Por Gustavo Lima e Will Ferreira

Doze vezes campeã do carnaval de São Paulo e vencedora de dois dos últimos três desfiles do Grupo Especial da cidade, a Mocidade Alegre definiu no último domingo, na Arena Morada do Samba, qual samba-enredo levará para o Anhembi para embalar o desfile de “Malunga Léa – Rapsódia de uma Deusa Negra”, assinado pelo carnavalesco Caio Araújo. O Samba 01 da eliminatória, composto por Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Lucas Donato, Marcos Vinícius, Márcio André, Fabian Juarez, Fábio Gonçalves, PH do Cavaco, Salgado Luz, Tomageski, Mingauzinho e Chico Maia, sagrou-se vencedor. Presente nos eventos mais importantes para as agremiações paulistanas, o CARNAVALESCO entrevistou personalidades importantes para a Morada do Samba e traz tudo para você.

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Fotos: Gustavo Lima e Will Ferreira/CARNAVALESCO

Novo título, nova emoção

Os compositores ouvidos pelo CARNAVALESCO não esconderam a alegria em vencer novamente na agremiação: “É uma das escolas mais poderosas do carnaval de São Paulo. Nós temos muito carinho pela Mocidade, por toda a história, por tudo que já fez e que ainda vai fazer. É uma escola que sempre ousa, sempre faz diferente. Vencer novamente aqui é o máximo”, afirmou Márcio Gonçalves.

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Salgado Luz relembrou as vitórias que já conquistou na agremiação: “Tudo isso é muito positivo. É uma escola que sempre vem brigando pelo título. A presidente Solange é um exemplo de gestão. Os compositores do Brasil inteiro querem ganhar o samba na Mocidade. Ganhar três vezes não é brincadeira – e eu estou muito orgulhoso por isso”, destacou.

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Outro compositor a falar com a reportagem foi Marcos Vinícius: “Eu tenho quatro sambas dentro da escola e sou bicampeão de fato (ou seja, seguidamente) agora. Cada ano é uma emoção diferente. Eu sempre acho que vou viver a última emoção da minha vida no carnaval, mas todo ano vem um novo carnaval e me mostra uma nova emoção que eu posso viver com a minha família, meus amigos e parceiros de composição. Ver meus filhos cantando o samba em uma escola gigantesca, do tamanho da Mocidade Alegre, é surreal e impagável. Eu costumo dizer que tudo isso é culpa da música. Ela que traduz tudo isso no sentido de uma comunidade. Enquanto a música for a prioridade na nossa vida e na escola de samba, nós estaremos aqui para servir com qualidade fazendo o nosso melhor”, comemorou.

Obra elogiada

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Pessoas importantes da Mocidade Alegre destacaram a qualidade da obra escolhida. Solange Cruz Bichara Rezende, presidente da instituição, foi uma delas: “Gostei da escolha! A Mocidade tinha grandes obras, quatro sambas bons concorrendo ali, páreo a páreo. A qualidade dessas obras deixou a gente bastante nervoso na hora da escolha, mas a comissão julgadora estava consciente do que queria. A gente sempre faz esse levantamento, a gente sempre busca ouvir um pouco a comunidade”, destacou.

Um evento interno para a comunidade também foi relembrado pela mandatária da Morada do Samba: “Quinta-feira a gente cantou os quatro sambas na voz do Igor, isso é muito importante para nós entendermos toda a situação. A escola também teve algumas escolhas e calhou, também, de ser igual à da diretoria. Isso deixa a gente mais seguro – eu, pelo menos, como dirigente da agremiação, como porta-voz dessa comunidade, me sinto mais seguro em saber que muita gente da comunidade também queria esse samba. Facilita muito o nosso trabalho”, comemorou.

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Igor Sorriso, intérprete da agremiação, elogiou todos os finalistas: “Antes de mais nada: foi uma safra inteira incrível! A gente fica feliz de ter uma safra tão maravilhosa, foram quatro sambas dignos de ir para a avenida. Mas, é aquilo, só ganha um – e a gente escolheu um samba que representa muito bem a nossa escola: um samba aguerrido, um samba com uma musicalidade muito aflorada. A gente está feliz, a comunidade está feliz, deu para perceber o povo cantando. Agora, vamos trabalhar rumo ao carnaval”, pontuou.

Carnavalesco da escola, Caio Araújo também fez questão de elogiar todos os finalistas: “Eu amei a escolha, fiquei feliz demais com a escolha do samba. Eu acho que é uma etapa muito importante e que deixa a gente muito tenso: não importa a gente ter o melhor visual da história e não importa as peças estarem todas encaixadas se a gente não tiver um grande samba. Eu entrei nessa final muito tranquilo porque a gente tinha quatro grandes obras, mas eu saio com a tranquilidade de que, entre essas quatro, a gente escolheu a que é perfeita para o nosso desfile”, destacou.

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Ciclo encerrado com chave de ouro

Perguntado se a escolha do samba-enredo foi a coroação para um trabalho de pesquisa e criação de enredo de muito valor, Caio fez questão de exaltar o enredista da Morada do Samba: “Eu tenho um parceiro incrível, que é uma pessoa que eu amo, que é o Léo Antan. Ele é um pesquisador incrível, e a gente tem uma energia muito parecida, que bateu desde que a gente se conheceu. A gente, quando começou o processo de pesquisa da Léa, ainda durante o carnaval de 2025, a gente tinha já a certeza do caminho que a gente queria tomar – e a gente conseguiu refletir isso na sinopse que foi entregue para os compositores”, comentou.

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Para ele, a safra como um todo reforça a ideia de que a pesquisa, a sinopse e o enredo estão com ótima qualidade: “Quando os sambas chegaram, a gente teve a certeza de que a gente fez um trabalho que foi compreendido e que foi entendido por eles. A gente não queria contar a história da carreira da Léa, tim-tim por tim-tim: a gente queria falar da importância da construção do legado dessa mulher, de como ela foi revolucionária, de como o trabalho dela impactou e influenciou para que hoje a gente tivesse tantas atrizes pretas protagonizando novelas. A gente conseguiu acertar no alvo. E esse samba também conseguiu acertar no alvo para a gente passar essa mensagem para o público que vai estar assistindo ao nosso desfile”, pontuou.

Adaptação rápida

Tal qual a presidente, Igor Sorriso também valorizou o evento anterior à final do samba-enredo, fechado para a comunidade: “Me senti muito à vontade cantando o samba! A gente faz uma audição na prévia da final, e a gente já tinha que cantar todos os sambas. É um samba com muita qualidade musical. A gente fica feliz, é claro que temos que fazer os ajustes do que a escola vai sugerir para a gente. A gente vai trabalhar muito ele até o carnaval”, declarou.

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Escolha difícil

Se muitos nomes importantes da Morada do Samba destacar a safra, como foi a escolha pela obra vencedora? Caio passou por tal questão ao falar sobre a importância da canção para a apresentação oficial da agremiação: “A música, o samba, é o que se comunica mais fácil com quem está assistindo o desfile. É o samba que ajuda as pessoas a entenderem o que são as alegorias, o que as fantasias representam e de que maneira a gente está contando essa história. É por isso que a gente fica tão tenso e é uma escolha tão difícil a eliminatória de samba. Ela influencia totalmente no resultado final. Eu sei que esse samba é perfeito para a narrativa que a gente está montando, para contar sobre o legado e a carreira da Leia. É sempre uma etapa tensa, muito cuidadosa – mas que, graças a Deus, a gente sai com a certeza de ter feito a escolha correta”, afirmou.

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Solange, ao ser entrevistada, falou sobre as pessoas que escolhiam a obra vencedora. E ela aproveitou para detalhar o papel dela em tal comissão e como a dinâmica no grupo é feita: “Meu papel na comissão julgadora é nenhum. Hoje mesmo, por exemplo, eu nem perguntei qual era o samba: cada um escreveu seu samba no papel e me entregou. Eu não pergunto porque a gente tem o Ricardo Sonzin, que faz parte da nossa comissão julgadora: ele é do departamento cultural, ele é da comissão de carnaval, então ele sempre apresenta os enredos, instrui a comissão, mostra como tudo funciona. E, aí, fica a critério deles a escolha. Também pelo fato de todos eles serem da escola, vivenciarem a escola, eles conseguem também ter a noção do que é melhor para a Mocidade Alegre”, explicou.

Partes favoritas

Duas partes da canção, em especial, foram as mais citadas quando perguntados sobre quais seriam os trechos favoritos do samba-enredo da Mocidade Alegre para 2026. Uma dessas partes foi citada por Fábio: “O refrão do meio pegou. Essa chegou forte na comunidade. Todo mundo que comentou com a gente sobre o samba falou da qualidade da obra como um todo – em especial do nosso refrão do meio. Isso nos deixou muito feliz”, comentou. Salgado Luz foi além: “Era o tema da Escrava Isaura. A homenageada, Lea Garcia, trabalhou na novela e colocamos dentro do samba. Foi uma grande sacada. Nesta parte nós estávamos iluminados por Deus”, destacou.

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Marcos Vinicius foi ainda mais detalhista: “A construção desse samba foi muito peculiar, porque, principalmente, no refrão do meio, inflamou. Foi surreal. A ideia partiu de mim e do Lucas: a gente queria colocar um trecho da música ‘Retirantes’, do Dorival Caymmi – ‘vida de negro é difícil pra danar’. Só que eu dei a sugestão de encurtar e ficou o ‘lerê’. No complemento, o Aquiles deu a ideia de colocar a frase ‘todo preto vai para o céu’, que é uma peça da Léa. Criamos tudo isso e, às vezes, a gente não consegue explicar”, comentou.

Homenagens

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Como é tradicional em escolas de samba, o evento começou com samba e pagode de roda no meio da quadra. Depois, chegou a hora do esquenta da bateria – com Mestre Sombra, comandante da Ritmo Puro, mostrando-se bastante à vontade e interagindo não apenas com ritmistas e diretores; mas, também, com a comunidade presente.

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Canções históricas da agremiação embalaram apresentações de segmentos da Mocidade Alegre – como passistas, ala das baianas e casais de mestre-sala e porta-bandeira. Na vasta discografia da Morada do Samba, “Ojuobá – No Céu, os Olhos do Rei… Na Terra, a Morada dos Milagres… No Coração, Um Obá Muito Amado!” (de 2012) e “Omi – O Berço da Civilização Iorubá” (de 2003) foram alguns dos executados.

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Também chamou atenção uma extensa homenagem para a ala Em Cima da Hora, que desfilou durante 54 anos na Mocidade Alegre e anunciou que, a partir de 2026, não estará mais enquanto grupo – que, entretanto, se mantém como grupo de amigos. Integrantes da ala receberam faixas de baluartes da Morada do Samba, que, também, receberam um pavilhão especial com o logotipo do conjunto de desfilantes e da própria escola.