A noite de sexta-feira, dia 30 de agosto de 2024, entrou para história das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Após um “tenebroso inverno”, sem a festa de apresentação dos enredos, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), sob a gestão do presidente Gabriel David, realizou novamente a “Noite dos Enredos”, dessa vez, na Cidade do Samba, com um público de 8 mil pessoas, entrada grátis, sendo recorde total de pessoas em eventos no local que abriga os barracões das agremiações.

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Foto: Divulgação/Rio Carnaval

Ao CARNAVALESCO, o presidente Gabriel David revelou que a festa entrará de vez no calendário anual da Liesa. Empolgado com a repercussão, o dirigente revelou também que os minidesfiles para o Carnaval 2025, vão acontecer em três dias, novamente na Cidade do Samba, e estão previstos para o começo de dezembro, em data que ainda será divulgada pela Liesa.

Balanço: festa dos enredos do Grupo Especial do Rio para o Carnaval 2025

“O Carnaval 2025 terá uma diversidade cultural incrível nos enredos. Ver a Cidade do Samba lotada nessa época do ano, com as agremiações e o público vivenciando essa magia de perto, é motivo de muita alegria”, comemorou o presidente da Liesa, Gabriel David.

Como é perfil da nossa cobertura apresentamos abaixo um panorama de cada apresentação, que teve 12 minutos por escola, na “Noite dos Enredos”.

Unidos de Padre Miguel: A escola da Vila Vintém abriu a festa. Foi bem didática na explicação do enredo “Egbé Iya Nassô”. Através de um vídeo a proposta foi exibida, com uma narradora passando por diversas etapas do tema. Foi possível ver a força das mulheres na apresentação e como essa energia será fundamental no desfile. O Boi Vermelho não usou pirotecnia, pelo contrário, foi cirúrgico ao apresentar o desenvolvimento do que será visto no domingo de carnaval em 2025. Mexeu com o público ver o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Vinicius e Jéssica, com o pavilhão no “altar” do Grupo Especial do Rio. Linda homenagem no vídeo também para todas figuras importantes da escola, principalmente, a comunidade, que estava com seus rostos no telão.

Unidos da Tijuca: A escola mostrou toda potência do enredo que possui para o desfile do ano que vem. Somando desfiles e apresentações em eventos, como o minidesfile, fazia tempo que não percebíamos a Tijuca com tanta vontade. Ótimo sinal para 2025. O momento emocionante foi quando um menino do Borel recebeu o pavilhão tijucano do casal Matheus e Lucinha. Arrancou milheres de aplausos dos presentes. Depois, o cria da comunidade foi no embalo do batidão e a Cidade do Samba “caiu dentro” fazendo a “Tijuca virar baile”. Com uma das melhores safras de sambas-enredo do ano é possível o tijucano sonhar alto.

Mocidade: O clima esquentou com o samba de 2024 cantado antes do início da apresentação. Foi uma overdose de alegria no público. A escola optou por não revelar quase nada do enredo “Voltando para o futuro – não há limites para sonhar”. Fez uma apresentação baseada na dança do talentoso casal Diogo e Bruna e a performance do intérprete Zé Paulo, que deu show de caracterização, simulando o homem na lua, mas com a pavilhão da Mocidade. Ele cantou sambas históricos e vencedores da Estrela Guia, acompanhado dos passistas e da rainha Fabíola de Andrade. O mascote Castrozinho deu o charme da exibição. Dois robôs interagiram no palco. Agora, se projetarmos o desfile, mesmo na base do achismo, é possível pensar que a Mocidade pode emocionar lembrando do passado de glórias e títulos, resgatando seus melhores momentos no futuro.

Paraíso do Tuiuti: Exibição fantástica do “Quilombo do Samba”. A escola de São Cristóvão foi didática ao explicar o enredo “Quem tem medo de Xica Manincongo?”. Leitura fácil do enredo e dedo na ferida no tom correto. Um dos momentos mais impactantes foi quando um integrante, crucificado, foi “queimado”. Certamente, o Tuiuti pisará na Sapucaí com um dos melhores e principais enredos do ano. Com o samba já encomendado e apresentado, o intérprete Pixulé cantou a obra, comprovando ainda mais sua perfeição na letra e capricho na melodia. Apresentação vibrante e que gerou um entendimento fácil da proposta da agremiação. Sem dúvida, uma das melhores da noite.

Beija-Flor: a escola de Nilópolis vive outro clima. O momento é especial. A homenagem para Laíla trouxe a força costumeira de uma das maiores campeãs do carnaval carioca. Para falar de um dos maiores sambistas da história, no enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os Sambas”, a exibição teve fé, dança vibrante, e o ritual do menino, discípulo de Xangô. O vídeo arrancou aplausos do público. Cada imagem remetia ao mestre Laíla. Aliás, o encerramento com o casal Claudinho e Selminha, o intérprete Neguinho da Beija-Flor e o esquadrão de Nilópolis é a certeza que Laíla estava lá e estará na segunda-feira de carnaval na Marquês de Sapucaí. O cara que doutrinou a comunidade nilopolitana receberá um lindo tributo com sede de vitória e redenção.

Mangueira: A Verde e Rosa levou muito a sério a festa dos enredos de 2025. A apresentação começou com muita dança e representatividade. Houve capricho nos figurinos e leitura da exibição. Trabalho muito forte do carro de som. Quando a música “Sorriso Negro”, de Dona Ivone Lara, foi cantada, muita gente ficou emocionada na plateia. A escola não deixou de cantar um de seus melhores sambas-enredo, “100 Anos de Liberdade, Realidade Ou Ilusão”, de 1988, e que teve no palco a dança do casal Matheus e Cintya. Para enfeitar ainda mais a apresentação foram levadas grande pipas para o público. A Mangueira mostrou que quem é raiz tem o domínio da narrativa. Ela pode, porque é preta, é Mangueira e sempre será o Jequitibá do Samba.

Vila Isabel: A escola caprichou na exibição no palco e no vídeo do enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”. Uma super produção de Paulo Barros, do diretor artístico, Fábio Costa, e equipe. Foi o momento em que o público na Cidade do Samba parou a maior parte do tempo para filmar a atração. Figurino e dança impecáveis. O ator Rodrigo Sant’Anna foi o protagonista. Em uma performance engraçada, ele se agarrava em amuletos, mas enfrentava assombrações. Em um dos momentos, os integrantes tiravam suas roupas e apareciam como “esqueletos dançantes”. Show puro da escola do bairro de Noel. Houve quem reclamasse da exibição não ter “quase nada” da cultura brasileira, principalmente, a trilha sonora, mas a proposta de fazer um espetáculo, através do enredo, foi atingida com êxito. Mais uma vez, como no lançamento da sinopse, Paulo Barros participou da performance, foi ovacionado pelo público, e deixou no ar que tentará novamente surpreender e deixar o Sambódromo embasbacado com seus truques e assombrações.

Portela: A maior campeã do carnaval carioca levou um grande musical sobre Milton Nascimento para a Cidade do Samba. A abertura já emocionou com Gilsinho cantando. Passaram ainda Teresa Cristina e Roberta Sá. O encerramento foi com o homenageado, presencialmente, no palco. Exibição de gala portelense. Deixou no ar um sentimento que a manhã da quarta-feira de cinzas será de muita emoção na Marquês de Sapucaí. Já é bom separar os lenços para chorar de emoção e felicidade. A primeira impressão é que o portelense pode acreditar em um resultado especial em 2025. A exibição foi fantástica, e, se levarmos em conta, apenas a emoção, não teve para ninguém. Deu Águia na cabeça!

Salgueiro: apresentação muito potente do Salgueiro na Cidade do Samba. O coreógrafo Paulo Pinna foi o narrador da exibição. Dança vibrante e figurinos exuberantes. Leitura fácil do enredo. História de fé, repleta de riqueza cultural. O intérprete Igor Sorriso e o carro de salgueirense conduziu com maestria todas músicas. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei e Marcella, no início, recebeu a benção de Tia Glorinha, como aconteceu no lançamento da sinopse. Aliás, o mestre-sala estampa a camisa-enredo de 2025. A maravilhosa passista, Maryanne Hipólito, apareceu como Maria, figurino deslumbrante. O Salgueiro deixou no ar, em uma das melhores apresentações da noite, a certeza que vai vir forte no desfile de 2025.

Grande Rio: a escola fez uma apresentação muito respeitosa com a cultura de Belém. O samba estendeu o “tapete vermelho” para o carimbó. Impressionou a qualidade musical da escola de Caxias. Mestre Fafá, Evandro Malandro e a equipe do carro de som deram espetáculo. Os diretores artísticos da escola, crias da comunidade, mostraram muito talento e estudo no desenvolvimento de uma apresentação da cultura típica da região norte do Brasil. A Grande Rio levou até um barco para o palco da Cidade do Samba. A exibição foi muito correta e alinhada com o enredo. Teve leitura. Foi bonito e simbólico o casal Daniel e Taciana dançando ao som do carimbó. O vídeo no telão agregou leitura para a dança na apresentação do enredo. Nas mãos dos craques, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, o enredo “Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós” tem totais condições de gerar um desfile para brigar forte pelo título do Grupo Especial.

Imperatriz: A atual vice-campeã do Grupo Especial caprichou na apresentação do enredo “ÓMI TÚTU AO OLÚFON – Água fresca para o senhor de Ifón”. O intérprete Pitty de Menezes, monstruoso, mostrou porque é hoje o principal cantor do carnaval carioca. Impressionante a afinação e o talento para cantar, principalmente, o “Emoriô”. Espetáculo também foi o balé, coreografado por Sabrina Sant’Ana e Márcio Dellawegah, que exibiu a ancestral coreografia associada aos ritos iorubás. Aliás, o figurino era tão exuberante que já poderia ser utilizado no desfile oficial. Emocionante, no fim da apresentação, a cigana, personagem do vice de 2024, passar o pavilhão gresilense para as mãos do orixá que agora é o protagonista. Alto nível a exibição leopoldinense. Não é mais segredo que estará sempre na briga pelo topo.

Viradouro: a atual campeã do Grupo Especial mostrou que está viva e cheia de vontade de lutar pelo bicampeonato consecutivo, que não acontece no carnaval desde 2008, a última escola que conseguiu o feito foi a Beija-Flor. O enredo “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundo” é um banho de bom gosto da dupla Tarcísio Zanon e Gustavo Melo. A exibição na Cidade do Samba teve tudo que foi pedido pela Liesa e esperado pelos sambistas: leitura, simbolismo e espetáculo. A escola conseguiu unir todos os segmentos, que formam o padrão de excelência da Vermelho e Branco de Niterói, dentro da apresentação. Em um dos momentos, eles “depositavam” adereços no altar de Malunguinho. Mestre Ciça foi ovacionado pelo público quando surgiu. Sempre atento, Marcelinho Calil, diretor executivo, acompanhou do palco toda exibição. Por mais um ano fica claro que quem quiser ganhar o carnaval tem que superar a Viradouro.