Por Diogo Sampaio e Allan Duffes

A Unidos do Porto da Pedra abriu as portas da sua quadra, ainda na noite de sábado, para realizar a final do concurso de samba-enredo para o Carnaval de 2024. De volta ao Grupo Especial do Rio após mais de uma década, o Tigre de São Gonçalo promoveu uma grande festa, que contou com o show dos segmentos e presença massiva da comunidade. Mais do que uma decisão da disputa, o evento serviu para celebrar à volta da escola ao seu devido lugar e mostrou as credenciais de quem busca ir além da mera briga para permanecer na elite da folia carioca.

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Fotos de Allan Duffes/CARNAVALESCO

O ápice de toda essa celebração foi justamente o anúncio do samba escolhido, que ocorreu já com o dia claro, na manhã deste domingo. A obra composta pela parceria de Guga Martins, Passos Júnior, Gustavo Clarão, Lucas Macedo, Leandro Gaúcho, Clairton Fonseca, Richard Valença, Gigi da Estiva, Abílio Jr., Marquinho Paloma, Cristiano Teles e Ailson Picanço foi a escolhida e irá embalar na Marquês de Sapucaí o enredo “O Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular”, de autoria do enredista Diego Araújo e do carnavalesco Mauro Quintães. O tema tem como proposta celebrar o saber popular, além de narrar a história do almanaque escrito na Espanha e que veio parar no Brasil depois de 200 anos, se tornando o livro mais lido pelo povo nordestino. A vermelha e branca de São Gonçalo irá abrir os desfiles no domingo de carnaval, dia 11 de fevereiro, sonhando em quebrar os estigmas e fazer história.

‘Sarrafo é alto, mas vai ser a partir da gente’, promete presidente de honra

“Quero agradecer a toda a comunidade que proporcionou a gente voltar para o Grupo Especial. Estou há 11 anos aqui e o prefeito anterior quase acabou com a escola, então se hoje estamos no topo temos que agradecer muito a esse homem conhecido como Capitão Nelson (prefeito de São Gonçalo), que vestiu a camisa da Porto da Pedra. Aliás, essa história de que a Porto da Pedra está brigando para não descer, esquece. A gente vai brigar para voltar no sábado das campeãs, podem acreditar nisso. Segunda-feira, vocês vão ver os protótipos na quadra e constatar que não estamos de brincadeira. O sarrafo é alto, mas vai ser a partir da gente. Vamos botar para ferver na Marquês de Sapucaí. Iremos abrir o Carnaval e fazer o maior desfile da história da Porto da Pedra”, disse Fábio Montibelo, presidente de honra da Porto da Pedra.

Compositores emocionados

“Essa vitória representa um sonho. Só tenho que agradecer a minha comunidade. Somos campeões pela segunda vez, a primeira foi com o enredo sobre Mãe Stella de Oxóssi e agora, nessa volta da minha escola para o Grupo Especial, a gente conseguiu emplacar mais uma obra. Espero que tenha outras vitórias no futuro, mas sinceramente não contava nem com uma na minha vida e já é a segunda. Agradeço muito ao presidente de honra, Fábio Montebelo, que é um cara que muita gente fala coisa, porque não conhece. O Fábio Montibelo, quando fala, cumpre. É uma pessoa de palavra. Ele nunca me prometeu nada, mas prometeu para escola e a colocou novamente onde deveria estar. Muito orgulho de ter essa conquista neste momento. A palavra é agradecer. A única coisa que tenho a dizer é obrigado, para todo mundo”, disse o compositor Guga Martins.

“Essa escola me abraçou, me recebeu como um filho. Eu já havia ganhado o samba de 2022 e, agora, com a escola voltando ao Grupo Especial, eu volto a ganhar. Então, é uma alegria indescritível. Gosto do refrão do meio: só porque eu escolhi navegar por esse mar! A viola perguntou para o santo do lugar: responda, meu sinhô, será que é amor? Meu povo vai passar”, revelou o compositor Leandro Gaúcho.

“Essa é a voz de uma comunidade que quer vir desfilar e ficar no Grupo Especial. Portanto, a nossa vitória, neste contexto, não tem endereço. Chegar e ouvir essa comunidade cantando o nosso samba, ver esse povo todo emocionado, confiante, é algo indescritível. Já ganhei uma disputa no ano sobre Mãe Stella, mas hoje é diferente. É um outro momento da escola, que está ciente, que quer ficar, quer disputar, e vamos mostrar isso na Sapucaí. E como diz o nosso samba, ‘tanta gente esperou por esse dia'”, completou o compositor Ailson Picanço.

Ensaios de rua em dezembro

O diretor de Carnaval da vermelha e branca de São Gonçalo, Aluízio Mendonça, conversou com a reportagem do site CARNAVALESCO e comentou sobre a importância de antecipar a escolha do hino oficial. A partir dessa definição, de acordo com ele, os ensaios de quadra já terão início na próxima semana, enquanto os treinos na rua deverão começar em dezembro.

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“Ter o samba definido desde o mês de agosto é muito positivo, porque nós já vamos sair na frente e começar a ensaiar mais cedo que as outras escolas. E como o nosso ensaio técnico na Sapucaí é dia 07 de janeiro, então nós já teríamos que antecipar os trabalhos, não tinha jeito. Então, iniciamos o ensaio de quadra na quinta-feira que vem, já o de rua vai ser no início de dezembro. Nós ainda estamos vendo com a Prefeitura de São Gonçalo de liberar a Rua Doutor Feliciano Sodré para gente ensaiar. A ideia é fazer ali partir do número 100, em frente a sede da Prefeitura, no Rodo”, afirmou o diretor.

Aluízio Mendonça também falou sobre o retorno do intérprete Wantuir para agremiação. Além de rasgar elogios, o diretor de Carnaval relembrou a primeira passagem marcante do cantor pela escola, quando defendeu o microfone oficial entre os carnavais de 1995 e 1998.

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“Trabalhar com o Wantuir é fácil, o difícil é trabalhar com a gente. Brincadeiras à parte, é um cara muito tranquilo, faz o que a gente precisa, colabora, está sempre junto com a gente e não coloca empecilho em nada. Não dá problema nenhum. E o retorno dele agora foi muito interessante, até porque em 1996, na primeira vez que estivemos no Especial, desfilou junto com a gente, assim como o Mauro [Quintães, carnavalesco]. Então, é muito importante, muito simbólico, resgatar esse pessoal lá de trás, de quando nós começamos”, pontuou.

Análise das apresentações na final

Parceria de Guga Martins: O primeiro samba a se apresentar foi o da parceria de Guga Martins, Passos Júnior, Gustavo Clarão, Lucas Macedo, Leandro Gaúcho, Clairton Fonseca, Richard Valença, Gigi da Estiva, Abílio Jr., Marquinho Paloma, Cristiano Teles e Ailson Picanço. Com a condução do intérprete Pitty de Menezes, a obra teve uma alta performance na final da disputa promovida pelo Tigre de São Gonçalo. A torcida se mostrou bastante animada e realizou diversas coreografias. Eles estavam ornamentados com pequenas lanternas nas mãos, que utilizaram para fazer alguns efeitos com as luzes, além de bandeiras nas cores vermelha e branca. A parceria também fez uso de fogos de artifício no palco e um dos pontos altos ocorreu quando Pitty de Menezes foi para o meio da galera. O intérprete não deixou o canto cair e brincou com os torcedores, chegando até mesmo a fazer um trenzinho. Em relação ao canto, se observou maior força nos refrões, em especial o refrão principal. Outro destaque nessa parte musical é que os compositores trouxeram um sanfoneiro. O instrumento deu uma pitada tipicamente nordestina para a apresentação e casou bem com a obra.

Parceria de Rafael Raçudo: Dando prosseguimento nas apresentações, a parceria de Rafael Raçudo, Junior Fionda, Lequinho, Cláudio Mattos, Júlio Alves, Márcio Rangel, Jedir Brisa, R.Gemeo, Sílvio Mesquita, Anderson Lemos, Jorge Arthur e Fernando Macaco foi a segunda a ocupar o palco na final da disputa realizada pela Porto da Pedra. Com o intérprete Wander Pires no microfone principal, o samba melodioso teve como destaque o refrão principal, além do trecho de subida para ele com os versos “Ô cirandê! Ô cirandá!/Sou Antônio repentista do Lunário Popular”. Com bandeirinhas da escola, a torcida pulou e fez coreografias durante os 20 minutos de apresentação. Em dois momentos, um enorme bandeirão foi aberto em cima da galera. A parceria trouxe ainda um mascote para animar o pessoal presente na quadra, no caso um tigre laranja com luzes pisca-pisca enroladas pelo corpo da fantasia. Assim como na primeira parceria, houve o uso de fogos de artifício no palco. Apesar do espetáculo promovido pelos compositores, a quadra demonstrou uma reação tímida ao samba, com poucas pessoas entoando a obra fora da torcida.

Parceria de Paulinho Poeta: A obra assinada por Paulinho Poeta, André Aleixo, Muca, Barreirinha, Marquinhus do Banjo, Gugu das Candongas e Cabelinho foi a terceira a se apresentar na decisão. O intérprete Ito Melodia foi o responsável por conduzir o samba e levantou a galera presente. Apesar de não utilizar da mesma pirotecnia das duas parcerias anteriores, os torcedores não fizeram feio e vieram com balões e bandeiras nas cores da escola, além de bastões de luzes coloridas. Eles vibraram e cantaram durante toda a apresentação, sendo que os momentos de maior explosão ocorreram no refrão principal, com os versos “De São Gonçalo vem toda magia/A poesia hoje sai do cordel/Com muita garra cheguei pra ficar/Há ‘esperançar'”. Um ponto alto aconteceu quando, assim como Pitty de Menezes, Ito Melodia desceu do palco e foi para o meio da galera. Todavia, mesmo com esse show promovido pelo intérprete e pela torcida, a maior parte da quadra apenas assistiu a apresentação.

Parceria de Vadinho: A parceria de Vadinho, Arlindinho Cruz, Diogo Nogueira, Zé Alex, Marcão, Robinho Porto, Denil, Claudio SG, Thierry Alves, Carlos de Solza, Fabio LS e Isaías Demócrito foi quem encerrou as apresentações na final da disputa promovida pela Porto da Pedra. O intérprete Tinga foi o responsável por conduzir o samba, tendo o reforço luxuoso do também intérprete Chitão Martins, vindo diretamente do Carnaval paulistano, mais exatamente da Independente Tricolor. O samba melódico não se arrastou em nenhum momento e teve um desempenho linear ao longo dos 20 minutos. O destaque ficou com o refrão principal, dos versos “Brilha o sol e gira a lua, deixa girar/A ciranda se mistura à profecia popular/Meu padim São Gonçalo/Olhai por nós/O meu tigre é ascendente, brincante e ferroz”. Quanto à torcida, com bandeiras estilizadas da escola, eles demonstraram grande empolgação, entoando o samba durante toda a apresentação. Houve a utilização de canhões de luzes coloridas, que deram um toque especial.