Enredo: PONCIÁ EVARISTO FLOR DO MULUNGU

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Foto: Divulgação/Emerson Pereira Império Serrano

JUSTIFICATIVA

O Império Serrano tem como premissa contar os saberes do povo brasileiro. Griô do carnaval, organismo vivo, com grandes enredos musicados. Pioneira no protagonismo feminino dentro das escolas de samba, tem em sua constelação baluartes como D. Ivone Lara, Tia Eulália, Jovelina Pérola Negra, dentre tantas outras. Ainda hoje, seu contingente é formado majoritariamente por mulheres negras, reconhecendo na fibra e na resiliência femininas o potencial para superar as adversidades vividas no último ciclo carnavalesco.

A força e a vivência da mulher preta serão o foco principal do próximo carnaval. Para isso, iremos homenagear a professora, doutora em Literatura Comparada, a maior literata negra que habita o nosso tempo: Conceição Evaristo.

Escritora, poetisa e professora, vinda de uma família pobre, trabalhou como empregada doméstica antes de concluir os estudos e se formar em Letras. Sua obra é marcada pelo conceito de “escrevivência”, que valoriza as experiências pessoais e coletivas das mulheres negras. Publicou romances, contos e poesias que abordam temas como racismo, desigualdade social, ancestralidade e resistência feminina, sendo Ponciá Vicêncio, Olhos d’Água e Macabéa: Flor de Mulungu algumas de suas obras mais conhecidas. Ao longo da carreira, recebeu diversos prêmios e, em 2024, foi eleita para a Academia Mineira de Letras.

O termo “escrevivência”, criado por Conceição Evaristo, une as palavras “escrita” e “vivência” para definir uma forma de escrever que nasce das experiências de vida, especialmente das mulheres negras. Mais do que ficção, a escrevivência é uma escrita marcada pela memória, pela presença do pretuguês, pela ancestralidade e pelas dores e resistências do cotidiano, rompendo com a literatura tradicional ao valorizar vozes historicamente silenciadas. Para Evaristo, escrever é um ato político e de afirmação identitária, em que a vida e a palavra se misturam como forma de denúncia, resistência e transformação social.

SINOPSE

PRELÚDIO

“Leiam meus livros, não minha biografia.”
Conceição Evaristo

“Se essa história não existe, passará a existir.” – Clarice Lispector.

Este enredo é uma escrevivência baseado nas obras de Conceição Evaristo.

Flores de Mulungu são todos os africanos em diáspora. É a África juntando os seus em seus galhos. É a velha da sabedoria ancestral, a flor em estado de graça que enxerga o tudo e o nada. A força da mulher negra que verte em leite a seiva que dá a vida. É a criança que brinca debaixo do tronco de um mulungu, com os pés na terra, sentindo o axé. Flores do Mulungu costumam ser porta-vozes de mulheres iguais a elas. Flor do ontem-hoje-amanhã. A flor do mulungu não morre, leva consigo a potência da vida. Força motriz de um povo que, resilientemente, vai emoldurando o seu grito contra o sistema. Nesta escrevivência-enredo, apresentamos Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu, com pitadas de realismo fantástico, em sua trajetória até se tornar uma imortal no Palácio Ancestral das Escrevivências.

I

A água bailava sinuosa entre os pedregulhos no rio. Às margens, lavadeiras cantavam, disputando espaço com peixes que subiam em marcha contrária à correnteza. Havia chovido e o sol insistia em não aparecer. O tempo fechado impedia o quarar das roupas. No quintal de chão de terra batida, ainda umedecido pelas chuvas, a mãe de Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu pegou um graveto, colocou a saia entre as pernas e desenhou um sol no chão. Cantou no afã de acordar o astro-rei que insistia em dormir entre os travesseiros de nuvens.

A menina-flor, que brincava com suas irmãs, se encantou com aquela cena. Em seu universo pueril, o graveto seria o lápis e a terra molhada, o papel. Extasiada, fitou o rosto da lavadeira que agora sorria. O sol iluminava a face, revelando qual era a cor dos olhos de sua mãe. Ela tinha os olhos da cor de Oxum, olhos d’água, oju-abebé. Espelho que refletia os olhos da menina-flor.

Consagrada à Imaculada Conceição e à Oxum, Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu havia crescido na ausência de livros e rodeada de palavras. O rito que acabara de ver sua mãe fazer, despertou em si o desejo de escrever histórias.

II

Pelos Becos da Memória, Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu passeava por espirais de ontem, paisagens do futuro cantadas há séculos. Encontrou sua ancestral Negra Halima que contou suas vivências sincréticas de Améfrica-mineira. Histórias que ecoavam dos porões do navio. Tia Halima guardava o segredo dos cabelos de ouro. Ela usava suas mechas preciosas para libertar seus irmãos.

A menina-flor aprendeu a moldar o barro com Vô Vicêncio. Quis brincar com os mascarados na Folia de Reis. Seguiu o batuque das congadas e dançou com Tio Totó, ornado em coroa e fitas. Rezou no canjerê com seu rosário feito de contas negras e mágicas. Em suas contas, um canto para mamãe Oxum.

Continuou brincando. Tinha o costume de atravessar o rio saltando de pedra em pedra, mas desta vez houve um impasse. Um arco-íris no céu uniu as duas margens. Para chegar aonde o umbigo dela e de seus ancestrais estavam enterrados, precisaria passar embaixo da cobra celeste. O medo a impediu de fazer a travessia. Já dizia Tia Halima: a menina que passasse debaixo de Angorô, garoto virava. Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu se questionou se a vida seria mais fácil se fosse um menino.

III

A vida na Favela do Pindura-Saia, onde morava Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu, era carregada de uma difícil ilusão. A favela era o encontro dos esperançosos que escolheram resistir. Como poderia coabitar prato vazio e felicidade?

Ecos de estômagos desocupados, cheios de medo, de fome e de desemprego, transformados em cantos de fé e esperança à Sabela, a mulher dos mil olhos. Deusa do barro que moldou a vida e devolveu a fertilidade ao seu povo. Findou a estiagem do rio que circunda a comunidade, doando o líquido maternal que saíra de suas entranhas.

A euforia funesta dos moradores do Pindura-Saia incomodava os que viviam fora dali. Incapazes de compreender como seria possível conviver tanta esperança com tamanha miséria, decidiram então tomar o chão ancestral. Rezaram por Benevuto, a cobra de ferro, senhor dos desastres, que fez chover até inundar a favela. Em desespero, os moradores da comunidade rogaram por Sabela. A Deusa surgiu em meio à inundação e se engerou em navio. Das curvas de Minas Gerais para as alturas do Rio de Janeiro, Sabela carregou nas costas seu povo e sua favela.

IV

Após o dilúvio, escrever adquiriu um sentido de insubordinação. Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu tornou-se professora. Entre poemas e romances, registrou as memórias da tragédia do aguaceiro e as guardou em Cadernos Negros.

Novo lugar, antigo desassossego. O menino que vendia bala no sinal recebeu de troco uma bala de sangue. Enquanto novelas embranquecem amores, mães negras enfrentam a dolorosa realidade de enterrar seus filhos antes que possam completar seus sonhos. O berço vira caixão. A infância, alvo. O futuro, estatística. As balas “acidentais”, “em legítima defesa”, certeiras em quem já nasceu condenado. O CPF do negro é escrito pelo Estado com tinta de sangue. A cor da pele virou evidência criminal. De suspeito a condenado, bastava ser preto.

O alarme da loja apita: será que foi o preto que roubou? O vizinho teve de aprender que, se chovesse, seria melhor se molhar, porque guarda-chuva poderia significar sua sentença de morte. O corpo preto objetificado na solidão de Fio Jasmim e seus amores rasos. A moça do vestido amarelo conhecia mais a cor das paredes do quarto de empregada do que as cores do seu barraco. Porém, a cor da empregada, essa todo mundo conhecia.

Quantas mulheres negras ainda serão silenciadas entre quatro paredes? Quantos assassinos dormirão tranquilos porque o patriarcado os chamou de maridos?

Ponciá-Evaristo transformou em versos a incerteza de sair da favela e não saber se iria voltar. O direito de as mães pretas exercerem o papel de mães dos próprios filhos. Vivenciou amigos e irmãos favelados serem subtraídos de seus destinos sem ter o direito de se defender do sistema que os oprime.

Perdeu Dorvi, perdeu Bica, perdeu Idalgo. Esterlinda, sua vizinha, perdeu o filho, a filha e o genro. A realidade era dolorosa e cruelmente comum.

Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu registrou tragédias cotidianas. Colocou no papel o que vivenciou em mais de sete décadas de vida no ayê. Guiada por Oxum, Maria, Conceição e Sabela, escreveu as vivências do seu povo. Vivência e criação, vivência e escrita. Escrevivência.

Dedicou a vida para não contar histórias de ninar aos filhos da casa-grande. Fez Samba-favela para incomodar e acordá-los de seu sono dos injustos. Construiu uma casa feita de livros para abrigar aqueles que, como ela, gostariam de transformar os Becos da Memória e escreviver um futuro melhor.

V

Era kizomba em noite de céu estrelado. As escrevivências romperam os muros da favela e ganharam o asfalto. Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu desabrochou para o mundo. Sua poesia atravessou oceanos, alcançou seus frutos que caíram longe do pé.

A Flor-do-Mulungu nasceu rainha. Para comemorar junto aos seus, Ponciá-Evaristo vestiu-se de água. Em sua coroa de cabelo crespo repousava um adorno de ouro, o adê: coroa de Oxum. Trazia consigo, na mão, um cetro-luneta.

Ao som de poemas-malungos, seu povo a esperava em saudação. Cantavam contra o sistema, contra a opressão, contra o racismo estrutural que assassina, diariamente, milhares de Negros-Estrelas e que retira o direito básico de viver. Cantar é feitiço que afasta o banzo. Resistir é um ato político.

A pequena casa feita de livros, sob a luz do luar, transformou-se num palácio ancestral. O que era feito de papel e tinta ganhou suntuosas arquiteturas em ouro e marfim. Dos livros saltaram para a realidade realezas, guerreiros e estátuas em tons de ébano. Ao centro, da cadeira de professora ergueu-se o trono imortal dedicado às rainhas africanas. Neste momento, como numa espiral de memórias, o ontem-hoje-amanhã se fundiu. Velha-mulher-criança, amálgama germinado em forma de Ainá-Maria-Nova, desabrochou e tomou o trono que era seu por direito. O fruto voltou ao pé.

Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu mirou a luneta para o firmamento e encontrou os Negros-Estrelas que cruzaram o seu destino. Do orun cintilava o axé de todos os seus com quem fizera um pacto de sobrevivência. Ponciá-Evaristo assumiu seu lugar na imortalidade das escrevivências negras.

Evaristo é Maria-Nova. É Anastácia. É Carolina Maria de Jesus. É Dona Ivone Lara. É Ruth de Souza. É Mãe Meninazinha. É Oxum. É Conceição Yalodê. E são todas as flores do mulungu que desabrocharam para combater o racismo, o feminicídio e o vilipêndio dos corpos pretos.

Sua trajetória em nada difere das vidas reais da maioria das mulheres pretas deste país, onde “vencer na vida” é exceção. Finais felizes para pessoas negras são raros. Cada corpo preto que respira, ama e sonha é um grito contra o sistema que nos quer mortos, calados ou domesticados. Não seremos nenhum dos três. A luta ainda não acabou. É imperativo sobreviver.

A gente combinamos de não morrer.

Texto: Renato Esteves
Edição e revisão textual: Jefferson Brunner e Jorge Sant’Anna
Pesquisa e desenvolvimento: Renato Esteves, Emanuelle Rosa e Jorge Sant’Anna da Silva.
Equipe de Criação: Emanuelle Rosa, Gabriel Toledo e Jorge Sant’Anna da Silva

NOTAS EXPLICATIVAS

A gente combinamos de não morrer – O conto “A gente combinamos de não morrer”, da escritora Conceição Evaristo, é uma narrativa curta, mas profundamente impactante, que integra a coletânea “Histórias de leves enganos e parecenças” (2016). Ele ilustra com sensibilidade e potência as experiências de dor, resistência e afeto no contexto da vivência de mulheres negras nas periferias brasileiras. O erro de concordância verbal é proposital. Segundo a autora, escrever adquire um sentido de insubordinação que pode ser evidenciado numa escrita que fere a norma culta.

A moça do vestido amarelo – O conto “A moça de vestido amarelo”, de Conceição Evaristo, aborda a experiência da menina Dóris da Conceição Aparecida, que tem uma visão de uma moça vestida de amarelo em seu sonho, relacionada com a força da natureza e a cultura afro-brasileira. A moça do vestido amarelo, em seus sonhos, representa a deusa Oxum, sendo comparada com as águas do rio. O conto explora o inusitado e a presença da tradição oral na narrativa, com a menina Dóris tendo seu vocabulário influenciado pela presença da moça.

Adê – Espécie de coroa cerimonial no candomblé pelos orixás quando incorporados num filho de santo.

Ainá-Maria-Nova – No conto, Ponciá-Evaristo-Flor-do-Mulungu se brota e desabrocha para a imortalidade como Ainá-Maria-nova. Ainá, nome da única filha de Conceição Evaristo e Maria-Nova, personagem de Becos da Memória a qual em suas entrevistas, a autora diz ser a personagem que mais se assemelha consigo.

Améfrica-Mineira – O termo “Améfrica” ou “Amefricanidade” foi criado pela intelectual Lélia Gonzalez para representar a experiência e a identidade compartilhada por pessoas negras e indígenas na América, especialmente em relação à resistência à dominação colonial e ao racismo estrutural.

Angorô – Angorô (também conhecido como Angolô ou Ongolô) é uma divindade da mitologia banto, associada à cobra arco-íris e à fertilidade. É considerado o inquice do arco-íris, que traz a chuva e, por conseguinte, a prosperidade. Angorô é frequentemente identificado com o orixá Oxumaré, que é cultuado no Candomblé, e também é visto como uma entidade andrógina.

Ayê – O físico. Lugar onde habitam os vivos. O material, o palpável.

Becos da Memória – Becos da memória é um dos mais importantes romances memorialistas da literatura contemporânea brasileira. A partir de seus muitos personagens, Conceição Evaristo traduz a complexidade humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o desamparo, o preconceito, a fome e a miséria sem perder o lirismo e a delicadeza. Representa uma obra baseada no conceito de escrevivência.

Benevuto – Personagem da novela Sabela representante tomaram as terras dos Palavís, povos originários.

Cadernos Negros – Cadernos Negros é uma série literária independente que veicula textos afro-brasileiros. Concebida por jovens estudantes que acreditavam no poder de conscientização, sensibilização e acolhimento da literatura, a série veicula até hoje, na poesia e na prosa, a possibilidade de expressar e promover a produção cultural e intelectual contemporânea, concebida e escrita por literatos pretos brasileiros.

Canjerê – Batuque de candomblés e umbandas. Termo utilizado em Minas Gerais.

Casa feita de livros – A Casa Escrevivência é um espaço cultural idealizado pela escritora Conceição Evaristo, no Largo da Prainha, região portuária do Rio de Janeiro. Localizada na chamada “Pequena África”, área de grande importância histórica para a população negra brasileira, a Casa abriga o acervo pessoal da autora, incluindo livros, cartazes, prêmios e documentos diversos.

Das curvas de Minas Gerais para as alturas do Rio de Janeiro – Passagem do texto fazendo uma alegoria para ilustrar a ida da protagonista para o Rio de Janeiro, assim como Conceição Evaristo fez e que hoje mora no Morro da Conceição.

Dorvi, Bica, Idalgo e Esterlinda – Personagens do conto “A gente combinamos de não morrer”, da obra Olhos d’água, de Conceição Evaristo. Bica, esposa de Dorvi; Dorvi, um traficante de drogas; e a mãe de Bica, dona Esterlinda, que tem dois filhos, Idalgo (assassinado) e Bica.

Enterrar umbigo – A prática de enterrar o umbigo do recém-nascido é uma tradição ancestral. No Brasil, esta prática é comum. Pode ser vista como um ato de proteção, um símbolo de ligação entre mãe e filho, e uma forma de conectar a criança com a terra e com o seu futuro.

Espiral de memórias – Segundo Leda Maria Martins, a escrita espiralar desconstrói a dicotomia entre oralidade e escrita enfatizada pelo Ocidente, que prioriza a linguagem discursiva como modo exclusivo de postulação de conhecimento. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela apresenta uma temporalidade que se curva para frente e para trás, ao redor e para cima, em movimentos espirais que retêm o passado como presente (ou presentifica o passado) para moldar o futuro. Assim, a autora descoloniza o pensamento Ocidental e requalifica a África como continente pensante.

Favela do Pindura-Saia – Cenário que ampara o conto Becos da Memória. Homônima da extinta comunidade em Belo Horizonte onde Conceição Evaristo passou a sua infância e parte da juventude.

Fio Jasmim – Personagem central na obra “Canção para ninar menino grande”, da autora Conceição Evaristo. Ele é um homem negro, conhecido por sua beleza e facilidade em atrair mulheres, com quem tem diversos filhos e que não mantém vínculos afetivos ou responsabilidades.

Mulungu – O mulungu (Erythrina velutina) é uma planta medicinal nativa da América do Sul e Central, conhecida por suas propriedades calmantes e sedativas. É utilizada na medicina tradicional para tratar insônia, estresse, ansiedade e como relaxante muscular. Dizia que os escravizados faziam o chá de mulungu para adormecer os senhores da Casa Grande até entrarem em um sono tão profundo e não acordarem mais.

Negros-Estrelas – Negro-Estrela é um poema criado por Conceição Evaristo em homenagem a seu companheiro de vida e pai de Ainá, Osvaldo Oju-abebé – União de duas palavras em yorubá. Oju, olhos e abebé, paramento empunhado pelo orixá Oxum, um espelho o qual, segundo conta a ancestralidade, Oxum se mira no espelho para ver quem está atrás. É um elo entre o presente, o passado e o futuro.

Olhos d’água – Antologia de contos de Conceição Evaristo que também dá nome ao romance mais notório dentro da obra.

Ontem-hoje-amanhã – Neologismo empregado nas literaturas de Conceição Evaristo para sinalizar o conceito de literatura espiralar.

Orun – O etéreo, o inalcançável. Onde habitam os orixás e as estrelas.

Poemas-malungos – Poemas malungos, cânticos irmãos (2011), Tese de doutorado em Literatura Comparada de Conceição Evaristo.

Pretuguês – É um conceito criado pela intelectual Lélia Gonzalez para evidenciar a influência das línguas africanas, especialmente das matrizes bantas, na formação do português falado no Brasil. Mais do que uma variação linguística, o pretuguês expressa uma identidade da cultural afro-brasileira, reivindicando um local de apropriação de identidade da população negra, e sua contribuição cultural e intelectual. Nesse sentido, expressões como “Q’eu isse” revelam não “erros”, mas heranças linguísticas africanas reconfiguradas no cotidiano e nas artes. O pretuguês, portanto, é um ato político, que valoriza os saberes negros historicamente marginalizados pela norma culta ocidental. É um processo contra colonial, contra o epistemicidio.

Realismo fantástico – O realismo fantástico, ou realismo mágico, é um estilo artístico que combina elementos do mundo real com acontecimentos fantásticos e sobrenaturais, geralmente tratados como parte normal do dia a dia.

Sabela – Protagonista que dá nome à novela que encerra a antologia de contos femininos em Histórias de leves enganos e parecenças, de Conceição Evaristo, em que a autora aproxima a personagem ao itan de Oxum.

Samba-Favela – Samba-Favela é um dos primeiros textos escritos por Conceição Evaristo. Publicado inicialmente no jornal O Diário, Belo Horizonte, esse texto é considerado pela autora como a semente de sua obra mais conhecida, o romance Becos da Memória (2006).

Tia Halima – Halima é protagonista do conto que faz referência à mitologia de Oxum no conto “Fios de ouro”, de Conceição Evaristo, parte integrante da obra Histórias de leves enganos e parecenças. Dentro da cultura ancestral afrocentrada, o vocativo “tio/tia” é utilizado para identificar os mais velhos, não necessariamente indicando um parentesco.

Tio Totó – Personagem do conto Becos da Memória em que se assemelha em escrevivências ao tio de Conceição Evaristo.

Vô Vicencio – Personagem avô de Ponciá Vicêncio, a protagonista que dá nome ao conto.

Yalodê – Em ioruba: Ìyálodè, é um termo que significa “aquele que lidera as mulheres na cidade” ou “dona do grande poder feminino”.