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O carnavalesco multicampeão Sidney França chegou ao carnaval carioca pelas mãos da Estação Primeira de Mangueira. Com o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negrite, entre dores e paixões”, Sidney estreia na Sapucaí conquistando os componentes mangueirenses com sua presença nos ensaios e sua plástica reconhecida.
Em seu currículo no carnaval paulistano, o carnavalesco foi responsável por quatro campeonatos pela Mocidade Alegre, sendo três seguidos (2012, 2013 e 2014) e uma quinta conquista pela Águia de Ouro em 2020. Também foi campeão no Grupo Acesso 1, pela Vai-Vai em 2023 – o que garantiu o espaço da preta e branca do Bixiga no Grupo Especial de São Paulo. Em 2024, Sidney apresentou na Vai-Vai o enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano” inspirado nos Racionais MC’s e a cultura hip hop. Neste ano, ele se divide entre a preta e branca e a verde e rosa carioca.
Componente da Mangueira há dois anos, Itaiara Andrade, de 30 anos, acompanhou os trabalhos anteriores de Sidney França e acredita na grandiosidade do seu trabalho.
“Eu já vi alguns desfiles dele lá [em São Paulo], e foram bem grande. Nós estamos esperando coisas grandes dele. Ele parece um cara bem atencioso, tanto que nos ensaios da nossa ala coreografada ele está sempre de olho, observando. Ele está atento. Estamos esperando coisas boas.”, disse Itaiara em entrevista ao CARNAVALESCO.
Rosane Barbosa, de 48 anos, já desfila na Mangueira desde 2017 e é parceira de ala de Itaiara e acredita que essa troca de experiências entre Rio e São Paulo vai fazer diferença na Avenida. Além disso, comenta a conexão do enredo com a comunidade.
“Eu achei interessante, porque ele vem de São Paulo e traz a experiência dele de lá para cá. Vai fazer uma diferença muito grande. Esse enredo é importante porque o Rio de Janeiro é de cultura banto. O jongo, por exemplo, vem dessa cultura que foi trazido dos nossos ancestrais. A Mangueira é um celeiro de bambas, de pessoas pretas que iniciam no samba desde a barriga. Trazer esse enredo na Mangueira foi estratégico.”, argumentou Rosane, mangueirense desde criança.
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As expectativas estão altas na verde e rosa. O mangueirense quer voltar no Desfiles das Campeãs como a grande vitoriosa. O estreante Jonathan Costa, de 31 anos, disse que está vivendo a melhor experiência da sua vida desfilando na Mangueira e acredita na responsabilidade de Sidney nessa esperança de campeonato.
“Achei bastante bom porque está agregando muito na nossa expectativa para resultados. Ele tem estado muito presente conosco. Eu acredito que a Mangueira vai ser campeã e ele será um dos responsáveis por isso.”, declarou Jonathan.
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A baiana Cecília Pontes, de 60 anos, também confia no trabalho do carnavalesco e conta quais são suas expectativas para o que desfilará na Avenida.
“Eu espero ver muita alegria, muito Carnaval, muita emoção, muito entrosamento com todas as alas e todos os segmentos. A sorte é nossa [de ter o Sidney na Mangueira]. Está um belo trabalho e se Deus quiser vai dar tudo certo. O povo preto é um povo sofrido, é povo que merece todo esse resgate. Hoje, falar sobre o povo banto, sobre negritude, é maravilhoso.”, comentou a baiana.
“É uma aula de História”
O enredo desenvolvido por Sidney França foi abraçado pela comunidade. Itaiara Andrade conta como foi a recepção inicial e como o enredo foi fazendo sentido ao longo do tempo.
“Esse enredo, no início, eu vi uma galera muito confusa. Porém, conforme nós vamos desenrolando, ensaiando, aprendendo as palavras, vai fazendo cada vez mais sentido. É grito de resistência mesmo. É um dos enredos que mais fez sentido para mim para se falar nesse momento, e não é porque eu sou mangueirense.”, declarou a componente.
O enredo da verde e rosa narra a História do povo banto – etnia africana de origem da maioria dos escravizados que desembarcaram no Rio de Janeiro – e suas influências na cultura carioca. O integrante Jonathan Costa entende que é um tema que precisa ser mais falado pela sociedade.
“A história do povo banto tem que ser retratada, tem que ser falada, porque ainda existe um preconceito de uma burguesia que tenta nos silenciar.”, explicou Jonathan.
Para Rosane Barbosa, o samba de Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Júlio Alves, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim é uma aula de História.
“É um samba maravilhoso porque é uma aula de História. Fala da cultura banto, carioca, chega no funk e no jongo. Fala da cultura carioca conecta com a cultura banto.”, defendeu Rosane.
Itaiara também celebra o samba e o define como “afrontoso”. O hino da escola para 2025 retrata a religiosidade banto, por meio dos inquices, a dor do povo preto durante a escravidão, mas também alfineta a população “do asfalto” que copia as tendências musicais e estéticas dos “crias do morro”.
“É um samba afrontoso! Esse samba é uma oportunidade de nós, enquanto comunidade, olhar para quem está assistindo e dar o nosso recado. Nós lançamos tendência, somos do passinho, da dança, da coreografia. O público nos vai ver fazendo isso e cantando, mandando recado para eles.”, declarou a desfilante.