Por Allan Duffes e Marcos Marinho
A Paraíso do Tuiuti viveu uma noite apoteótica na Cidade do Samba ao apresentar oficialmente seu samba-enredo para o Carnaval 2026, mais uma vez, apostando na bem-sucedida medida de encomendar a obra aos consagrados Claudio Russo e Gusttavo Clarão, agora reforçados pelo talento do escritor e historiador Luiz Antônio Simas. Sob o enredo “Lonã Ifá Lukumi”, assinado pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, a escola mostrou força, casa cheia e energia contagiante em uma festa marcada ainda pelos shows da Beija-Flor, atual campeã do Grupo Especial, e da Grande Rio, vice-campeã. Primeira a desfilar na terça-feira de folia, o Tuiuti deu o tom de que seu hino oficial promete ser um dos grandes destaques do próximo carnaval. * OUÇA AQUI O SAMBA
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“Trabalhamos incansalvamente para fazermos esse evento. Agora, vamos dar passagem de 2025 para 2026. Aproveito para anunciar que, mais uma vez, teremos uma ala 100% trans no nosso desfile. Igualdade para todos”, disse o presidente Renato Thor.
Ao CARNAVALESCO, Simas falou como foi o convite para integrar a parceria do samba de 2026 do Tuiuti. “Recebi um convite do presidente via Cláudio Russo e Gusttavo Clarão pela minha afinidade com o tema, porque o Ifá é um tema que me interessa. Eu tenho uma relação com a religião, com o Ifá há muito tempo. A gente já vem trabalhando desde que o enredo saiu, eu e Cláudio aqui, o Gusttavo nos Estados Unidos. Nós fomos testando, como não tinha aquela urgência, que muitas vezes é trazida pela disputa, pela pela inscrição e tal, fomos testando samba, dando uma olhada na sinopse, experimentando o que funcionava, o que não funcionava e acabou saindo esse samba. Eu não sou exatamente um compositor de samba enredo. Gosto de temáticas vinculadas ao universo afro-religioso. O que a encomenda te traz, digamos, de positivo nesse sentido, é o tempo de maturação para você preparar o samba, para você testar e não tem o calor da disputa. As disputas, elas são muito intensas. Essa experiência do Tuiuti foi interessante, que é o modelo que a escola já vem adotando há muito tempo e tem dado resultado”.
Fotos: apresentação oficial do samba-enredo do Tuiuti para o Carnaval 2026
Claudio Russo também falou sobre a obra de 2026: “O Tuiuti já se tornou parte da minha família, do meu cotidiano. Esse é o oitavo samba no Tuiuti, que eu faço, e esse de uma forma muito peculiar porque a gente trouxe o Luiz Antônio Simas, que além de historiador e de um grande compositor, ele é babalaô de ifá e o ifá não é tão conhecido quanto outros componentes do candomblé aqui no Brasil. É algo mais particular e específico. A gente tenta sempre fazer o melhor para a escola e para o julgamento também. O que condensa o enredo, resume tudo, é ‘derruba os muros, quem sabe asfaltar, caminhos abertos na mão de Ifá, que o mundo entenda que o ebó vence a dor, sentado à esteira de um babalaô’. O samba todo é a consulta de um babalaô, que é o padrinho, a um iniciado. E nesse final a gente quis trazer aquela ideia que alguns constroem muros, outros constroem pontes. E a gente derruba os muros para abrir os caminhos”.
Pixulé diz estar em casa no Tuiuti
Em entrevista ao CARNAVALESCO, o intérprete Pixulé citou a importância do samba-enredo estar definido no início de agosto e revelou sua parte predileta na obra de 2026.

“Facilita para todo mundo ter o samba cedo. A harmonia pode trabalhar o canto, bateria, para o público aprender o samba mais cedo. Ele sendo confeccionado primeiro que todas as escolas, facilita pra todo mundo. Aqui é uma escola que me abraçou, comunidade me abraçou, presidente me abraçou. Me sinto em casa. Encontrei o meu caminho. Já entrei com um brilhante samba, no ano seguinte veio o Chica Manicongo, outro brilhante samba. E agora, também um outro brilhante samba. Adoro a parte: ‘Eleguá / é o dono do poder/moenda não pode mais moer/põe fogo na cana/Eleguá/Tem coco, mandinga e dendê/hoje o coro vai comer/nas barbas de Havana”.
O intérprete enalteceu a parceria com mestre Marcão e a bateria: “Virou um casamento. Pichulé, Marcão, Marcão, Pichulé. A gente agora nem pensa em divórcio. É um casamento que vai durar por algum tempo”.
Escola já terminou produção de protótipos das fantasias
Em mais um ano como responsável pelo enredo e a parte plástica do desfile do Tuiuti, Jack Vasconcelos conversou com o CARNAVALESCO sobre o enredo e o trabalho na escola.
“Esse enredo de 2026 representa trazer a palavra de Orumila para a humanidade, eu acho que é a grande missão do Tuiuti esse ano. A gente tem que aprender de uma vez por todas de que nós somos uma coisa só. É tudo uma coisa só. O que acontece com um vai reverberar no outro ou em outro lugar, nada está desconectado. Quando a gente entender que nossas ações causam reflexos, acho que já vai ser meio caminho andado para a gente resolver muita coisa”.
O artista explicou a importância do Tuiuti ter trocado de barracão na Cidade do Samba. “É um barracão que é mais espaçoso. A gente tem um espaço maior para trabalhar. Estamos com uma uma disposição melhor nesse, porque o nosso antigo dava um pouquinho mais de dificuldade, principalmente, com as alegorias. Vamos ter um ganho em montagem de alegoria. Já terminamos os protótipos das fantasias. A gente está entrando agora em reprodução e alegoria a gente está indo para a terceira já. Estamos indo bem. Está tranquilo”.
Jack contou como é sua participação com os compositores na elaboração do samba-enredo do Tuiuti. “A gente se entende muito bem, ele (Claudio Russo) já saca das coisas que que eu quero dizer, ele já pega de longe. É uma parada que parece que a gente se conectou em sonho. A gente não chegou a verbalizar, mas a gente se conectou no sentimento, na ideia, entendeu? Quando o tema é entendido, quando ele é absorvido pelo artista, todo mundo ganha e não tem erro, porque não tem erro em arte”.
Novo barracão facilita a logística
Leandro Azevedo, diretor de carnaval, foi questionado como melhorar o canto da comunidade, que é tão criticado pelos jurados nos desfiles do Tuiuti.
“O Simas (compositor) já fez uma palestra para a ala da comunidade explicando como é a letra do samba. As pessoas vão estar sabendo o que vão cantar, entendendo a mensagem do estão cantando. A escola aposta muito no entendimento do samba pela comunidade, valorizando nossa comunidade, para a gente poder construir um canto forte, coeso e que a escola consiga passar muito bem na avenida”.
O diretor de carnaval explicou o que já foi feito no novo barracão do Tuiuti na Cidade do Samba. “Não é só mudança de barracão, é mudança de ciclo. Claro que o novo barracão é logisticamente melhor, porque ele tem quatro portões. O outro, apesar da gente já tá acostumado, eram dois portões, e agora são quatro portões. Isso ajuda na logística da escola. É uma mudança para que a Paraíso do Tuiuti consiga os resultados que a gente quer, que é voltar no desfile das campeãs. Já colocamos o barracão com a cara do Tuiuti, com a cara do presidente Thor. Daqui a uns 10 dias mais ou menos vamos iniciar a fabricação das fantasias para o Carnaval 2026. Tudo dentro do planejado. Está tudo muito leve no Carnaval do Tuiuti. Ter o samba logo no início de agosto acelera o processo da escola. Já é uma característica nossa, e, como já temos o samba, vamos iniciar o recadastramento da comunidade a partir de semana que vem. Já temos o ensaio de quadra. Ou seja, temos mais tempo para ensaiar a escola do jeito que a gente quer”.
Casal está conectado
Novo casal de mestre-sala e porta-bandeira do Tuiuti, Vinícius e Rebeca, conversaram com o CARNAVALESCO. A dupla falou sobre a fantasia de 2026, o trabalho em cima do samba e a característica da dança de cada um.
“Desde o momento que o Vinícius chegou para dançar comigo, a nossa conexão foi imediata. Agora eu posso afirmar que nossa dança pegou uma conexão muito forte e parece que a gente já vem dançando há bastante tempo. Assim como vocês estão ansiosos, também estamos bastante ansiosos para poder ver nossa fantasia. Mas ainda não nos foi mostrado. O samba mexeu muito com a gente. E cada momento das palavras e do enredo, é uma condição muito forte que a gente inventa uma coisa que é nossa identidade. E a gente tá trabalhando bastante em cima disso pra poder arrasar”, comentou a porta-bandeira.
“Eu sempre admirei a Rebeca, até quando eu ia visitar o Tuiuti, quando ainda era mestre-sala de outra agremiação, eu sempre admirei a postura, a forma como ela expressava a dança dela. E, agora, dançando com a Rebeca, isso fica cada vez mais nítido para mim. Ela transforma a dança em fácil, a condução com ela é de uma forma muito clara. E ela tem habilidade. Sem contar que ela linda, maravilhosa, inteligente… Eu que me sinto pressionado em ter que estar a altura dela. O Jack (carnavalesco) é um cara incrível. É um exímio profissional. Ele deixa a gente à vontade. Mas ainda não conversamos, não sabemos nada sobre a nossa instrumentária. Já temos uma reunião marcada. O samba encomendado é uma facilidade. Quando a gente já tem esse samba, ajuda a gente no planejamento”, completou o mestre-sala.