No Carnaval 2024 houve um grande debate sobre as transmissões dos desfiles das escolas de samba. Nas últimas semanas, circularam informações pela internet de que a TV Globo, detentora dos direitos de transmissão do carnaval do Rio e São Paulo, mudaria novamente seu estilo de comunicação ao público. Neste ano, a emissora praticamente abandonou o jornalismo que sempre fazia e deu ênfase aos influencers junto às escolas com o objetivo de atrair mais audiência. Entretanto, não deu certo. O canal registrou uma das piores audiências da história e as discussões entre os sambistas é sobre o formato que não deu a devida atenção aos quesitos e a competição. O site CARNAVALESCO conversou com sambistas presentes no evento do sorteio na Cidade do Samba e questionou sobre o modelo preferido e o que falta para uma eventual melhora. Uma curiosidade é que, por unanimidade, todos falaram dos esquentas.

Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval

Esquenta da escola é importante

Luygui Silva, mestre de bateria da Vigário Geral, diz ser importante a volta do jornalismo, pois prefere assistir os bastidores. “É importante voltar o jornalismo, mostrar os bastidores da escola e voltar com aquela ideia da transmissão antiga. É muito bacana, vai ser muito legal”, declarou.

Perguntado sobre o que gostaria de colocar em uma transmissão, o músico não hesitou em falar dos esquentas. “Sem dúvidas é o esquenta. Se na transmissão pudesse mostrar para todo o Brasil, o esquenta todo dedicado à escola seria de grande importância. Acho que traria mais pessoas para o carnaval”, completou.

Três dias de desfile e a falta dos esquentas

A jovem musicista Laísa Lima exaltou os canais que sempre dão atenção maior ao carnaval e, também, enalteceu a Rede Globo e já vê um futuro promissor com os três dias de desfiles. “Nós sambistas, preferimos alguns canais no qual valorizam a gente, que não nos tirem do ar. Porém, a Globo é e sempre será a maior emissora a televisionar de maneira correta o carnaval. Agora, o Rio está com um formato de três dias de desfiles. Acredito que nada vai atrapalhar. O campeonato é maravilhoso”, comentou.

Seguindo a linha de pensamento do mestre Luygui, a profissional da música sente falta dos esquentas. De acordo com Laísa, falta pegar a emoção dos componentes antes de entrar na passarela. “Falta aquele esquenta. Vou nem dizer do Setor 1 ao boxe, mas pelo menos o mínimo ali do boxe. Aquele grito de guerra, o samba exaltação, a hora que a gente chora, se emociona… Eu sinto muito a falta disso. Eu gostaria que as pessoas entendessem o nosso sentimento de escola naquele momento”, disse.

Carnaval é alegre e do povo

José Carlos Machine, síndico do Sambódromo da Sapucaí foi bem sucinto em relação ao tema. Segundo o funcionário do local, o carnaval é do povo e tudo precisa ser mais alegre. “Eu prefiro a diversão, porque é mais alegre. Eu acho ótimo o pessoal entrevistando o público no meio da arquibancada. O carnaval é o povo”, afirmou.

Precisa-se acostumar com o novo e implementar várias novidades

O coreógrafo de ala das passistas e comissão de frente, Diego Nascimento, tem várias ideias. O profissional vai ao contrário do que muita gente pensa e apoia a ideia dos influencers dentro da transmissão. O dançarino crê que deveria ter mais tempo para esse formato se provar a valer à pena e que o público deveria se acostumar com as novidades.

“Eu sou uma pessoa que eu gosto da novidade. Ao contrário do que muita gente falou, eu gostei muito dessa nova programação de entretenimento, de colocar outras pessoas de fora. Eu acho que vieram pra agregar. Na minha opinião, pode estar havendo um retrocesso pela questão de voltar para o mesmo que todo mundo já conhece, que já era algo que eu não gostava. O que acontece hoje em dia é que muita gente está com medo do novo. Eles não estão dando tempo para poder se provar se é algo que veio mesmo para ficar e se é válido ou não. Eu acho muito que a Globo, na minha opinião, poderia fazer o que ela às vezes já fez no Multishow, que é mesclar o jornalismo e o entretenimento”, opinou.

O dançarino é mais um sambista que apoia a volta dos esquentas. Além disso, gostaria de ênfase para as alas de passistas, que é um segmento importante do carnaval. “Eu acho que todo mundo sente falta do esquenta das escolas. Além dos esquentas, eu acho que deve passar mais nas alas da comunidade, dar uma visibilidade também maior para as passistas, que é uma ala que muita gente não sabe. Eu falo porque hoje eu sou coreógrafo de ala e de alegoria da Portela. Hoje eu ajudo na comissão de frente da Viradouro. Porém, eu já fui passista. É um segmento que faz o carnaval acontecer. É um segmento que não para e não tem férias no carnaval”, disse.

Por fim, Diego comenta que gostaria de maiores bastidores, como os componentes se arrumando e a correria que existe antes da escola entrar na pista. “Falta também explicação daquele segmento, o quanto importante é para a escola de samba, para o carnaval do Rio de Janeiro. Eu acho que falta pegar o pessoal se preparando, colocando a roupa, aquela correria gostosa, aquele desespero, se o carro vai entrar ou não. Falta desmembrar mais e pegar essas alas de comunidade e saber inserir dentro da transmissão”, finalizou.