola. “Ainda vamos ter alguns eventos mensais na escola, não pensamos em ter ensaios gerais, ainda. Vamos ter alguns ensaios de quesitos, trabalhar os departamentos. Os nossos ensaios gerais serão mais para o final do ano”, completou.
Danilo Zamboni, presidente de honra e membro da direção de carnaval da Independente Tricolor, é uma das pessoas mais atuantes dentro da escola. Está sempre dando a palavra no pré ensaio, eventos e colocando a comunidade para cima. Danilo falou sobre o crescimento da Independente e projetou o próximo carnaval.
“A Independente vem forte como sempre, fazemos carnaval e chegamos em um momento de amadurecimento. Não viemos mais para fazer parte de um grupo, viemos para disputar os primeiros lugares, esse é o nosso objetivo. Sempre respeitando nossas coirmãs, a raiz do samba, mas a Independente vem para brigar, sempre pelos primeiros lugares. O mais importante em tudo isso é que a nossa comunidade está dedicada e feliz, a comunidade incorporou os guerreiros e a luta, já que passamos por ‘n’ problemas. Agora, com a colocação que tivemos no carnaval 2023, comemoramos e muito. Abrir o carnaval em uma sexta-feira e ficar em sétimo lugar, ficando à frente de tantas escolas campeoníssimas e tradicionais foi um título para a Independente. A gente tem que comemorar muito mais, o amadurecimento e o trabalho que o presidente Batata faz junto à comunidade”, declarou.
Resultado e a briga por coisas maiores
Zamboni comentou o samba. Para ele, se trata de guerreiros e, também, está muito feliz com as primeiras impressões e a recepção que a comunidade teve para com o hino da escola tricolor. “A primeira recepção da comunidade em relação ao samba agradou totalmente, superou todas as expectativas. É um samba forte, que tem que ser trabalhado porque tem muitas palavras africanas no meio, mas isso, nos nossos ensaios (e a Independente ensaia muito), nos próximos meses, vamos assimilar, se Deus quiser. Uma coisa já é importante: houve a chegada da comunidade feliz com o samba, já cantando mesmo sem saber o samba e pegando na nossa primeira apresentação. Nunca fizemos uma audição com público, então foi muito importante. Já deu para ver que é um samba forte e que a comunidade abraçou. Nossa alegria enquanto componentes, diretores, presidente, ritmistas… Todos estamos muito felizes com o samba. Também estamos muito felizes com o retorno do Rafael Pinah no departamento musical e com a chegada da Graci Araújo como primeira porta-bandeira para substituir a Thais Paraguassu por motivos de maternidade. Estamos muito bem representados. Temos que trabalhar com o pé no chão e focar no carnaval 2024, que é um carnaval de guerreiros e guerreiras”, disse.
O presidente de honra ainda falou da importância que é trabalhar em conjunto. Segundo Danilo, tudo foi feito em conjunto entre compositores e diretoria, mas sem nenhum pedido especial. Ainda aproveitou para opinar sobre a posição de desfile. A quarta colocação na sexta de Carnaval, como já analisada positivamente pelo CARNAVALESCO, fará da escola algo mais livre e confortável para o componente da Independente, planejando as primeiras colocações.
“Não houve pedido nenhum para os compositores: aqui, tudo nós fazemos em conjunto. O presidente, o departamento musical, a diretoria… agora, é só fazer alguns acertos, alguns detalhes. Foi a nossa primeira audição, com o público e com a bateria. Não fizemos isso antes. Quando falamos de acerto, não falo de samba: falo de entonação, parte musical. É o casamento. Mas, na primeira vez, já explodiu – e isso é muito positivo. E, agora, sendo a quarta escola, faremos um trabalho muito legal. Não é fácil abrir o carnaval, mas temos que estar preparados para abrir ou fechar. Mas, sendo a quarta escola nesse ano, dá para chegar mais tranquilo no Anhembi – seja componente ou departamento. Com certeza a Independente vem para brigar pelos primeiros lugares”, finalizou.
Voz do samba
O intérprete oficial, Chitão Martins, que é um dos assinantes do samba-enredo, falou como é cantar um samba encomendado e prometeu levantar o Anhembi. “Falar desse samba da Independente é só elogios. Um samba leve, valente e gostoso de cantar. Eu tenho certeza que vai emocionar todo povo do samba e vai levantar o Anhembi. Não tenho dúvidas disso. É um samba encomendado, foi a minha primeira experiência com isso. Eu achei super válido, porque a escola que encomenda o samba tem a certeza que vai sair de agrado da comunidade e diretoria”, explicou.
De acordo com o cantor, é uma obra afro que foge dos padrões. Tem uma melodia pulsante e forte. Realmente é isso. A bateria acompanha tal ritmo. “Por um samba ser afro, o pessoal espera um tom menor, com lamento, voltado para o emocional, mas essa proposta é totalmente diferente. É alegre, tem uma melodia que impulsiona a escola. Você quer estar cantando e pulando ao mesmo tempo. Pra mim é isso. É um samba que tem as minhas características, energia e agora é trabalhar para impulsionar cada vez mais a escola e brigar por posições maiores”, declarou.
Por fim, Chitão contou como está sendo a sua nova casa. “Estrear na Independente Tricolor é um deságio enorme. Subiu para o Especial e por pouco não voltou para o desfile das campeãs. Eu tenho certeza que vai ser tornar uma potência. Eu espero conquistar meu espaço, a comunidade, diretoria, fazer história, um grande desfile e ‘prepara o capacete que lá vem pedrada’”, comentou.
Bailado que promete
“Nós já tínhamos recebido antes para ter uma interação e foi amor à primeira-vista! Gostei muito porque ele tem uma pegada muito diferente dos últimos sambas da Independente quanto à melodia, acho que é um samba mais melódico e com uma cara bem diferente para a escola. Não só por conta do Chitão, que tem uma voz maravilhosa e muda bastante, mas pela canção mesmo, vai ter uma cara diferente. Quando a Independente chegar, vão falar que estamos diferentes”, disse o mestre-sala, Jeff Antony, que opinou sobre o samba-enredo.
Ainda não se sabe de fato como serão as mudanças no quesito de mestre-sala e porta-bandeira. Porém, pelas palavras e atitude, dá para notar que o casal está preparado, mesmo com o pouco tempo de parceria. Segundo Graci, o samba-enredo apresentado tem uma grande criatividade e mostrou animação ao ver. “Achei um samba bem para cima! Nesse ano, como o quesito vai requisitar um pouco mais de interação com a coreografia com foco em criatividade, achei que vai dar para criar bastante. Estou bastante animada e o samba é bastante para cima, então dá para ter bastante desenvoltura para inovar. Gostei bastante!”, comentou a porta-bandeira.
Novamente Graci se mostrou tecnicamente bastante correta. Falou de bossas, pegada afro e entre outras coisas que se deve considerar ao olhar um bailado em análise dentro do quesito. “Já estamos pensando em algo especial e diferente, com certeza. Quando escutamos o samba pela primeira vez, em alguns trechos, o Jeff falava coisas que ele achava bacana de fazer e eu também pensava em entradas e saídas de acordo com a melodia. Já vislumbramos bastante coisa. Como temos um ano bastante intenso para criar afinidade, já trabalhamos muito pensando no foco e já deu bom assim na primeira vez que ouvimos o samba. “Temos bossas diversificadas e vamos conseguir transitar bem nos traços do samba. Tanto em traços afro quanto em alguns mais melódicos, com interpretação e emoção. Não só a coreografia dançada em tons mais acima, tem muita interpretação também”, explicou.
“É isso! Agora é trabalhar. Em relação ao que a Graci falou, estamos muito empolgados com o samba por ele ter muita abrangência para trabalharmos muito em cima dele com uma coreografia afro, será que vem algo assim?”, completou o mestre-sala.
Composição da obra
O compositor Maradona é um dos mais experientes do Carnaval paulistano. Ele é um dos responsáveis por escrever o samba-enredo da Independente para 2024. O músico, que também faz parte da ala musical da escola, rasgou elogios ao enredo e enalteceu o sistema de encomenda. “Já fiz vários sambas em várias escolas. Essa história das Agojis é sobre o primeiro exército de mulheres africanas que não aceitaram a escravidão. Elas lutaram contra a opressão. Quando eu comecei a entender o enredo, eu achei sensacional. Tanto é que o samba saiu uma letra emocionante. Eu participei de muitos concursos e mais perdi do que ganhei, mas quando o samba é encomendado, você tem a oportunidade de fazer e mostrar para a diretoria. Se tiver alguma situação, a gente pode alterar para ficar ao gosto de todos”, disse.
Juntando um grande escritor, que é o Maradona com André Diniz e Evandro Bocão, a porcentagem de sucesso é muito alta. O compositor paulistano contou como foram as reuniões para a música sair do papel. “O ano passado eu fui até o Rio, sentamos com o André Diniz e fizemos lá. Este ano foi feito pela internet mesmo. A gente tem que tentar entrar em sintonia. O André é um compositor sensacional, escreve muito e a gente foi alinhando para sair desse samba maravilhoso”, declarou.
Como já dito anteriormente, apesar de ter sido um samba feito para os compositores, houve uma participação conjunta entre os departamentos. Segundo Maradona, houve um caso em que houve mudança. “Quando nós entregamos, houve uma observação no refrão de pé. Como fala de um enredo de liberdade, nós não tínhamos dado ênfase nisso. Apenas no exército africano. Nós mudamos apenas isso. ‘sou Independente… um grito de liberdade”, finalizou.
Na sexta-feira de Carnaval, a agremiação será a quarta escola a passar pelo Anhembi com o enredo “Agojie, a Lâmina da Liberdade”.